Cinema nacional

Documentário relembra trajetória e pilantragem de Carlos Imperial

Dos mesmos diretores de 'Uma Noite em 67', 'Eu Sou Carlos Imperial' resgata memória de um dos personagens mais cafajestes, sarristas e polêmicos da cena cultural brasileira

Divulgação

No filme, Marcos Gracie, filho de Imperial, relembra como seu relacionamento com o pai foi difícil

Carlos Imperial foi produtor musical, compositor, cantor, ator, diretor de cinema, um dos pioneiros do rock nacional, apresentador de TV, colunista de jornal, produtor teatral, dirigente de futebol, político e, acima de tudo, um grande polemista. Ele foi o responsável por revelar nomes como Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Elis Regina, Wilson Simonal, Tim Maia, Paulo Silvino, entre outros artistas brasileiros. O “Rei da Pilantragem”, como é conhecido, é o personagem central do documentário Eu Sou Carlos Imperial, de Renato Terra e Ricardo Calil.

Com estreia quinta-feira (17) nos cinemas, o filme resgata parte da trajetória de Imperial, figura controversa porém fundamental para a cultura nacional, autor dos sucessos A Praça, Vem Quente que Eu Estou Fervendo, Mamãe Passou Açúcar em Mim e Nem Vem que Não Tem.

O longa-metragem dos mesmos diretores do documentário Uma Noite em 67 relembra muitas das traquinagens e “cafajestagens” do capixaba mais carioca do Brasil. Além de declarações de Roberto Carlos, Erasmo Carlos, Eduardo Araújo, Tony Tornado, Paulo Silvino, Dudu França e dos filhos Maria Luiza e Marcos Gracie Imperial, o filme traz depoimentos de arquivo do próprio artista. Um dos destaques é uma entrevista que ele concedeu ao jornalista Paulo César de Araújo, considerada até então inédita.

As lembranças da família, dos amigos e parceiros acabam se misturando com histórias verdadeiras e outras encenadas por Imperial. Algumas de suas mais famosas mentiras são relembradas no filme, como por exemplo quando ele espalhou que Asa Branca, de Gonzagão, tinha sido gravada pelos Beatles. Outra lorota memorável é sobre o tiro que levou no joelho na prisão de Ilha Grande, quando foi preso pela ditadura militar por ter enviado para vários generais um cartão Natal no qual aparece nu em uma privada fazendo a pose da escultura O Pensador, de Rodin, com a mensagem “Que Papai Noel não faça no seu sapato o que eu estou fazendo neste cartão”.

“Ele mentia pra caramba, assumia a mentira como verdade e sacaneava as pessoas”, afirma Erasmo. O compositor João Roberto Kelly relembra outra armação: “A Praça fez um sucesso estrondoso, mas (no começo) a música não pegava. O Imperal bolou uma das ‘campanhas’ dele. Ele pegou um jornalista amigo dele e falou pra inventar que a música era de um sujeito lá de Minas”. Edson Silva conta que foi “contratado” para dizer nos jornais que a música era dele. A polêmica teve, enfim, o efeito desejado: A Praça virou um grande sucesso na voz do cantor Ronnie Von, o “príncipe” da Jovem Guarda.

Mas o filme deixa claro que os feitos de Carlos Imperial não se limitaram apenas aos sucessos que ele revelou. Ele se apropriou de composições que não eram apenas suas (como declaram Eduardo Araújo e Dudu França); e não titubeou em difamar desafetos, pessoas que, sentindo-se lesadas, decidiram processá-lo. Um dos casos mais conhecidos é o ator Mário Gomes, vítima de uma conhecida mentira que envolvia um legume.

SarristaBaseado na biografia Dez, Nota Dez – Eu Sou Carlos Imperial, de Denilson Monteiro (um dos roteiristas), o documentário traz um bem-humorado retrato de uma figura que gostava de ser chamada de cafajeste, mulherengo, malandro e encrenqueiro. “Pode ser que na cabeça dele, ele achasse que o cara do bem não seria nunca sucesso, porque é o cara bonzinho, o mocinho da história… E uma vez, ele até me falou isso: ‘Tony, o mocinho é um chato, o mocinho tem que estar com a barba bem feita, o mocinho não pode falar palavrão, o mocinho, antes de tudo, é um babaca!’”, relembra o ator e cantor Tony Tornado.

Com exceção das entrevistas com os filhos dele – que resgatam histórias tristes e absurdas que viveram na infância e adolescência – a imagem que o filme deixa é de um bonachão, uma pessoa brincalhona que, muitas vezes, passava do limite. Mas além de seu humor, talento e das histórias muitas vezes engraçadas das quais foi protagonista, também fica claro seu caráter duvidoso, seu machismo extremo e o enorme ego. É preciso ir ao cinema consciente de que o “politicamente correto” está fora de cartaz neste filme.

Assim como em Uma Noite em 67, em Eu Sou Carlos Imperial, Renato Terra e Ricardo Calil constroem uma narrativa envolvente que prende o espectador do início ao fim pela boa história, pela qualidade da pesquisa e das entrevistas e pela ótima trilha sonora.

CartazEu Sou Carlos Imperial
Direção: Renato Terra e Ricardo Calil
Roteiro: Renato Terra, Ricardo Calil e Denilson Monteiro
Produção: Alexandre Rocha e Marcelo Pedrazzi
Produção executiva: Carolina Benevides e Julio Carvana
Direção de arte: Emily Pirmez
Som direto: Valéria Ferro
Edição de som e mixagem: Gabriel Pinheiro
Direção de fotografia: Jacques Cheuiche
Montagem: Jordana Berg, Edt.
Distribuição: Bretz Filmes
País: Brasil
Duração: 90 minutos