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‘Tempo Suspenso’ leva ao palco situações vividas por refugiados em SP

Em peça que mistura teatro falado, dança, performance e vídeo, Cia. Artesãos do Corpo discute o estado de suspensão vivido pelos refugiados, suas dificuldades e os preconceitos dos quais são vítimas

Divulgação

Mirtes Calheiros: ‘A situação do refúgio amplia os problemas da cidade como uma lupa’

De hoje a domingo (28 a 1º), a Companhia Artesãos do Corpo leva aos palcos do Centro Cultural Galeria Olido a peça Tempo Suspenso, um espetáculo que mistura dança, teatro falado, performance e apresentação de vídeo. O tema gira em torno das dezenas de refugiados que chegam a São Paulo todos os dias, fugindo de situações de guerra e dos mais diversos tipos de conflitos que os obriga a abandonar seus lugares de origem.

Segundo a socióloga, bailarina e diretora do espetáculo Mirtes Calheiros, a ideia da obra surgiu quando a companhia se apresentava em Lisboa, exatamente um dia depois de ter ocorrido o primeiro naufrágio de grande repercussão mundial no Mediterrâneo, mais precisamente na costa de Lampedusa, na Itália. “Em meio à performance que ocorria na chuva, um dos movimentos que surgiu foi o de estender as mãos em direção ao chão para tentar retirar uma pessoa da água. Pronto! Estava ali o tema de nossa próxima criação. O refúgio e os efeitos no corpo da perda e da busca de um lugar. Ao mesmo tempo, começava a chegar em São Paulo um número considerável de imigrantes, principalmente haitianos, causando as mais diferentes reações na cidade”, lembra.

Em sua pesquisa para a realização do espetáculo, o grupo trabalhou com os participantes do Projeto Pastoral do Migrante, em São Paulo, tanto com refugiados quanto com os acolhedores. Mirtes Calheiros afirma que em suas montagens procura incitar a sensibilidade e a conscientização para temas importantes e atuais: “Para a criação de Tempo Suspenso, nosso grupo, formado por bailarinos, performers, atores e pesquisadores de artes cênicas, trabalhou durante meses com os participantes – acolhidos e acolhedores – do projeto Pastoral do Migrante em São Paulo, no bairro do Glicério, que recebe pessoas nessas condições. A peça procura fazer uma análise sobre a situação desses indivíduos que, não sabendo nossa língua e partindo do zero, têm premência em suprir suas necessidades básicas, como moradia, trabalho e afeto”, comenta.

A peça é dividida em duas partes: na primeira, os sete bailarinos-atores traçam um panorama dos deslocamentos; na segunda, o foco é a chegada dos imigrantes a São Paulo. “Decidimos não personalizar as histórias e poupar pessoas que já passaram por tantos horrores. Ouvimos histórias de maneira mais indireta do que propriamente dos refugiados. Escolhíamos sempre a observação silenciosa, a distância. Mas de uma forma ou de outra eles acabavam se aproximando de nós e, aí sim, podíamos ouvir suas histórias, músicas, vozes, sabores e saberes. O contato com os refugiados logo nos mostrou que uma vez aqui no Brasil, eles passam pelos mesmos problemas que os brasileiros em situação de exclusão enfrentam. A situação do refúgio amplia os problemas da cidade como uma lupa”, lamenta a diretora.

Para ela, “a questão do refúgio é um desafio mundial e o momento atual, em que multidões se deslocam, seria propício para que as nações superassem os preconceitos e tentassem caminhar para um mundo mais humano e solidário. Em vez disso, o que se observa é que, enquanto o número de pessoas deslocadas não para de crescer, as nações repetem velhas estratégias de exclusão do diferente, para quem o tempo permanece suspenso”.

O espetáculo contemplado pelo 18º edital do Programa de Fomento à Dança, da Secretaria Municipal de Cultura, pretende promover uma reflexão sobre o tema a fim de diminuir os preconceitos contra os refugiados. “Em uma das experiências que tivemos na pastoral, ouvimos uma palestra na qual todos foram convidados a compartilhar suas origens. E não havia ninguém que não tivesse um antepassado que não tivesse vindo de outro país ou de outro estado do Brasil. Não sei que tipo de reflexões a plateia pode fazer ou que tipo de sensações terá. Espero apenas que lembrem que, sem perceber, já somos todos refugiados”, afirma a diretora Mirtes Calheiros.

Depois da temporada no Centro Cultural Galeria Olido, Tempo Suspenso entra em cartaz no Complexo Cultural da Funarte, de 3 a 19 de junho, com apresentações gratuitas.

Tempo Suspenso
Quando: de 28 de abril a 1º de maio
De quinta a sábado, às 20h, e no domingo, às 19h
Onde: Centro Cultural Galeria Olido, Sala Paissandu
Avenida São João, 473, Centro, São Paulo (SP)
Quanto: grátis, com retirada de ingresso uma hora antes do início da apresentação
Mais informações:
(11) 3331-8399
Duração: 75 minutos
Classificação: 14 anos

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