contra reformas

Em intervenções durante Mostra de Teatro, secundaristas prometem novas mobilizações

Estudantes encenaram 'Atos de Resistência II' após o termino de pelo menos duas peças do circuito, sem que fossem anunciados, surpreendendo a plateia com seu engajamento político

© Guto Muniz / divulgação

Ato em linguagem cênica de estudantes secundaristas de São Paulo durante Mostra de Teatro, na capital: ‘ocupar tudo, e não é vandalismo’

São Paulo – Alunos Secundaristas da rede pública de ensino de São Paulo realizaram uma série de intervenções artísticas durante a Mostra Internacional de Teatro de São Paulo – que começou dia 14 e  se encerra nesta terça (21), em diversos teatros da capital paulista – com o intuito de relembrar e compartilhar experiências das ocupações de escolas realizadas no ano passado. Sem que fossem anunciados, os estudantes encenaram “Atos de Resistência II” após o termino de pelo menos duas peças do circuito, surpreendendo a plateia com encenações cheias de energia e engajamento político.

As apresentações terminaram com promessas de mobilizações contra as diversas reformas propostas pelos governos federal, estadual e municipal, como a reforma do ensino médio, da Previdência e a reforma trabalhista. “Fica preparado que com a reforma vai ter luta!”, cantaram os jovens.

Uma das apresentações dos secundaristas foi realizada no domingo (19), depois da peça chilena Mateluna, uma obra sobre o militante Jorge Mateluna, que lutou na Frente Patriótica Manuel Rodriguez, no Chile. Quando o público já se preparava para deixar o teatro João Caetano, na Vila Mariana, zona sul de São Paulo, os estudantes entraram correndo pelos corredores gritando “vamos ocupar! Essa é a minha escola e ninguém vai me tirar”. Era o começo da mobilização em linguagem cênica.

“9 de novembro de 2015, escola estadual Onório Monteiro, ocupada!” maio de 2016, Etec das Artes, ocupada!”, bradava os jovens, lembrando as escolas ocupadas e datas marcantes para o movimento. Eles percorreram as fileiras contanto para os espectadores particularidades das ocupações: “nós tínhamos arrecadado tanta comida, pra semana inteira, mas eram muitos jovens e acabamos comendo quase tudo em um dia”, confidenciou uma jovem. “Eu me inspirei nos estudantes do Chile”, disse outra. “Uma das melhores refeições da minha vida foi uma lasanha que comemos na ocupação e não porque era lasanha, mas porque estávamos comendo todos juntos”, contou uma aluna.

“O Choque! Olha o Choque!”, gritavam os jovens em referência à repressão policial, relembrando os momentos mais tensos das ocupações. Os jovens entoaram palavras de ordem e finalizaram a apresentação com um jogral, principal forma de pronunciamento adotada pelos estudantes durante as mobilizações. “Nós estudantes secundaristas, organizados de forma autônoma, horizontal e democrática, estamos aqui hoje para reivindicar educação pública. O Estado há muito tem feito ataques e projetos de precarização da educação, seja privatizando reformando ou fechando escolas. Nós  estamos aqui pra mostrar que estamos vivos e seguimos lutando!”

O público, surpreendido, foi levado até a rua pelos secundaristas e foram aplaudidos de forma bastante emocionada. “Não adianta falar que é vandalismo. A gente vai ocupar tudo. Vamos ocupar as ruas, vamos ocupar as escolas e vamos ocupar os teatros, vamos ocupar o mundo e não vai falar que é vandalismo, porque vandalismo é o que fazem com as nossas vidas!”, disseram os estudantes em jogral. “Pacífico? Pacífico é só o oceano! O nome disso aqui é revolta!”

O trabalho encenado pelos jovens foi coordenado pela atriz e performer Martha Kiss Perrone, num trabalho artístico com estudantes secundaristas que participaram de ocupações ao longo de 2016, contra a aprovação da Emenda Constitucional 95, que limita por 20 anos os investimentos públicos em diversas áreas, como saúde e educação. Pelo menos 1.198 escolas no país foram ocupadas no movimento, naquela que foi considerada a maior mobilização de estudantes do país.

Alguns dos integrantes participaram também do movimento de ocupações de escolas estaduais de São Paulo, iniciado no final de 2015, contra o projeto de reorganização escolar anunciado pelo governador Geraldo Alckmin, que pretendia fechar 94 escolas e transferir compulsoriamente 311 mil estudantes.

Como resposta, os secundaristas chegaram a ocupar 213 no estado, no auge do movimento, em 2 de dezembro. Após 25 dias de intensa mobilização, o governador foi a público suspender o projeto e em seguida, o então secretário estadual da Educação, Herman Voorwald, pediu demissão.

A Mostra Internacional de Teatro deste ano traz para São Paulo espetáculos de seis países: África do Sul, Alemanha, Bélgica, Brasil, Chile e Líbano. Os ingressos para as peças custam R$ 10 (meia) e R$ 20 (inteira) e as atividades de formação e reflexão são gratuitas. Um desses temas centrais do evento esse ano é “negritude, do racismo, do protagonismo negro e do empoderamento”. Pelo menos três espetáculos abordam o tema: Branco: o cheiro do lírio e do formolA Missão em Fragmentos: 12 cenas de descolonização em legítima defesaBlack Off.

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