Protagonismo

Festival de Teatro Negro estreia em São Paulo com homenagem a Ruth de Souza

Mostra teatral teve início no sábado, no Sesc Interlagos, de onde segue até 3 de novembro, reverenciando a arte negra e uma de suas principais precursoras

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Quilombo Artístico, uma das companhias que se apresentam, destaca luta das mulheres e faz "femenagem" à Ruth de Souza

São Paulo – Neste sábado (26) e domingo (27) e nos próximos seguintes (2 e 3 de novembro), o Sesc Interlagos, na zona sul da cidade de São Paulo, apresenta o Dona Ruth: Festival de Teatro Negro de São Paulo, dando sequência à programação cultural e gratuita que teve início no sábado (19). Companhias, grupos, coletivos, artistas e pesquisadores prestam homenagem à atriz Ruth de Souza, uma das grandes damas brasileiras das artes cênicas e responsável por abrir portas aos atores e atrizes negras, com espetáculos teatrais, leituras dramatizadas, performances, intervenções, shows musicais, rodas de conversa e uma residência Quilombo Artístico.

“Fizemos essa curadoria pensando que não poderíamos falar do teatro negro, mas dos teatros negros, pensando que não existe um modo de concepção de teatro, mas que são diferentes tecnologias e perspectivas que a gente utiliza, partindo desse grande território que é o saber negro”, explica a atriz, educadora, produtora e pesquisadora Ellen de Paula que assina, ao lado do diretor e ator Gabriel Cândido, a idealização, direção artística e curadoria do festival.

Ao todo, serão 19 eventos, desenhados sob um fluxo intergeracional, que traz as companhias teatrais de arte negra que foram pioneiras, além do trabalho dos coletivos mais novos, em projeção na cena teatral.

Mestra em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Ellen de Paula destaca, em entrevista à Rádio Brasil Atual, que o festival, além de ser protagonizado pelo povo negro, marca principalmente a contribuição das mulheres negras, ainda hoje  na”base da sociedade”, para as artes não só em São Paulo, mas em todo o Brasil. Por isso a escolha “inevitável” pelo nome da atriz Ruth de Souza, responsável não só por marcar os palcos com representatividade, mas com mais de 70 anos de carreira e um número superior a 50 trabalhos artísticos no teatro, cinema e televisão.

Falecida em julho passado, Ruth de Souza é considerada ainda precursora em diversas frentes, incluindo nas de luta, sempre engajada e resistente em um período “mais adverso do que enfrentamos hoje em relações a esses espaços de artes e cenas para artistas negros”, avalia Ellen de Paula à jornalista Marilu Cabañas. “É o  engajamento dessas mulheres que possibilita, e não só para o povo preto, mas para essa sociedade como um todo, à trilhar possibilidades. Então quando a gente diz Dona Ruth a gente está falando, sim, de Ruth de Souza, a gente está olhando e se conectando com as mais velhas, que vieram antes de nós”, destaca a idealizadora do festival que chegou a se encontrar pessoalmente com a atriz para lhe contar sobre o planejamento da homenagem.

Longe de querer lembrá-la por conta da morte, mas sim pela existência contínua da atriz que logrou um legado nas artes, o Festival guarda, sobretudo, um agradecimento. “O que a gente diz sempre é a continuidade da Ruth de Souza, então pensar um festival de teatro negro no Brasil era impossível sem reverenciá-la, sem agradecê-la por todo isso que ela representa e construiu.”

Confira a íntegra da entrevista de Ellen de Paula à Rádio Brasil Atual: