Teatro

‘Medo’ trata sobre os impactos da violência nas metrópoles

Espetáculo da Companhia de Teatro Heliópolis resgata memórias de mulheres que perderam seus filhos na série de ataques ocorridos em 2006, em São Paulo

Gustavo Guimarães Gonçalves/Divulgação

‘Trabalhamos com memórias de mães que perderam seus filhos, seja pela polícia ou pelo poder paralelo’

São Paulo – Medo e violência são os temas do novo espetáculo da Companhia de Teatro Heliópolis, que estreia amanhã (12), às 20h, na Casa de Teatro Maria José de Carvalho, no bairro do Ipiranga, zona sul da capital paulista. A peça Medo, baseada nos atentados ocorridos em 2006 na cidade de São Paulo, resgata memórias de mulheres que perderam seus filhos para a violência.

Os espectadores (apenas 15 por apresentação) farão um percurso sensorial pelo casarão de três andares onde viveu a pianista, cantora e ativista cultural Maria José de Carvalho, hoje sede da companhia. Luz, escuridão, cores, barulho, silêncio. Os oito atores do grupo guiam os “visitantes” numa experiência de sensações sobre o medo, em “uma atmosfera nebulosa, onde nada se revela totalmente”.

Com direção e concepção de Miguel Rocha e texto de Gustavo Guimarães Gonçalves, a trama traz à tona fragmentos de memórias que ocorrem em tempos diferentes, mas caminham paralelamente. Isso faz com que o passado, presente e futuro sejam percebidos de forma turva, como costumam ser nossas lembranças. “Abordamos o efeito do medo que nos torna reféns de uma situação, de uma lembrança. E quando tratamos do medo da violência, esse efeito fica ainda mais latente, pois nos grandes centros estamos sempre expostos à situações de risco”, afirma Miguel Rocha, que começou a fazer experimentos sobre o tema em 2014.

Segundo o diretor, o casarão de 1927 está bem deteriorado devido à falta de manutenção, o que contribui com a proposta da companhia de criar uma atmosfera que instiga medo. Os ambientes têm tons de preto e cinza e a iluminação varia entre tonalidades claras e escuras para remeter ao estado de penumbra. “A casa é labiríntica, e usamos tudo isso em favor do trabalho, para fazer o público se sentir perdido e sem referência do lugar onde está”, diz.

O grupo ressalta que não há violência explícita, que o “medo está contido na penumbra desse caminho, na ausência, na insegurança envolta pela névoa impalpável que geralmente perpassa nossas memórias”. A violência está, então, condicionada à subjetividade de cada espectador. “Trabalhamos com memórias de mães que perderam seus filhos, seja pela polícia ou pelo poder paralelo. Buscamos trazer à tona esse medo já em nós naturalizado, principalmente para quem vive em grandes metrópoles”, declara o diretor.

A companhia composta por jovens de Heliópolis já fez sete espetáculos, todos, de alguma forma, dialogam com a realidade do bairro. Medo não foge à regra. “Parto de uma reflexão de momentos diferentes na comunidade. Lembro que nos anos 2000, toda semana era possível presenciar corpos no chão pelas ruas da comunidade. Hoje, praticamente não se vê isso. Por outro lado, sabemos que coisas acontecem. E é sobre este medo que gostaríamos de falar neste trabalho. Medo fala daquilo que não é visto, mas é sentido”, completa Miguel Rocha.

Para assistir ao espetáculo é necessário fazer reserva.

Medo
Estreia: 12 de março, às 20h
Temporada: 5 de março a 8 de maio, aos sábados e domingos, às 20h
Onde: Casa de Teatro Maria José de Carvalho
Rua Silva Bueno, nº 1533, Ipiranga, São Paulo
Duração: 70 minutos
Gênero: drama
Classificação: 14 anos
Quanto: R$ 20,00 e R$ 10,00 (meia-entrada)
Somente com agendamento pelo [email protected]
Capacidade: 15 pessoas
Mais informações:(11) 2060-0318
Aceita somente dinheiro
Não possui acessibilidade

Ficha técnica
Concepção e encenação: Miguel Rocha
Texto: Gustavo Guimarães Gonçalves
Elenco: Alex Mendes, Dalma Régia, Francyne Teixeira, Gustavo Rocha, Janete Rodrigues, Klaviany Costa, Lucas Ramos e Walmir Bess
Instalação cênica: Samara Costa e pinturas de Isabelle Benard
Figurino: Samara Costa
Iluminação: Toninho Rodrigues, Rodrigo Alves e Miguel Rocha
Sonoplastia: Giovani Breissanin
Sonorização: Giovani Breissanin e Lucas Breissanin
Realização: Companhia de Teatro Heliópolis

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