O livro do disco

Os caminhos do manguebeat contados na obra ‘Chico Science & Nação Zumbi – Da lama ao caos’

Escrito pela jornalista Lorena Calábria, livro com a história do clássico álbum de 1993 é o tema do programa 'Hora do Rango'

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"Já na primeira audição do 'Da lama ao caos' veio o baque: todo tipo de som que me interessava – rock, samba, funk, soul, jazz, hip hop – estava ali, convivendo com ritmos pernambucanos ainda desconhecidos para mim", afirma Lorena Calábria

São Paulo — O programa Hora do Rango fecha a semana recebendo, nessa sexta-feira (22), a jornalista Lorena Calábria, autora do livro Chico Science & Nação Zumbi – Da lama ao caos. O programa vai ao ar a partir do meio-dia, na Rádio Brasil Atual.

O livro conta a história do antológico álbum Da lama ao caos, lançado em 1993, e que apresentou para o país a “cena mangue”, uma espécie de insurreição musical e estética coletiva, mistura de rock, hip hop, funk e ritmos pernambucanos, como maracatu, ciranda e coco, que ficou conhecida como Manguebeat e alcançou projeção nacional e internacional ao extrapolar as noites de Recife.

As histórias dessa “diversão levada a sério”, como dizia Chico Science, desde as primeiras festas em Recife no inferninho Adília’s Place até o trágico acidente do líder da banda, em 1997, são contadas no livro de Lorena Calábria. A obra foi escrita partir de entrevistas com os músicos e parceiros de bandas, familiares e pessoas que fizeram parte da trajetória do álbum. No livro, Lorena resgata a atmosfera da época para dar o tom do que significou o Manguebeat, e o disco Da lama ao caos, na música brasileira.

“Como jornalista, acompanhei toda a trajetória do disco. Com anos de profissão, depois de testemunhar o surgimento do rock nacional nos anos 80, nada me empolgava muito na década seguinte. Já na primeira audição do Da lama ao caos veio o baque: todo tipo de som que me interessava – rock, samba, funk, soul, jazz, hip hop – estava ali, convivendo com ritmos pernambucanos ainda desconhecidos para mim. Mas foi no primeiro show, em 1994, como plateia, que senti estar diante de uma revolução. Música, dança, identidade visual. Periferia, tecnologia, regional, universal. Chico Science & Nação Zumbi virara minha pátria. Minha e de mais um bando. E, desde 1994, os caminhos continuam se abrindo com Da lama ao caos”, afirma Lorena Calábria.

Para a autora, o clássico álbum se transformou em algo maior que apenas um disco. Como exemplo, conta um caso ocorrido em 2010, quando estava escalada para comandar a transmissão ao vivo do carnaval de Olinda.

“Uma van levava nossa equipe até o local. Logo se tornou impossível trafegar por aquelas ladeiras já abarrotadas de foliões. Estávamos parados há algum tempo quando percebi que, cercando o veículo, havia gente coberta de lama, da cabeça ao pés. Um rosto se aproxima da janela e repete meu nome. Não o reconheço. Só vejo dois olhos arregalados no meio da confusão. ‘Sou eu, Hamlet’, disse, agarrando no meu braço. De fato, era ele, Hamlet. O hospitaleiro rapaz de nome shakespeareano que me atendeu no balcão da Bodega de Véio, ali mesmo em Olinda, dias atrás. Aperto sua mão lamacenta e suplico: ‘Ajude a gente a passar! Temos que entrar no ar em meia hora.’ E assim o caminho foi aberto graças ao Bloco Mangue Beat – o bloco da lama. Desde 1996, os foliões se lambuzam com argila molhada antes de saírem pelas ruas de Olinda cantando músicas eternizadas por Chico Science. Diante daquela visão, como uma epifania, me veio a constatação: Da lama ao caos já não era apenas um álbum, é conceito, ideia, dínamo, ânima. E todos que desse espírito se imbuíram são capazes de operar milagres enquanto coletivo”, conclui a autora.

O programa

Hora do Rango, apresentado por Colibri Vitta e premiado pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), recebe ao vivo, de segunda a sexta-feira, ao meio-dia, sempre um convidado diferente com algo de novo, inusitado ou histórico para dizer e cantar. Os melhores momentos da semana são compilados e reapresentados aos sábados e domingos, no mesmo horário.

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