Cinema

‘Se você for preto e pobre, a bala perdida acha um dono’

'Peripatético' aborda juventude, periferia, trabalho e ataques do PCC. Curta-metragem de Jéssica Queiroz será lançado nesta quarta-feira (8) na Cinemateca Brasileira

Divulgação

Filme fala de juventude, primeiro emprego, vestibular, violência policial e da dificuldade de ser negro e periférico

O curta-metragem Peripatético, da cineasta Jéssica Queiroz, retrata a vida de três jovens moradores da periferia em maio de 2006, quando a cidade e o estado de São Paulo sofreram uma onda de ataques da facção Primeiro Comando da Capital (PCC). É quando Simone participa de entrevistas para conseguir o primeiro emprego, Thiana tenta passar no vestibular de Medicina e Michel, ainda sem saber o que quer fazer da vida, passa seus dias jogando videogame. Boa parte do filme foi rodada no bairro de Ermelino Matarazzo, na zona leste de São Paulo, onde vive a diretora.

Com 15 minutos de duração, o curta será apresentado nesta quarta-feira (8), às 20h, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, seguido de debate com a diretora, a roteirista Ananda Radhika e os atores Larissa Noel, Maria Sol e Alex de Jesus. “O filme fala de vários assuntos – juventude, primeiro emprego, vestibular, a dificuldade de ser negro e periférico e violência policial –, mas tudo de forma muito lúdica. Mostra que a vida é difícil, mas resistimos e inventamos novas formas de ver a vida, pra que seja mais leve. Acho que cinema é isso pra mim e foi isso que queria na tela, com o Peripatético”, afirma Jéssica.

Ao final, o curta-metragem apresenta as assombrosas estatísticas daquele período. É quando Simone, de luto pela morte do amigo, diz que “se você for preto e pobre, a bala perdida acha um dono”: “Entre 12 e 15 de maio de 2006, ocorreram 74 rebeliões em presídios no estado de São Paulo. 33 agentes públicos e 51 civis morreram (…) 8 a cada 10 civis mortos eram jovens de até 35 anos. Mais da metade eram negros. 94% deles não tinham antecedentes criminais”. É exatamente por causa desses dados que a obra é dedicada ao Movimento Independente Mães de Maio, formado pelos familiares das vítimas do conflito.

Meus filmes têm muito de mim e de onde venho. Acredito que negros e periféricos precisam ser bem representados na tela, de uma forma positiva, para fazer com que as pessoas saibam que a periferia é um lugar possível”, declara a cineasta. Mas a situação ainda precisa melhorar muito: “Os jovens negros ainda são os que mais morrem na nossa sociedade, as mulheres negras são as que mais têm dificuldades na inserção no mercado de trabalho e assim vai. O que mudou é que temos mais negros inseridos no ensino superior, a internet ajudou muito na comunicação, então o que falamos dá mais repercussão, estamos mais articulados do que em 2006, mas ainda está longe de alguma melhora, queremos e merecemos mais”, declara Jéssica.

Lançamento de Peripatético
Quando: quarta-feira, dia 8, às 20h
Onde: na Sala BNDES da Cinemateca Brasileira
Largo Senador Raul Cardoso, 207, São Paulo
Quanto: grátis
Mais informações:www.cinemateca.gov.br