Tinta Vermelha

Coletânea de artigos traça painel do golpe do impeachment contra o trabalhador

Obra reún­e textos, charges e fotos de mais de 30 autores, como André Singer, Ciro Gomes, Laerte Coutinho, Guilherme Boulos e Jandira Feghali. Lançamento é hoje (15), em São Paulo

divulgação

‘Uma grande tormenta se desenha no horizonte, uma tragédia para os que sonham viver num país desenvolvido com justiça social’

São Paulo – A editora Boitempo promove hoje (15), às 18h, na Quadra dos Bancários, centro de São Paulo, o lançamento do livro Por que Gritamos Golpe? – para entender o impeachment e a crise política no Brasil. A obra faz parte da Coleção Tinta Vermelha e reún­e textos, charges e fotos produzidos por mais de trinta autores, entre os quais André Singer, Ciro Gomes, Eduardo Fagnani, Laerte Coutinho, Guilherme Boulos, Jandira Feghali, Marilena Chaui, Roberto Requião e Juca Ferreira.

Os autores – pesquisadores, professores, ativistas, representantes de movimentos sociais, jornalistas e figuras políticas – devem participar do evento de lançamento, que é gratuito e aberto ao público.

O prefácio, escrito pela secretária nacional de relações de trabalho da CUT, Graça Costa, afirma que o golpe de 2016 é contra o povo trabalhador e incita a resistência de todos que sonham em viver num país desenvolvido com justiça social. “Assistimos atônitos, à luz do dia, a movimentos rumo ao desmonte do Estado. Proposta de privatização do patrimônio público e desvinculação constitucional dos gastos sociais obrigatórios visam instituir um Estado mínimo no Brasil, com todos os prejuízos que isso traz para as políticas públicas de proteção social”, escreve.

Segundo Ivana Jinkings, editora da Boitempo e uma das organizadoras da obra, um dos méritos do livro é o ineditismo dos textos publicados. “Não tem nenhum texto no livro que não seja inédito de alguma forma. O André Singer, por exemplo, tinha feito uma palestra e construiu o texto a partir dela.”

RBA
Livro traz charges da cartunista Laerte, como esta, ícone do processo golpista no país

Ivana explica que o livro foi concebido e publicado com velocidade rara no mercado editorial. A publicação foi definida em meados de maio, quando o impeachment já tinha sido aprovado na Comissão Especial do Senado. A realização rápida do projeto decorreu do fato de que os autores foram “movidos pela urgência da pauta”.

A intenção foi mostrar posições diversas abordando os efeitos do processo golpista no país em várias  áreas, como na economia, na cultura e na questão da diversidade sexual.

“O governo de Michel Temer, até este momento interino, apresenta um programa claramente neoliberal. Com algumas diferenças, é o mesmo responsável pela quebra dos países dos sul da Europa e vem sendo implementado em diversos lugares, com características locais, mas sempre com igual sentido”, escreve, por exemplo, André Singer, no artigo “Por uma frente ampla, democrática e republicana”.

Temas como a democracia, a economia, o judiciário, as políticas sociais, a política externa, a cultura, as lutas das mulheres, dos negros, dos LGBTs, da juventude e a própria legitimidade da ruptura institucional são examinadas nos artigos encomendados especialmente para a edição. As críticas aos golpistas, assim como em muitos casos ao governo de Dilma Rousseff, perpassam toda a obra.

Ciro Gomes é um dos autores que apontam os erros do governo Dilma mas, apesar da crítica, o ex-governador do Ceará defende que não é com impeachment que se resolve a situação. “É importante sempre lembrar para a população brasileira que impeachment não é remédio para governo ruim. O que devemos fazer é garantir a ordem democrática e exigir, cobrar dos governantes que realizem aquilo para o qual foram eleitos. Governo ruim passa ligeiro, mas romper com a democracia significa colocar em risco nosso país por muitos anos a frente.”

A própria Ivana escreve na apresentação: “Não temos apenas um governo ilegítimo e composto pelo que há de mais nefasto na vida política brasileira. Há senhores e senhoras elegantes, cultos e viajados a cuidar do que importa. ‘Gente do mercado’, como se diz com orgulho, para concretizar um processo de concentração de renda e retirada de direitos duramente conquistados pelas camadas mais pobres do país ao longo de anos de luta.” Segundo o texto, o que se pretende com o golpe “é acabar com o pacto resultante da democratização do Brasil há três décadas, consubstanciado na Constituição de 1988”.

O livro é lançado num momento de muita preocupação com os rumos do país, a ascensão do conservadorismo, as pautas da direita no Congresso Nacional e dificuldades na esquerda.

“Mas o que sinto é que existe uma juventude reagindo, um movimento novo nas ruas, que está passando ao largo dos partidos de uma forma não tão orgânica. O impeachment teve o mérito de fazer com que a esquerda, sempre muito dividida, se unisse em torno pelo menos dessa pauta de ser contra o impeachment sem crime de responsabilidade”, diz Ivana.

Apesar de tudo, “não é um momento para desanimar”, acredita. “A gente tem uma luta, precisamos reconstruir a unidade das esquerdas, reconstruir a esquerda. A luta continua.”

Censura

A disseminação de práticas de censura no país, fenômeno que recrudesce com a instalação do governo provisório, é preocupante. “Tudo o que a gente não gostaria de ver é um retorno desse tipo. Mas a gente tem visto que está acontecendo”, diz Ivana.

No entanto, a censura que ameaça o país, a educação e a cultura não teria ou não terá um caráter de proibir que se publiquem livros, por exemplo. Ela é mais sutil. O filme Aquarius, dirigido por Kleber Mendonça Filho, diz Ivana, perdeu recursos de patrocínio da Petrobras para distribuição, depois do ato de protesto do elenco contra o golpe, em Cannes.

“Existem mil formas de se tentar calar a esquerda, as vozes dissonantes. Você faz programas de aquisição para bibliotecas e exclui editoras, por exemplo. Temos visto os casos da TV Brasil, dos órgãos da imprensa independente. Querem calar toda a imprensa independente. Isso é muito perigoso.”

Os textos, fotos e charges foram cedidos gratuitamente, o que possibilitou que o livro seja vendido a preço de custo (R$ 15,00 o impresso, R$ 7,50 o e-book).

Lançamento:
Por que gritamos Golpe? Para entender o impeachment e a crise política no Brasil
Quando: sexta-feira, dia 15, a partir das 18h
Onde: Quadra dos Bancários
Rua Tabatinguera, 192, próximo à estação de metrô Sé
Organização: Boitempo
Apoio: Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região

Ficha Técnica
Coleção: Tinta Vermelha
Editora: Boitempo
Autores:André Singer, Armando Boito Jr., Ciro Gomes, Djamila Ribeiro, Eduardo Fagnani, Esther Solano, Gilberto Maringoni, Graça Costa, Guilherme Boulos, Jandira Feghali, Juca Ferreira, Leda Maria Paulani, Lira Alli, Luis Felipe Miguel, Luiz Bernardo Pericás, Marcelo Semer, Márcio Moretto, Marilena Chaui, Marina Amaral, Mauro Lopes, Michael Löwy, Murilo Cleto, Pablo Ortellado, Renan Quinalha, Roberto Requião, Ruy Braga, Tamires Gomes Sampaio e Vítor Guimarães
Organizadores: Ivana Jinkings, Kim Doria e Murilo Cleto
Quarta capa:Luiza Erundina e Boaventura de Sousa Santos
Epígrafe: Paulo Arantes
Charges: Laerte Coutinho
Fotografias: Mídia Ninja
Número de páginas: 176
Preço:R$ 15 e R$ 7,50 (ebook)