Folia em debate

Novas regras para carnaval de rua de São Paulo deixam blocos insatisfeitos

Cartilha da gestão Doria propõe que organizadores da festa paguem pela contratação de seguranças e bombeiros. 'Isso deveria ser obrigação do poder público', diz produtora do bloco Ilú Obá de Min

Divulgação Ilú Obá de Min

Bloco Ilú Obá de Min desfila há 13 anos em São Paulo representando um símbolo da resistência afro-brasileira

São Paulo – O governo do prefeito João Doria (PSDB) organizou uma cartilha com novas regras para o carnaval de rua de 2018 em São Paulo e colocou o documento em consulta pública até o próximo sábado (19). Entre as novidades anunciadas pela prefeitura está a obrigatoriedade de “todo bloco, cordão carnavalesco, banda e/ou similares”, com público estimado entre 5 mil e 10 mil pessoas, ser obrigado a pagar por um bombeiro e dois seguranças durante todo o trajeto. Se a previsão de público do bloco for acima de 10 mil foliões, serão necessários dois bombeiros e quatro seguranças; e caso o bloco reúna mais de 15 mil pessoas, deverá ser apresentado um “plano de operação do desfile com plano de segurança, resgate, isolamento e orientação de público”.

As novas exigências têm sido criticadas pelos organizadores dos blocos. No último domingo (12), cerca de 80 pessoas representando em torno de 15 blocos que desfilam na cidade, se reuniram para analisar a cartilha. A avaliação foi que exigências como a contratação de bombeiros e seguranças é um modo de a prefeitura transferir responsabilidades.

“Isso deveria ser obrigação do Estado. Se eu contrato um segurança e acontece uma briga, ele não vai ter autoridade pra ‘enquadrar’ alguém”, pondera Baby Amorim, produtora cultura do bloco Ilú Obá de Min, que há 13 anos desfile na cidade. “Já é tão difícil colocar o bloco na rua e ainda teremos mais essa despesa?”, questiona.

Baby Amorim afirma que os blocos foram surpreendidos com a divulgação da cartilha e agora esperam reverter, na consulta pública, as exigências que entendem serem indevidas. “A cartilha foi uma coisa que veio de cima pra baixo e agora temos esses dias para contestar, falar sobre o que nos angustia. Esperamos que nossas sugestões tenham algum valor, afinal, [a prefeitura] tem de escutar os protagonistas desse grande carnaval de rua que é o de São Paulo.”

A produtora enfatiza que o investimento público feito na organização da festa é bem menor do que o retorno financeiro obtido pela cidade. Além da exigência de contratação de seguranças, bombeiros e plano de resgate e isolamento, a produtora do Ilú Obá de Min também critica as regras estabelecidas pela gestão Doria até para o tamanho dos estandartes. “Tem coisas na cartilha que, de um modo geral, são absurdas”, define. 

Em entrevista nesta terça-feira (15) para a rádio CBN, o secretário municipal de Cultura, André Sturm, afirmou que o processo de elaboração das novas regras para o carnaval tem sido transparente. Segundo ele, a proposta de exigir que os blocos arquem com os custos da segurança da festa é uma maneira de “ajudar um pouco com a infraestrutura necessária”.

Em 2017, o governo Doria anunciou que a prefeitura não teve nenhuma despesa com o carnaval e ainda obteve patrocínio recorde de cerca de R$ 15 milhões de uma grande fabricante de cerveja.

 

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