protagonismo

Cine Birita alerta para a exclusão da mulher na produção audiovisual

Mostra que será apresentada neste domingo reúne quatro produções independentes, de mulheres que lutam para conquistar representatividade

divulgação

Cena da produção Dois Copos D’Água

São Paulo – O projeto Cine Birita, que proporciona visibilidade às produções independentes do audiovisual brasileiro, apresenta uma edição especial neste domingo (24). No mês das mulheres, elas tomam o protagonismo com quatro produções. Reflexões sobre gênero e sexualidade somam-se ao olhar feminino sobre problemas do cotidiano, em realizações que buscam representatividade e lugar de fala.

A representatividade é vista como um tema urgente no cinema nacional, especialmente quando as realizadoras são mulheres negras. De acordo com informe da Agência Nacional do Cinema (Ancine), divulgado em junho de 2018, de 142 longas-metragens produzidos no país, homens brancos foram responsáveis por 78,2%; mulheres brancas, por 19,7%; e homens negros, 2,1%. Mulheres negras não aparecem no estudo.

Milena Manfredini, diretora da película Camelôs, que será exibida no domingo, vê os dados com preocupação. “Existe uma grande diferença entre mulheres negras e brancas, principalmente no acesso e possibilidade de produção. Infelizmente, mulheres negras estão invisíveis. Esse relatório foi de 2016, estamos esperando o de 2017, e acho que será também desolador. Políticas públicas são necessárias para a inserção, para que mulheres negras possam realizar seus projetos, seus longas”, afirma.

A realizadora Karla Suarez, que entra no Cine Birita com a produção Dois Copos D’Água (Karla Suarez, Hannah Sloboda e Gabi Ramos), também lamenta os dados da Ancine, e teme pelo futuro da representatividade em uma conjuntura política com protagonismo da extrema-direita. “Até o ano passado ainda vimos alguma tentativa de movimento da inclusão e do fortalecimento das mulheres no audiovisual brasileiro. Porém, neste momento, vejo que é uma questão para todo o mercado. Está tudo muito parado, não sabemos que rumos vamos levar”, diz à RBA, com intermediação de um dos idealizadores do projeto, Danilo Motta.

“O último edital lançado pela Ancine tinha uma pontuação maior para diretoras, tinha linhas para diretoras e diretores negros. Agora, não sabemos que rumo vai tomar, não tivemos mais notícias, não sabemos se foi cancelado ou não. Com o avanço das políticas retrógradas sobre a cultura como um todo, só piora. Principalmente para as mulheres”, completa.

Karla vê uma crise em todo o cinema nacional, com um cenário cheio de indefinições. “Não temos agências incentivando, não temos mais o Ministério da Cultura (MinC), não sabemos o que está acontecendo na Ancine. Então, para mulheres, para produções independentes, para quem não está nas grandes produtoras, está cada vez mais difícil.”

Tudo isso, justamente em um momento aonde questões delicadas e problemas profundos explodem no país. “Sobre a questão da sexualidade e gênero, quando queremos produzir com esta temática é ainda mais difícil. Em fevereiro já tínhamos mais de 100 casos de feminicídio. Está aumentando drasticamente e exponencialmente. No país que mais mata LGBTs e o quinto que mais mata mulheres por violência doméstica, falar sobre esses temas é urgente. Esse debate precisa acontecer, não dá para fingir que isso não está acontecendo. É falar sobre o direito de viver.”

Serviço

O Cine Birita apresentará quatro filmes realizados por mulheres no domingo (24), a partir das 20h, no Avareza Beer & Burger; Rua Augusta, 591, na região central de São Paulo. A entrada é gratuita.

Filmes que serão exibidos:

Dois Copos d’Água (dir. Karla Suarez, Hannah Sloboda e Gabi Ramos): O relacionamento entre duas mulheres chega ao fim, em meio à descoberta da sua real identidade de gênero por uma delas.

Os desafios na permanência das mulheres na Uerj (dir. Luiza Helana e Veronica dos Santos): Uma breve dose da realidade e rotina de mães e mulheres na universidade.

Camelôs (dir. Milena Manfredini): Qual o limite do palco? Quais são os códigos de atuação que os camelôs partilham entre seus pares e clientes? De que forma corpo, cidade e afeto se atravessam? São esses disparadores que conduzem nossa trama de memórias entre o passado e o tempo presente na cidade do Rio de Janeiro.

Devoção (dir. Hana Oliveira): Paulinho alterna sua vida entre o desafeto familiar e o mundo do tráfico. Desde a morte de sua mãe, quando ainda criança, ele perdeu a aproximação familiar porque Souza, o pai, não lhe deu atenção. Para buscar essa atenção, ele simula o sequestro de Joana, a madrasta, como auxílio de dois colegas.