Brasília

‘A aceitação do cabelo afro não é só uma questão estética, é política’

Exposição 'Raízes', de Sophia Costa, aborda o papel do cabelo na construção da identidade da mulher negra

Divulgação

Sophia: ‘A relação da mulher negra com o cabelo é extremamente complexa desde à infância, é dolorosa e deixa marcas’

Alisamentos, relaxamentos, hidratações constantes. Desde criança, Sophia Costa tinha uma rotina intensa para deixar seu cabelo afro o mais liso possível. Desde os 13 anos, ia ao cabeleireiro semanalmente para lavar e fazer escova. Quando entrou na faculdade de Publicidade e Propaganda, na Universidade de Brasília (UnB), notou que muitas garotas assumiam o cabelo afro e descobriu, enfim, a beleza de deixá-los naturais. Foi dessa experiência pessoal que nasceu a exposição Raízes, que fica em cartaz de amanhã (24) a 3 de julho no Terraço Shopping, em Brasília.

“A relação da mulher negra com o cabelo é extremamente complexa desde a infância, é dolorosa e deixa marcas. É incrível como, quando essas mulheres fazem o caminho inverso e tentam resgatar suas raízes por meio de seus cabelos, elas passam a, não só se aceitar, como a se empoderar”, afirma o texto de apresentação da mostra, que é resultado do projeto de conclusão de curso da publicitária.

A ideia do projeto nasceu durante a graduação, quando Sophia decidiu fazer a transição capilar. “Eu percebi que eu não gostava daquele cabelo liso que eu estava usando. Ele não me fazia feliz. Eu estava usando porque era obrigada, porque achava que só seria considerada bonita daquele jeito. Daí, eu comecei a ver outras meninas com cabelo crespo e natural e comecei a querer conhecer a estrutura do meu cabelo. Este foi um processo muito importante para mim. Eu conheci várias outras meninas que estavam passando pela mesma situação e percebi a importância do cabelo na construção da identidade da mulher negra.”

A exposição, que tem como tema principal o cabelo e seu papel de construção da identidade da mulher negra, exibe fotografias de 12 mulheres negras que trazem uma profunda ligação com seus cabelos – inicialmente, de negação, e, depois, de aceitação. Todas estão representadas como rainhas, deusas ou guerreiras, com roupas que destacam e promovem os penteados afro.

A escolha do número 12 não foi aleatória: “O número doze é interpretado como centro de essência dos objetos e, muitas vezes, representa o final de um ciclo (12 meses do ano, 12 signos, 12 apóstolos). Esse número foi escolhido para passar a ideia de que no centro da formação da identidade da mulher negra está o cabelo, e que quando a mulher assume a força que ele representa, ela finaliza esse ciclo de autorrejeição e passa a se amar do jeito que ela é”.

Sophia Costa afirma que sua vida mudou depois de ter aceitado seu cabelo afro: “Hoje, eu sou outra pessoa. A minha visão de mundo e minha visão em relação a mim mesma e às outras pessoas é outra. Meu referencial de beleza é outro, eu enxergo a beleza do cabelo crespo. Se antes era algo de muita rejeição – tanta, que eu não queria nem mesmo tocar no meu cabelo –, hoje eu amo meu cabelo, conheço sua estrutura e sei cuidar dele. Eu comecei a querer mudar meu cabelo por uma questão estética, mas depois percebi que não era só isso: a aceitação do cabelo afro não é só uma questão estética: é política também”.

Raízes
Quando: de 24 de junho a 3 de julho, das 10h às 22h
Onde: Terraço Shopping
SHC entrequadras 2/8 lote 5 Octogonal Sul, em Brasília
Quanto: grátis
Mais informações: (61) 3403-2992