Grupo SS

Zé Celso luta pelo Teatro Oficina, enquanto Silvio Santos tenta ‘encaixotá-lo’

Dono do SBT pretende construir um empreendimento comercial ao lado do teatro, o que cercaria o local projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi

Divulgação

Em reunião realizada em agosto, Zé Celso diz que Silvio Santos repetia: “Deixa de ser artista, deixa de ser sonhador”

São Paulo – O dramaturgo José Celso Martinez Corrêa, o Zé Celso, que está à frente do Teatro Oficina, afirma enfrentar assédio financeiro para que desista de uma disputa de um terreno ao lado do teatro. Do lado contrário estaria o dono do SBT, o também apresentador Silvio Santos. De acordo com Zé Celso, o empresário ofereceu R$ 5 milhões, o que classificou como “uma espécie de propina”. “Estamos vivendo, no Oficina, um momento muito grave: por 37 anos conseguimos que não se construísse nada no entorno do teatro”, disse.

“Depois do golpe do ano passado, Silvio Santos ‘pirou’ e entrou com uma ação no Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat) nos acusando de termos destruído o Teatro Oficina, que tinha sido tombado como histórico, para construir um teatro ilegal”, explica o dramaturgo em seu blog. Artistas saíram em defesa do Teatro Oficina e do dramaturgo. Entre eles, Fernanda Montenegro, que endereçou uma carta a Zé Celso.

Para a atriz, o teatro é parte do patrimônio material e imaterial do país e integrante inseparável do bairro que o hospeda, o Bixiga. “O Oficina é um marco histórico, cultural, visceral, de uma cidade, de um estado. O que pretendem por no lugar? A desgraça do nada? A lama do nada? (…) A partir desse Bexiga, dessa Oficina, o Zé nos traz o desassossego mais provocador, mais tronitoante, mais triunfante de São Paulo e do Brasil, culturalmente falando”, disse.

A companhia Teatro Oficina foi inaugurada em 1958 por vários artistas, entre eles o próprio Zé Celso. A sede do teatro foi comprometida por um incêndio em 1966. Um ano mais tarde, o espaço renasceu com o projeto de um dos maiores nomes da arquitetura brasileira, Lina Bo Bardi. A área pertence ao dono do STB, entretanto, o teatro é tombado desde 1982. O apresentador tem a intenção de construir um empreendimento nos arredores, o que “encaixotaria” o Oficina, de acordo como Zé Celso. Espera-se que o Condephaat tenha uma decisão sobre o imbróglio na próxima segunda-feira (23).

“Deixa de ser artista”

O Rei da Vela é um livro escrito pelo modernista Oswald de Andrade em 1937. Considerada por muitos a sua mais célebre obra, Zé Celso a reverencia, e trabalha para trazê-la de volta aos palcos do Teatro Oficina. Em 1967, o dramaturgo já tinha, pela primeira vez, adaptado a história durante a reinauguração do local. Entretanto, Zé Celso teme que a temporada da obra seja interrompida devido às investidas do dono do SBT.

“O Grupo Silvio Santos fez jus ao nome SS na última audiência do Condephaat. O advogado do SS, há duas semanas, nos golpeou com um punch nazista: acusou-nos a termos nós, artistas, técnicos e funcionários, de termos destruído o Teatro Oficina e construído o projeto ilegal da arquiteta Lina Bo Bardi, depois completado pelo arquiteto Edson Elito”, afirma Zé Celso em carta de resposta a Fernanda Montenegro.

A reunião, realizada em agosto, contou com a presença do prefeito João Doria (PSDB) e do vereador Eduardo Suplicy (PT), além do próprio Silvio Santos. De acordo com Zé Celso, o dono do SBT, bem como sua equipe, ignoraram os argumentos do dramaturgo e o apresentador teria repetido a sentença: “Deixa de ser artista, deixa de ser sonhador”.