Com textos de Bertold Brecht, peça “Os Um e Os Outros” aborda resistência dos povos tradicionais
Espetáculo com canto, dança e vídeos, em cartaz no Sesc Pompeia, proporciona reflexão sobre realidade dos índios no Brasil
Publicado 12/09/2019 - 15h02
São Paulo — Um povo rico e poderoso esgota suas riquezas naturais e passa então a olhar para as terras preservadas de povos vizinhos, querendo invadi-las. Esse é o roteiro da peça de teatro Os Um e Os Outros, da Cia Livre, em cartaz de quinta a domingo, no Sesc Pompeia, em São Paulo. O espetáculo é inspirado no texto Os Horácios e Os Curiácios, de Bertold Brecht, escrito em 1933, porém, bem atual.
“A peça é uma opereta musical, com dança e cantos. É uma peça com muito coral e também com projeções de vídeo, tem quatro telões enormes. É uma peça bem diferente”, explica Roberto Alencar, bailarino e ator, em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, na Rádio Brasil Atual.
No espetáculo, o texto original de Brecht é sobreposto por vídeos, documentos e mensagens de povos indígenas, sobre sua resistência. A peça conta com a participação de quatro convidados guaranis, uma experiência que, destaca Alencar, tem enriquecido o trabalho dos atores. “A gente se surpreende o tempo todo com eles, ouvindo as histórias. A gente conhece muito pouco sobre os povos originários.”
Para o ator, o espetáculo proporciona uma importante reflexão sobre a conjuntura brasileira. “Não dá nenhuma resposta pronta sobre nada, mas está refletindo sobre o nosso momento atual. Todos os documentos que usamos são de 2018 e 2019. É um espetáculo rico, tanto na linguagem quanto na temática.”
Gisele Calazan, atriz e também bailarina, destaca o teor de resistência dos povos originários mostrado na peça, que conta com a parceria da Cia Oito Nova Dança, que há anos pesquisa esse tema. “A peça informa, faz refletir e, ao mesmo tempo, traz uma nova percepção de mundo”, afirma, reforçando que o resultado é uma linguagem que transita pela dança, o teatro e a música.
A atriz também pontua que, ao longo da montagem do espetáculo, tiveram “sempre por perto” representantes e lideranças indígenas. “É um peça feita muito coletivamente, com esse olhar de diferentes etnias”, explica.