Gestão Doria

Artistas de SP desocupam Secretaria da Cultura ante ameaça de despejo com força policial

Sem acordo sobre demissão do secretário André Sturm, manifestantes decidiram sair do prédio na noite de ontem. 'Os integrantes conhecem a capacidade de violência do Estado',disseram, em nota

Frente Única da Cultura SP

Artistas deixaram a secretaria por volta das 22h e realizaram um último ato de protesto na saída

São Paulo – Após 30 horas de ocupação pacífica da Secretaria Municipal de Cultura, os 70 artistas que permaneciam no 11º andar da Galeria Olido, onde fica o gabinete do secretário André Sturm, decidiram, em assembleia, deixar o local diante da iminência de uma ação policial para despejá-los por determinação do prefeito João Doria (PSDB). Os manifestantes deixaram o prédio por volta das 22h, quando o local já estava cercado pela Polícia Militar (PM) e a Guarda Civil Metropolitana (GCM).

Após três reuniões com o secretário Municipal de Relações Governamentais, Milton Flávio, não houve acordo sobre a reivindicação dos artistas: a demissão do secretário Sturm, cujo estopim foi a ameaça de agressão a Gustavo Soares, membro do Movimento Cultural de Ermelino Matarazzo, durante uma reunião no Casa de Cultura do bairro, originada de uma ocupação realizada pelo movimento. Durante uma discussão, ele ameaçou expulsar o grupo que atua no local e partir para cima do ativista.  “Vou quebrar a cara”, disse.

Flávio ofereceu diálogo sobre outras pautas que os artistas vinham tentando conversar com a gestão Doria, como o descongelamento de verbas da cultura e a retomada de programas que estão sendo esvaziados pelo governo, o que não foi aceito pelo grupo.

Em nota divulgada ontem (1), os artistas destacam que “a decisão foi tomada, principalmente, porque os integrantes entendem que precisam defender sua integridade física e conhecem a capacidade de violência do Estado”. Os manifestantes prometeram novas ações reivindicando a saída de Sturm e o descongelamento de 47% do orçamento da cultura. “Expomos aqui a incapacidade do secretário Municipal de Cultura, André Sturm, e do prefeito, João Doria Júnior, de dialogar. Eles não vão bater na nossa cara de novo, como batem dia após dia em nossas quebradas”, afirmam.

No dia da ocupação, a secretaria divulgou uma nota com acusações infundadas contra os manifestantes, que acabaram sendo desmentidas pelo secretário Flávio. A nota dizia que “Sturm precisou fazer uma barricada para garantir que a porta do gabinete não fosse derrubada” e que os servidores “foram expulsos do seu local de trabalho”.

“Conversei com o responsável da GCM, inspetor Cesar, que nos garantiu que a ocupação foi pacífica, não houve, até o momento, nenhum dano ao patrimônio público. Nenhum funcionário da secretaria foi agredido ou constrangido e, aqueles que quiseram sair, inclusive o próprio secretário, saíram sem nenhuma preocupação e sem nenhum dano”, disse Marques, na mesma noite.

O presidente da Cooperativa Paulista de Teatro, Rudifran Pompeu, lembrou que em nenhum momento o grupo quis sequer se encontrar com Sturm. A reivindicação de interlocução era diretamente com o prefeito, para exigir a saída do secretário da cultura.

“Desde o começo do dia (de ontem) o secretário André Sturm despacha da biblioteca Mário de Andrade e mesmo que estivéssemos sabendo disso, não mandamos nossas tropas de trabalhadores das artes para agredir-lhe (sic), mas como sua gestão não dialoga com os artistas e muito menos com a cidade a única forma de conversa que ele conhece é a polícia”, escreveu Pompeu nas redes sociais.

A ocupação teve início por volta das 16h de terça-feira (31). Sem resistência, os artistas entraram na secretaria, pularam as catracas de acesso e utilizaram os elevadores para chegar ao 11º andar. Gritando “fora Sturm”, eles ocuparam o saguão do gabinete do secretário, sem qualquer depredação ou ato violento contra os servidores. Um único GCM se mantinha na porta que dá acesso à sala de Sturm. O único momento de tensão foi quando GCMs da Inspetoria Regional de Operações Especiais (IOPE) e policiais militares ingressaram no andar. Porém, não houve confronto.

Após uma primeira reunião com o secretário de Relações Governamentais foi acordado o acesso de alimentos ao local e que não haveria ação policial na madrugada de quinta-feira. Na manhã seguinte houve nova reunião e na sequência os artistas fizeram um pronunciamento, reafirmando que a pauta deles era a saída de Sturm do comando da Cultura. Durante a tarde houve uma manifestação de apoio à ocupação.