São Paulo – Se não houver uma democratização da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), mais Del Neros e Ricardos Teixeira irão comandar o futebol nacional. Esta é a opinião do jornalista esportivo Juca Kfouri, convidado do programa Entre Vistas, da TVT, nesta terça-feira (9). “A CBF é o que é desde quando João Havelange era o líder principal. Ou você democratiza a CBF ou continuará esse ciclo. Sairá o Del Nero e entrará alguém do mesmo perfil, não tem jeito”, afirma.

Com base no sucesso e respeito conquistados em sua trajetória profissional, Juca Kfouri lançou recentemente livro com o título Confesso que Perdi (Companhia das Letras). Ele explica que, apesar de uma história de resistência e luta, os tempos atuais estão aquém de sua expectativa. “Aos 17 anos, eu era militante de uma organização clandestina de combate à ditadura e o Brasil está como está hoje, regredindo a passos largos nos últimos três anos. Como não sou uma pessoa voltada ao próprio umbigo, não tenho como dizer que ganhei. Estou há 47 anos como jornalista esportivo e a situação do esporte brasileiro é o que é, não posso dizer que ganhei”, diz Juca.

• Juca Kfouri apresentará programa de entrevistas na TVT
  

Nesta edição do programa da TVT, Juca foi entrevistado pela jornalista da ESPN Brasil Gabriela Moreira, o economista e professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Luiz Gonzaga Belluzzo e pelo jornalista e escritor Edney Mota. A mediação foi da apresentadora e blogueira Carol Pinho.

​Ao falar sobre política, o jornalista lembra que é impossível dizer que o futebol é um movimento apolítico, inclusive, cita um exemplo de ligação entre os dois temas. “Temos o episódio recente no Maracanã, durante a final da Copa Sul-Americana, em dezembro de 2017, quando teve a invasão do estádio pela torcida do Flamengo. Pense no Rio de Janeiro. Lá tem três ex-governadores com problemas na Justiça. Você vê o Maracanã como uma arena que exclui aqueles que não podem pagar R$ 250 de ingresso. Você espera o quê? De algum jeito o povo extravasa e fazer isso no estádio é o que há”, observa.

Ele também resgatou as memórias da Democracia Corinthiana, e analisou o fenômeno mais recente do Bom Senso – que nasceu no bojo das manifestações de 2013, “mas pegaram o líder do movimento, o Paulo André, e mandaram ele para a China”, diz o jornalista. “E quando ele voltou, ouviu do técnico do Cruzeiro que não devia continuar a dar entrevistas como estava dando.”

Juca Kfouri também recorda do convite para que assumisse o Ministério do Esporte, feito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele diz que não se arrepende de recusar o cargo e, muito menos, de indicar Pelé à pasta.

“Não tenho vocação para burocracia. Mais do que isso, politicamente falando, fariam comigo o que fizeram com o Zico (ministro do Esporte em 1991). Quando Havelange quisesse falar com Fernando Henrique, iria falar direto, sem passar por mim”, diz, citando o ex-presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa) João Havelange. “O Pelé deixou um bom legado que é a Lei Pelé que, infelizmente, foi desestruturada nas regulamentações”, lamenta.

O Entre Vistas recebe semanalmente uma personalidade do contexto nacional ou internacional em áreas como saúde, educação, cultura, política e esporte e é gravado no palco do Tucarena, tradicional anfiteatro da capital paulista nas dependências da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. 

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