rádio democrática

‘Hora do Rango’ na estrada: programa premiado vai a São Luís, pátria do reggae

Programa da Rádio Brasil Atual rendeu prêmio APCA de melhor produtor musical ao apresentador Colibri. Depois de algumas experiências itinerantes, passa dois dias na capital maranhense

reprodução/tvt

Colibri Vitta: dois anos à frente do ‘Hora do Rango’

São Paulo – De grandes nomes da música brasileira até aqueles que as outras rádios não tocam. Como um celeiro de análise e maturação da boa canção nacional, o programa Hora do Rango, da Rádio Brasil Atual, acumula mais de 465 edições desde maio de 2016. Histórias de sucesso que renderam o prêmio de melhor produtor musical de 2017, concedido pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), para o jornalista e apresentador vespertino da rádio Oswaldo Luiz Colibri Vitta.

Agora, a ideia é levar fazer experiências fora do estúdio. O programa já foi exibido, ao vivo, do Bar Brahma, em sua edição número 300. Já visitou a cidade de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, e promoveu duas transmissões com artistas do ABC paulista na sede do Instituto Acqua, em Santo André.

A próxima aventura, no bom sentido, será no Nordeste, por meio de uma parceria como instituto. Nesta quinta-feira (14), o Hora do Rango será apresentado de São Luís, diretamente do Museu do Reggae, na capital do Maranhão.

“Lula deu uma canja. Fernando Haddad tocou violão. Mano Brown lançou álbum solo e botou a boca no trombone. Chico Cesar interpretou música inédita ressaltando o ativismo político dos estudantes secundaristas. Jerry Adriani antecipou sua biografia, em sua derradeira entrevista”, lembra Colibri, sobre alguns pontos marcantes da história de seu programa. O prêmio ao jornalista foi concedido em cerimônia no Teatro Sérgio Cardoso no último dia 4.

“A ideia do programa é apresentar a diversidade e a riqueza cultural da música brasileira de todos os gêneros e regiões do país. Da MPB ao samba, da música tradicional (afoxé, maracatu, ijexá, ciranda, coco, etc) e também instrumental”, diz o produtor Nelson Calura.

“A seleção dos artistas está alinhada com o perfil da rádio. O programa valoriza a produção nacional independente que não tem espaço em outros veículos e também artistas consagrados, como Mano Brown, Emicida, Chico César, Paulo Miklos, entre outros. Tem lançamentos, revelações e também o resgate de importantes artistas, que têm muita história, mas acabam não sendo conhecidos pela nova geração porque as rádios não tocam”, define o jornalista.

Longa história

Colibri lembra do início da jornada que o fez chegar até o formato atual da Hora do Rango. Tendo trabalhado com “produção, texto, reportagem, direção de vídeos e, no meio disso tudo, turismo, esportes e principalmente cultura”, o jornalista conta que a experiência com conteúdo voltado à classe trabalhadora vem de longa data. “Fizemos a primeira experiência como o mundo sindical em 1992 com a Rádio dos Bancários. Trabalhamos também com a TVT nos anos 1990 e nos pediram um projeto de rádio”.

“Foi o Gilmar Carneiro, da CUT, que pediu para desenvolvermos inicialmente a Rádio dos Bancários. Jornalismo de manhã, mostrando movimentos sociais, mundo do trabalho e direitos humanos”, afirma.

O Hora do Rango, explica Colibri, tem como forte componente a música ao vivo. “Ficamos duas horas com o artista conversando. Começamos com a interação que ainda estava começando e hoje temos as redes sociais e o WhattsApp da rádio para o ouvinte participar. Enfim, é um programa no velho e bom estilo com músicas ao vivo. O ouvinte participa.”

A lista de artistas segue. “É música de todas as tribos e de todos os estilos. Da velha guarda, como Germano Mathias, Odair José, Evinha, Eduardo Araújo, Dudu França, Made in Brazil, Zé Geraldo, Maria Alcina e Claudya, aos lançamentos de novos artistas, como Filipe Catto, Mamelungos, Samuca e a Selva, As Bahias e a Cozinha Mineira, Liniker, Tássia Reis, O Terno, Ava Rocha, Dani Black, Francisco, el Hombre, entre outros.” O papo com os artistas ainda revela outros campos artísticos de interesse deles e do público. “E mais poesia, literatura, teatro e cinema com bom humor e improviso.”

Segundo Calura, a produção para as performances ao vivo é um saboroso desafio. “Já participaram bandas com 11 integrantes, para dar um exemplo. Somos o único programa de rádio de São Paulo que traz artistas diariamente ao estúdio. O que nos deixa muito feliz é que o programa alcançou reconhecimento junto aos artistas, que fazem suas indicações e sugestões. Essa consolidação do programa faz com que haja bastante procura e fazemos o possível para dar espaço a todos.”

Na estrada

As perspectivas agora para o futuro incluem gravações fora dos estúdios da rádio, que ficam na região da Avenida Paulista, em São Paulo. No ano passado e no início deste ano, duas experiências já foram realizadas. Agora, amanhã, o passo será maior, como explica Colibri. “Fomos convidados para participar da festa do Dia do Reggae, que vai ser amanhã, no Museu do Reggae, de São Luís do Maranhão (…) Antes, fizemos a primeira experiência fora do estúdio em Mogi das Cruzes (interior de São Paulo), no Casarão da Mariquinha. Estivemos com artistas locais. Depois, fizemos em Santo André (região do ABC), neste ano, com artistas locais. Transmitimos pela primeira vez de lá pela TVT“, afirma. A parceria com a TVT também é uma realidade que tende a se intensificar.

O programa será exibido das dependências do museu e as festividades do Dia do Reggae ainda incluem shows e uma programação cultural que será realizada no centro histórico da capital maranhense. “Amanhã e sexta-feira estaremos por lá. A ideia é do Hora do Rango colocar o pé na estrada. A partir deste ano, temos a ideia de sair do nosso estúdio, gravar em outros com o público, em auditórios”, completou.

Colibri ainda conta que já existem outras propostas para levar o programa para outras cidades do país. “Já fomos convidados por outros lugares, como teatros, para apresentarmos ao vivo. A tendência é essa. Temos convites para Santos, São José dos Campos, ao vivo com os artistas locais. Sempre valorizando músicos locais e entrevistando a turma toda. Temos propostas também para o Rio de Janeiro, com o pessoal do Samba do Trabalhador, uma proposta clara. Também temos propostas de Recife, já que recebemos muitos artistas de lá aqui. O negócio está pegando. Estamos todos muito animados.”

No Maranhão

A expectativa para o programa no Maranhão é de repetir as boas edições gravadas nas cidades paulistas. “A recepção nessas experiências tem sido maravilhosa. O programa já é querido pelos músicos aqui no estúdio e com o pessoal no Facebook, imagina quando vamos para as cidades e entrevistamos o pessoal no local”, afirmou Colibri, que acrescentou estar ansioso para conhecer o público maranhense de perto.

Além de celebrar o ritmo jamaicano, típico no Maranhão, os eventos ainda lembram o início das festas juninas e do bumba meu boi. O Instituto Acqua, uma organização social que apoia a Rádio Brasil Atual, é a realizadora das festividades que incluem a presença da Hora do Rango na capital maranhense. “A programação, marcada para os dias 14 e 15 de junho, acontecerá no Museu do Reggae e Praça do Reggae, no Centro Histórico de São Luís, e marca o início dos festejos juninos da região. Nomes como Orquestra Maranhense de Reggae, Raíz Tribal e George Gomes integram a atividade”, afirma em nota o Instituto.

A programação, para além do Hora do Rango, inclui shows das bandas que passam pelo programa e oficinas de cultura reggae. “ A partir das 16h, o local receberá oficinas de tranças, dança com o Grupo Afro Malungos e exposição de produtos da cadeia produtiva do reggae. Os DJs Neturbo, Andrezinho Vibration, Chico do Reggae e Ademar Danilo comandam as atividades de palco com entradas às 18h, 20h e 21h15. Às 19h, o público poderá interagir com o grupo Tambor de Crioula. Mais tarde, a partir das 19h30, a Orquestra Maranhense de Reggae sobe ao palco com arranjos reconhecidos pelos fãs do movimento regueiro em São Luís”, afirma o Instituto.

“Outro destaque da noite será a banda Raíz Tribal, formada por filhos dos fundadores da Tribo de Jah e expoentes do atual cenário local.  Eles se apresentam a partir das 20h30 com participação especial de Célia Sampaio, conhecida como a “dama do reggae” do Maranhão. Outro ícone da música, George Gomes, baterista que rearranja músicas folclóricas maranhenses para o ritmo do reggae, toca às 21h30. Para encerrar a programação, a tradição e o colorido do Boi Unidos de Santa Fé, às 22h, um dos grupos de bumba meu boi com maior expressão no Estado”, completa.

Ponto de vista do artista

Para Nelson Calura, que trabalha na produção do Hora do Rango, o reconhecimento junto aos artistas é o ponto mais gratificante dessa história. “Essa consolidação faz com que haja bastante procura e fazemos o possível para dar espaço a todos”, disse. A grande quantidade de artistas é um desafio para eles. “Uma das dificuldades é conciliar a agenda dos artistas pois, embora muitos morem em São Paulo, também trazemos músicos de outros estados para participar do programa.”

“Outro desafio é a produção para as performances ao vivo, característica do Hora do Rango. Já participaram bandas com 11 integrantes, por exemplo. Vale ressaltar que somos o único programa de rádio de São Paulo que traz artistas diariamente ao estúdio, essa é justamente a marca registrada”, completa.

Calura destaca alguns dos episódios que considera mais notáveis. “A ideia do programa é apresentar a diversidade e a riqueza cultural brasileira de todos os gêneros e regiões do país. Da MPB ao samba, música tradicional e também instrumental. A seleção dos artistas está alinhada com o perfil da rádio. O programa valoriza a produção nacional independente que não tem espaço em outros veículos de comunicação e também artistas consagrados como Emicida, Chico César, Paulo Miklos, Mano Brown, entre outros”

A entrevista com Mano Brown foi uma das mais emblemáticas da trajetória da rádio. Colibri conta que no começo ele não queria dizer muito. “Vocês conhecem o jeito dele meio durão. No começo, ele disse que não ia falar de política e eu pensei que a entrevista seria lamentável. Aí, ao contrário. Ele acabou entendendo a rádio, curtindo a rádio e se soltando. No fim ele estava falando de política, adorou porque tocamos o novo disco dele e demos espaço para o projeto dele.”

Parceria com o artista

Esta identidade com o artista é expressa também por outros nomes da música brasileira, como é o caso do gaúcho Arthur de Faria, que revelou não ter ficado surpreendido com o prêmio da APCA de Colibri. “Já estive no programa e acompanho sempre. Penso que é o melhor programa do mundo. Não foi surpresa o prêmio, é só o mundo que ainda não conhece”, disse. A musicista Ava Rocha aproveitou para parabenizar o programa. “Uma rádio que defende a música brasileira independente. Fiquei feliz com o prêmio, eu que já estive lá”, disse.

O cantor Dudu França seguiu a linha de Ava. “Sou testemunha do grande trabalho desse programa maravilhoso que nós artistas, da velha guarda, podemos falar que deveríamos estar tocando maravilhosamente bem nas rádios. Mas há uma massificação de mídia e, às vezes, o público não tem a oportunidade de saber o que existe além da mídia que está no ar. E o programa mostra isso, que o Brasil é muito rico em quesitos musicais.”

Músicos novos também têm sua voz reconhecida no programa, como afirma Lucas Santtana. “A rádio faz tudo com o maior carinho com os ouvintes e leva a diversidade da música brasileira. Ela é muito rica, temos um século de produção musical intensa e diversa e a rádio trás diversidade: gente que já está há muito tempo, gente que está chegando agora. Isso é muito importante para que os ouvintes tenham acesso à essa riqueza musical e que saibam que hoje se produz muita música boa no país.”

Leia também

Últimas notícias