Cinema

Documentário investiga a essência humana e seus paradoxos

'Humano – Uma Viagem Pela Vida', de Yann Arthus-Bertrand, entrevista mais de 2 mil pessoas em 60 países para entender o que nos une e nos separa

Fotos: Divulgação

Mulher tailandesa entrevistada no filme: 2.020 depoimentos para formar um mosaico da natureza humana

“Você se sente livre? Qual o significado da vida? Qual a experiência mais difícil que você teve de enfrentar? E o que você aprendeu com ela? Qual é a sua mensagem para os habitantes do planeta?” Com essas perguntas, o fotógrafo, cineasta e ativista ambiental francês Yann Arthus-Bertrand e sua equipe entrevistaram 2.020 pessoas em 63 línguas e 60 países diferentes para tentar entender a essência humana e refletir sobre o que somos e o que queremos não apenas como indivíduos, mas também como sociedade.

Esta aventura durou três anos e o resultado é o filme Humano – Uma Viagem Pela Vida, que estreia nos cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador e Santos nesta quinta-feira (6). Amor, liberdade, morte, ódio, discriminação, fome, desigualdade, esperança, sexo, consumismo… As entrevistas trazem temas e histórias de vida de pessoas comuns. São trabalhadores, camponeses, aborígenes, refugiados, soldados, rebeldes, prisioneiros sentenciados à pena de morte, mães, pais, maridos e mulheres que dividem com a câmera suas trajetórias e a maneira como vivem e veem o mundo.

Durante 191 minutos, o que se vê são retratos que, juntos, formam um mosaico da natureza humana, em toda a sua complexidade e simplicidade, misturados com imagens aéreas que dão a dimensão dos impactos (e das belezas) causados pelos humanos no planeta. Yann traduz em imagem e estampa na tela as cores do amor e da guerra, da compaixão e do egoísmo, da solidão e do pertencimento, da construção e da destruição, da esperança e do desespero. O que se vê em profundidade é a essência da natureza humana com todas as suas contradições.

DivulgaçãoYann e Pepe
Mujica: ‘Tudo se compra, menos a vida. A vida se gasta. E é lamentável gastar a vida para perder a liberdade’

“Eu sou um homem entre outros sete bilhões. Durante os últimos 40 anos fotografei nosso planeta e a diversidade humana, e tenho o sentimento de que a humanidade não está fazendo nenhum progresso. Nós não conseguimos viver juntos sempre. Por que isso? Eu não procurei uma resposta em estatísticas ou análises, mas no próprio homem. E foi em rostos, olhares e palavras onde encontrei uma poderosa forma de alcançar as profundezas da alma humana. Cada encontro te aproxima mais. Cada história é única. Ao explorar as experiências do outro, eu estava à procura de respostas”, afirma o diretor.

Uma das poucas caras conhecidas no filme é o ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, em uma crítica ao sistema capitalista: “Passei mais de dez anos na solitária. Tive tempo. Sete anos sem ler um livro. Tive muito tempo para pensar e descobri o seguinte: ou você é feliz com pouco, com pouca bagagem, porque a felicidade está em você, ou não consegue nada. Isso não é uma apologia da pobreza, mas da sobriedade. Só que inventamos uma sociedade de consumo, consumista, e a economia tem de crescer porque se não cresce acontece uma tragédia. Inventamos uma montanha de consumos supérfluos. Compra-se e descarta-se. Mas o que se gasta é tempo de vida porque quando eu compro algo ou você, não pagamos com dinheiro, compramos com tempo de vida que tivemos de gastar para ter este dinheiro. Mas tem um detalhe: tudo se compra, menos a vida. A vida se gasta. E é lamentável gastar a vida para perder a liberdade.”

DivulgaçãoHumanos
Cena do filme apresenta um momento de união: necessidade inata de cada um é se reconhecer no outro

O que nos faz humanos?

O ponto de partida de Yann Arthus-Bertrand foi trazer à tona o que nos une como seres humanos. “Todos nós temos a mesma sede por amor, liberdade e reconhecimento? Em um mundo dividido entre tradição e modernidade, nossas necessidades fundamentais permanecem as mesmas? No fundo, o que significa ser humano hoje? Qual o significado da vida? Será que as nossas diferenças são tão grandes? Será que, de fato, compartilhamos mais valores do que poderíamos ter imaginado? E se assim for, por que não conseguimos compreender um ao outro? Eu queria colocar estas questões e discussões sobre a humanidade num projeto que parecia ser utópico e irreal à primeira vista”, acrescenta.

Produzido com o apoio da Fundação GoodPlanet e da Fundação Bettencourt Schueller, Humano – Uma Viagem Pela Vida, estreou no Salão da Assembleia Geral das Nações Unidas, em uma sessão especial em homenagem aos 70 anos da organização. Com trilha sonora de Armand Amar, este longa-metragem é considerado como o mais político de Yann. “Ao colocar os grandes problemas da humanidade – pobreza, guerra, imigração, homofobia – no coração do filme, me deparei com alguns problemas de política. Contudo, as entrevistas nos contam sobre todos os assuntos, das dificuldades em crescer à busca por amor e felicidade. É essa vasta riqueza do interior humano que está retratado em Humano – Uma Viagem Pela Vida.”

Ao final, depois de escutar tantas histórias emocionantes, apelos desesperados, desabafos, sonhos e histórias de amor e felicidade, o espectador entende que o que Yann queria com o filme era fazer com que todos pudessem se reconhecer no outro mesmo que este outro seja completamente diferente em sua superfície. Trata-se de uma jornada pela natureza humana, que “nos encoraja a compreender o que nos separa, para descobrir o que nos une, e finalmente, entender que o outro é muitas vezes uma pequena parte de nós mesmos.”

Mais que uma declaração de amor ao próximo, o filme é uma espécie de grito pela paz e pela justiça no mundo. Um emocionante apelo que dá esperança de que dias melhores podem vir por aí.

Humano – Uma Viagem Pela Vida
Título Original:Human
Direção: Yann Arthus-Bertrand
País: França
Ano: 2015
Duração: 191 min
Distribuição: Sato Company

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