Cinema

Em ‘Mulher do Pai’, temática e equipe reforçam protagonismo feminino

Primeiro longa-metragem da cineasta gaúcha Cristiane Oliveira conta a história da adolescente Nalu que, depois da morte da avó, tem de cuidar do pai cego no interior do Rio Grande do Sul

Divulgação

‘A discriminação em relação à identidade de gênero pode estar tão ligada a uma cultura que acaba se manifestando como algo natural na própria mulher’

Estreia nesta quinta-feira (22), o longa-metragem Mulher do Pai, da cineasta gaúcha Cristiane Oliveira. Além da temática que aborda o universo de uma adolescente no interior do Rio Grande do Sul, boa parte da equipe foi composta por mulheres. Protagonizado por Maria Galant e Marat Descartes, o filme conta a trajetória de Nalu, uma jovem cheia de vida que, depois da morte da avó, precisa cuidar de Ruben, o pai cego. Ao mesmo tempo, ela se vê frente ao dilema de ser tecelã como a avó ou de buscar uma nova vida longe da pequena comunidade onde vive, na fronteira com o Uruguai.

Dentro da casa de Nalu, tudo gira em torno do pai: antes de morrer, a avó era responsável por todos os afazeres domésticos, o que deixava Nalu mais livre para viver as pequenas aventuras e descobertas da adolescência. Quando a avó morre, ela se vê obrigada pelo pai e pela comunidade ao seu redor a assumir os cuidados da casa e de Ruben, um homem fechado e sisudo. Quando ele se dá conta que aos 16 anos a filha já é uma mulher, surge entre os dois uma ambígua proximidade e tudo fica ainda mais confuso quando Rosário, professora de Nalu, entra na vida deles.

Há tensão, há ciúme mas, acima de tudo, há o peso de uma sociedade extremamente conservadora que determina e cobra o cumprimento dos tradicionais papéis de gênero. Como o “homem da casa” não tem condições de trabalhar e vive com uma pequena ajuda do governo, recai sobre as costas de Nalu a pesada responsabilidade de cuidar do lar e logo ela deve começar a prover o sustento da família. Mas a jovem quer estudar, quer viver suas descobertas sexuais, quer viajar…

Se por um lado o personagem masculino está fragilizado no filme, por outro lado temos mulheres que vivem em função dele, numa repetição de modelos que favorecem a figura masculina. A transformação que Nalu viverá, com o apoio de outras mulheres, não é redentora. Vem acompanhada das perdas naturais do amadurecer”, afirma a diretora e roteirista.

RBApai
Dentro da casa de Nalu, tudo gira em torno do pai cego

Mulher do Pai foi todo filmado em municípios do interior do Rio Grande do Sul, onde a cultura do gado é muito forte e a atuação das mulheres no mercado de trabalho, bem menor. Por isso, “o filme deu a oportunidade para muitas delas terem seu primeiro emprego remunerado”, aponta o material de divulgação do longa. “A discriminação em relação à identidade de gênero pode estar tão ligada a uma cultura que acaba se manifestando como algo natural na própria mulher. Nalu é uma adolescente que vem desse contexto e é difícil para ela realizar a própria autonomia independente de um homem”, declara Cristiane.

Além de a temática abordar o feminino e condição da mulher, o filme foi realizado com uma equipe encabeçada por mulheres: a produção ficou sob o comando de Aletéia Selonk, a produção executiva é de Graziella Ferst e Gina O’Donnel, a excelente direção de fotografia é de Heloisa Passos, a direção de arte de Adriana Nascimento Borba, a supervisão de som de Miriam Biderman e o roteiro e a direção foram assumidos por Cristiane.

Não foi intencional escolher mulheres para a equipe, foi uma reunião de pessoas com quem eu queria trabalhar, pelo talento delas. Mas o talento precisa de espaço para se expressar e fico feliz que, em um mercado ainda majoritariamente masculino, tantas mulheres tenham encontrado no filme uma oportunidade e estejam sendo reconhecidas pelo seu trabalho”, comemora a diretora.

Mulher do Pai ganhou oito prêmios em festivais, entre eles o de melhor Direção no Festival do Rio e o Prêmio ABRACCINE na Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, foi também selecionado para importantes festivais internacionais, como os de Berlim, Guadalajara e o do Uruguai.

CartazMulher do Pai
Roteiro e direção: Cristiane Oliveira
Produção: Aletéia Selonk, Cristiane Oliveira, Diego Fernández
Produção executiva: Graziella Ferst, Gina O´Donnell, Gabriel Richieri
Produção associada: Gustavo Galvão
Direção de fotografia: Heloisa Passos, ABC
Direção de arte: Adriana Nascimento Borba
Consultoria de arte: Gonzalo Delgado Galiana
Som direto: Raúl Locatelli
Montagem: Tula Anagnostopoulos
Corroteiro e continuidade: Michele Frantz
Supervisão de edição de som: Miriam Biderman, ABC
Desenho de som: Ricardo Reis
Mixagem: Paulo Gama
Elenco: Maria Galant, Marat Descartes, Verónica Perrotta, Amélia Bittencourt, Áurea Baptista, Fabiana Amorim, Jorge Esmoris, Liane Venturella, Diego Trindad
Distribuição no Brasil: Vitrine Filmes