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Revista Fórum lança ‘Golpe 16’, com análises sobre construção do impeachment

'Quando registramos o golpe ao longo de seu processo, conseguimos entender sua construção: como esse golpe aconteceu; quais as condições criadas para essa ruptura', afirma editor do livro

Roberto Stuckert Filho/PR

Além de artigos de intelectuais, blogueiros e jornalistas, o livro contém uma entrevista com Dilma

São Paulo – O livro Golpe 16, organizado pelo jornalista Renato Rovai e promovido pela revista Fórum, com análises da mídia alternativa sobre a construção do processo que levou ao impeachment da presidenta Dilma Rousseff, será lançado nesta segunda-feira (12), às 19h, na sede do Sindicato dos Engenheiros de São Paulo. “Um dos pontos que motivou o lançamento do livro foi de reconhecer quem alerta e analisa, há tempos, a construção de condições para a tomada de poder no país de forma não democrática”, afirmou o editor Glauco Faria.

O livro contém artigos de jornalistas, blogueiros e intelectuais, entrevista com Dilma e prefácio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Quando registramos o tema do golpe ao longo de seu processo, conseguimos entender sua construção: como esse golpe aconteceu; quais as condições criadas para essa ruptura. É importante mostrar que parte da mídia alternativa vem trabalhando para consolidar a democracia brasileira”, disse Glauco.

Os artigos apresentam diversidade temática. “Por exemplo, o professor Dennis de Oliveira, da USP, toca na questão racial. Já que o golpe é contra o povo, ele também tem a intenção de frear os avanços relativos à questão racial. Tem a questão do machismo e da misoginia, abordada pela Cynara Menezes (autora do blog Socialista Morena)”, explicou.

Para os realizadores, o processo de impeachment de Dilma apresenta uma estrutura de golpe pós-moderno. “Isso porque ele não foi feito com baionetas, com tanques. Ele é jurídico, parlamentar e midiático”, disse.

Como obra realizada a partir de análises de membros da mídia alternativa, a democratização do setor passa pela construção do golpe. “A concentração da mídia está bastante presente. Antes, eu achava que as reformas política e tributária seriam pontos-chave para continuar no enfrentamento da desigualdade. Mas a concentração da mídia é algo que talvez esteja em um ponto acima. Isso, porque a mídia amalgama opiniões. Mesmo com a resistência, a briga é desigual. Conseguimos algumas vitórias, mas não ganhamos campeonato”, disse Glauco.

Para o jornalista, a mídia alternativa tem sido fundamental para o contraponto. “Mas precisamos insistir na questão da democratização da comunicação. A regulação de grandes meios, a proibição da propriedade cruzada e tantos outros aspectos que são contemplados em qualquer país capitalista”, disse. Segundo Glauco, não há nada de “bolivariano” nisso. “Estamos falando de modelos de controle utilizados nos Estados Unidos e Europa. Aliás, a concentração é anticapitalista e antiliberal.”

Neste ponto, segundo o editor, o governo de Michel Temer vem apresentando sistematicamente o “sufocamento de qualquer voz dissonante”. Entre os atos que contribuem para este cenário, estão os ataques à Empresa Brasileira de Comunicação (EBC). “Teremos um embate pela frente. Veja a questão da EBC e do corte de verbas publicitárias para a mídia alternativa. À medida que isso vai acontecendo, vemos o sufocamento. O governo golpista não quer oposição.”

Bolha de interesses

Aprofundar o debate sobre os recentes acontecimentos políticos do Brasil é um dos objetivos da obra. “Estamos passando por um momento histórico. Um momento de ruptura democrática, como foi em 1964 (golpe civil-militar). A literatura é importante para termos um registro, ela marca uma amplitude maior de pontos de vista”, observou.

Questionado sobre a maior amplitude do alcance de uma obra impressa, Glauco Faria disse que “boa parte dos livros vai ser lida por pessoas que já têm certa afinidade com essa posição política. Mas tem uma parte que vai ter contato com outros argumentos e com outro tipo de análise que é difícil ter na internet. Nas redes sociais, tudo é muito imagético e rápido. Muitas vezes, as pessoas reproduzem lugares comuns, alguns superficiais. E quando elas se deparam com uma leitura dessas, podem ter outro tipo de visão, fundamentar e fazer uma reflexão.

Serviço
Evento: Lançamento do livro Golpe 16
Data: 12/9
Horário: 19h
Local: Sindicato dos Engenheiros de São Paulo, Rua Genebra, 25, Bela Vista