Música

Segundo álbum de OQuadro faz manifesto contra as desigualdades

Trabalho, exploração, violência, corrupção e preconceito são alguns dos temas das 12 faixas do disco 'Nêgo Roque'

Rafael Ramos/Divulgação

‘A voz do nosso povo resistiu e está mais viva do que nunca, lutando pelo protagonismo no recontar dessa história’

As vivências pessoais dos integrantes da banda OQuadro, formada em Salvador, resultaram nas letras das 12 músicas de seu segundo álbum, Nêgo Roque, lançado no final deste ano. As desigualdades sociais e raciais, a exploração dos mais pobres pelos abastados, a violência seletiva e de gênero, a corrupção e outras críticas compõem o novo disco do grupo formado por Jef Rodriguez (voz), Nêgo Freeza (voz), Rans Spectro (voz), Ricô (voz/baixo), Rodrigo DaLua (guitarra e synth), Vic Santana (bateria), DJ Mangaio (programações) e Jahgga (percussão).

O disco tem participação especial de Emicida e DJ Gug (Muita Onda), Bnegão (Nêgo Roque) e Raoni Knalha e Indee Styla (Luz) e foi produzido pela própria banda. Gravado no Estúdio T, na capital baiana, Nêgo Roque traz um híbrido de sonoridades, uma inusitada mistura de rap, rock, zouk, soul, música eletrônica e ritmos baianos e jamaicanos que o grupo define como música negra contemporânea. “Estávamos desde 2012 sem lançar um disco, então tivemos um tempo de amadurecimento como pessoas e como músicos por conta de nossas andanças. A música não desiste da gente, então não vamos desistir dela”, diz o baixista Ricô.

Além da qualidade musical, as letras fazem um retrato afiado da sociedade brasileira nos dias de hoje. “A voz do nosso povo resistiu e está mais viva do que nunca, lutando pelo protagonismo no recontar dessa história. Em nossas letras, estão em evidência o conceito de humanidade, de negritude, de fé e de militância, que são abordados não como hipóteses acadêmicas, mas maturados pela vivência de seus compositores”, afirma Jef Rodriguez.

O grupo afirma que eles contam por meio da música aquilo que os livros ainda insistem em apagar. Os músicos “levantam questões sobre os valores sociais, bens culturais e existencialismo, apresentando o olhar do cidadão nascido no interior da Bahia ou em qualquer periferia, que enxerga a cultura hip-hop como arte contemporânea popular”.

Um exemplo é a letra de Trabalho, terceira faixa de Nêgo Roque: “Corpos terceirizados tecem atados/ Um futuro assaltado como o trem pagador/ Onde serão triturados por decisão dos senhores/ Que analisam o meu desempenho/ E assim seguem os tempos modernos/ Com vermes em ternos de 10 mil/ E o retorno do povo pro engenho”. Em Me Diz Quanto Vale, OQuadro lança uma crítica à violência contra as mulheres: “Você não sabe o esforço aqui/ E me julga como se fosse um qualquer/ Se fosse tu, dava o fora daqui (vaza!)/ Dois mil e tantos, cê batendo em mulher/ Que você diz que é sua, mas não é/ Acorde pra vida, seu mané/ Pega a visão, desce o busão, volta a pé/ Acaba na função, paga no cartão/ Depois você me diz quanto vale”.

Mas o disco não traz apenas “porrada”. Na penúltima canção, Luz, fica claro que toda a resistência necessária para se construir um país de iguais deve se dar pelo amor. Mas a última faixa deixa claro que é preciso estar pronto para lutar por isso e é aí que dizem Pode Vir, como se estivessem de punhos erguidos. Só que, neste caso, a arma é feita de poesia e de música. “Pro dia nascer feliz eu peço paz/ Muito amor pros irmãos/ A magia que converte em arte/ Todas as armas nas mãos/ Que tenhamos a vista cansada de tanto ler/ Trabalho digno e tempo hábil pra debater/ Dividir sempre as tarefas/ Cada um com a sua parte/ Filosofia, tecnologia, ciência e arte/ Água potável, discurso inflamável, força e equilíbrio/ Dividir o pão é a verdadeira revolução factível/ Não precisamos de mansão, precisamos de um lar”.

O álbum Nêgo Roque pode ouvido na íntegra no YouTube:

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