vingança

Livro conta a volta por cima de mulher que descobre traição do marido

'32 – Um Homem para Cada Ano que Passei com Você' narra a vingança de Isabel Dias, uma administradora de mais de 50 anos que retomou a autoestima quando redescobriu sua liberdade sexual

Foto da capa: Graciela Lindner/ Divulgação

Capa reverencia a famosa foto em que a feminista francesa Simone de Beauvoir está nua no banheiro de seu amante

“Família formada, vida estável e exemplar no interior de São Paulo.” A administradora Isabel Dias achava que seu casamento de 32 anos, apesar de morno, ia bem, até que descobriu que seu marido a traía com quatro mulheres simultaneamente. O primeiro homem de sua vida virou sapo e ela desmoronou em lágrimas, ira e lamentações. Vacilou, teve medo, mas anular-se e continuar o casamento apenas pelo conforto estava fora de cogitação. Ela saiu de casa, da cidade e da zona de conforto e sentiu necessidade de se vingar. Decidiu que sairia com a quantidade de homens proporcional ao número de anos em que esteve comprometida com o traidor. Esta é a história de 32 – Um Homem para Cada Ano que Passei com Você (Editora Livros de Safra, 216 págs.), que será lançado em São Paulo amanhã (20), a partir das 18h30, na Livraria da Vila, em Higienópolis, com a presença da autora.

O livro não é um romance, é a história real de Isabel, que se transformou em Estela em sites de relacionamento para selecionar os homens com quem sairia. Foi a maneira que ela encontrou para superar o luto da morte do casamento. “A última a saber ficou sabendo, a casa caiu, o lar doce lar desmoronou depois de 32 anos de vida conjugal, três filhos e um farto álbum de retratos de família aparentemente feliz do interior paulista. E da fúria de uma mulher ferida, a administradora de empresas Isabel Dias, 50 e alguns anos, viveu o luto amoroso e refez, sob a lei do desejo, a dignidade de estar viva e no jogo da existência”, descreve o escritor Xico Sá no prefácio.

Uma mulher conservadora, cheia de preconceitos (contra gordos, pessoas que moram nos “cafundós do Judas” e outros que escapam na narrativa), vai aos poucos se libertando de algumas amarras e reaprende a se divertir mesmo com a dor ainda latente. A cada nova experiência, ela pensava em desistir, mas ia além e, muito mais do que se vingar, ela acaba se redescobrindo a cada novo homem.

A forma com que conta suas experiências é simples, com ares de diário de adolescente, mas cujas descrições vão ficando cada vez mais apimentadas. Ela divide com o leitor tudo o que passou, suas descobertas e os riscos que correu durante o processo.

Um dos sustos que tomou foi com Benê, um promotor, machão e autoritário que a levou para dançar e, depois, no motel, tentou forçá-la a fazer algo que não queria: “Me acusou de atiçá-lo e de estar pulando fora. O tipo de gente que justifica estupro pela saia curta da vítima, e falou bobagens demais. Não soube perder e eu acabei com muito medo”, conta.

Gabriel Cabral/Divulgação
‘Eu não estava fazendo nada errado! Eu não devia nada a ninguém. Quem tinha que responder eram eles’

“Eu não era só aquilo”

As frases prontas e o discurso às vezes esvaziado pelo ódio vão aos poucos dando lugar a reflexões mais profundas sobre sua vida, suas relações e expectativas: “Mas cada um dos 31 encontros foi real dentro do processo de mudança da minha imaginação, me deu tudo o que eu queria, ou que eu precisava. Não sei bem por que sinto que mais os usei do que qualquer outra coisa. A intenção era aprender, me sentir no controle, provar que eu não era só aquilo e que cada um deles abriria uma porta, entre as tantas que estavam trancadas. Nem que fosse para arrombá-las, uma a uma. Nem que a dor fosse maior que o prazer, nem que o asco superasse o gozo”.

Desta vez, era ela que estava do outro lado da moeda, passava de mulher traída a amante. “Não escondo que vários dos meus encontros eram com homens casados. Declaradamente casados e com aquela conversinha do ‘só estamos juntos por causa dos filhos, da família’, que é pura babaquice. Eles estavam juntos só porque não têm coragem de confessar que eram infelizes. Estavam contentes enganando o mundo e não percebiam que poderiam estar sendo tão enganados como qualquer outro.”

Já muito mais segura e dona de si mesma, Isabel dá um olé na hipocrisia de uma sociedade machista onde a culpa da traição é sempre da mulher: “Só que eu não estava fazendo nada errado! Eu não devia nada a ninguém. Quem tinha que responder eram eles. Quando eu descobri a traição depois de 32 anos, inicialmente eu queria matar a Cláudia, bater na Raquel… Mas isso não adiantaria de nada! Porque o puto sempre foi ele; e ele continuaria a achar outras ‘Claudias’ ou ‘Raqueis’”, escreve.

De Rodrigo, o menino, passando por Victor, o insaciável, até chegar ao 32º, Ricardo, o experiente, é claro que o percurso de Isabel teve medo, insegurança com o corpo, neuras com a idade e tantas outras barreiras pelo caminho. Mas o que se sobressaiu foi uma mulher que aprendeu a se dar valor, a reconhecer sua beleza e suas qualidades. “32 pode servir como um relato encorajador para outras mulheres na mesma situação, pode despertar sonhos calientes e unissex, pode causar a ira conservadora das criaturas ditas certinhas e covardes para as mudanças… Pode tudo isso. Mas o que importa mesmo é que estamos diante de uma bela narrativa, de quem viveu para contar e de quem soube contar os homens da forma mais prazerosa possível”, anuncia Xico Sá na abertura do livro.

Não dá para dizer que 32 – Um Homem para Cada Ano que Passei com Você sejaum livro feminista porque ele escorrega em vários estereótipos opostos ao que a doutrina preconiza. Mas ele conta a história de empoderamento de uma mulher, o que, numa sociedade machista como a nossa, não é pouco. De qualquer forma, para celebrar o movimento, a autora e a editora decidiram estampar a capa do livro com imagens que reverenciam a famosa foto em que a feminista francesa Simone de Beauvoir está nua no banheiro de seu amante, Nelson Algren, na década de 1950. Ao todo, serão 32 capas com diferentes mulheres que aparecem nuas e que, anonimamente, contam suas histórias de traição na orelha do livro.

Lançamento: 32 – Um Homem para Cada Ano que Passei
Quando: terça-feira, 20 de outubro, das 18h30 às 22h
Onde: Livraria da Vila de Higienópolis
Avenida Higienópolis, 618, São Paulo (SP)

Ficha técnica
Autora: Isabel Dias
Editora: Livros de Safra (Selo Da Boa Prosa)
Páginas: 216
Acabamento: Brochura
Formato: 210mm x 140mm
Peso: 250g
Foto da capa: Graciela Lindner
Preço: R$ 38,60