Protesto na avenida

Desfile da Paraíso da Tuiuti teve ‘paneleiros’ e ‘vampirão’ Temer

Escola do Rio usou avenida para protestar contra a marginalização do povo negro escravizado, os ataques aos direitos da população e denunciou ao mundo o golpe que levou Temer ao poder

midia ninja

São Paulo – No ano em que se completarão 130 anos da Lei Áurea, o desfile da Paraíso do Tuiuti marcou a primeira noite dos desfiles das escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro, ao questionar a extinção da escravidão no Brasil e protestar explicitamente contra o golpe que levou Michel Temer ao poder, satirizar os “paneleiros” que apoiaram a derrubada de Dilma Rousseff e denunciar ataques aos direitos da população, como a reforma trabalhista. O desfile da Tuiuti abriu pela exploração dos negros trazidos da África no passado e terminou terminar tratando da precarização das relações de trabalho. Um dos carros fez referência direta a Temer, representado como um vampiro.

O samba-enredo da escola de São Cristóvão (letra e vídeo abaixo) lembrou a marginalização da população negra que se seguiu após a Lei Áurea, que não trouxe cidadania nem igualdade de direitos para os escravos libertos.

Na evolução do desfile, uma das alas da escola trouxe marionetes fantasiadas como “patos da Fiesp”, vestindo camisas amarelas como as da CBF, manipulados (representando os meios de comunicação) e batendo panelas. Logo depois, a ala Guerreiro da CLT representava os trabalhadores tentando se proteger dos ataques à CLT, fantasiados de Carteiras de Trabalho sujas, rasgadas e queimadas. O carro alegórico que encerrou a passagem da escola trazia como destaque um “Vampirão” usando uma faixa presidencial e notas de dólares como adereço.

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O vampiro foi representado pelo professor de história Léo Morais. “Eu acho que é uma retomada dos enredos críticos. A gente está num momento que tem que gritar mesmo. Eu acho que a gente está fazendo uma coisa que todo mundo quer. Todo mundo quer botar pra fora, as pessoas querem gritar o ‘Fora Temer’, as pessoas querem se manifestar”, afirmou, após o desfile, quando a escola comemorava a grande aceitação do público que acompanhava os shows.

A passagem da Paraíso do Tuiuti pela Sapucaí foi imediatamente celebrada nas redes sociais, com comentários “Foi lindo e ao mesmo tempo duro ver que só perdemos as correntes… No final as carteiras de trabalho tostadas e os vampiros dos três poderes, mostram que temos muita luta ainda, todos nós, ‘Povo Brasileiro’!”

A escola chegou ao topo dos Trending Topics do Brasil e do mundo do Twitter após encerrar o desfile.

Leia a seguir a letra do samba-enredo da Paraíso da Tuiuti

Meu Deus, Meu Deus! Está extinta a escravidão?

Irmão de olho claro ou da Guiné
Qual será o seu valor? Pobre artigo de mercado
Senhor, eu não tenho a sua fé e nem tenho a sua cor
Tenho sangue avermelhado
O mesmo que escorre da ferida
Mostra que a vida se lamenta por nós dois
Mas falta em seu peito um coração
Ao me dar a escravidão e um prato de feijão com arroz

Eu fui mandiga, cambinda, haussá
Fui um Rei Egbá preso na corrente
Sofri nos braços de um capataz
Morri nos canaviais onde se plantava gente

Ê Calunga, ê! Ê Calunga!
Preto velho me contou, preto velho me contou
Onde mora a senhora liberdade
Não tem ferro nem feitor

Amparo do Rosário ao negro benedito
Um grito feito pele do tambor
Deu no noticiário, com lágrimas escrito
Um rito, uma luta, um homem de cor…

E assim quando a lei foi assinada
Uma lua atordoada assistiu fogos no céu
Áurea feito o ouro da bandeira
Fui rezar na cachoeira contra bondade cruel

Meu Deus! Meu Deus!
Seu eu chorar não leve a mal
Pela luz do candeeiro
Liberte o cativeiro social

Não sou escravo de nenhum senhor
Meu Paraíso é meu bastião
Meu Tuiuti o quilombo da favela
É sentinela da libertação

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