Cinema

‘Party Girl’: nem sempre é fácil aceitar o envelhecimento

Filme se baseia na história real da mãe de um diretores, Samuel Theis, uma senhora de 60 anos, hostess de um cabaré que, por medo de envelhecer sozinha, aceita se casar com um de seus clientes

Divulgação

O drama de Angélique começa quando Michel, um cliente apaixonado e gentil, decide pedir sua mão em casamento

A imagem estereotipada de uma simpática senhora tricotando em uma confortável poltrona passa bem longe de Party Girl, filme francês que estreia hoje (6) com exclusividade no CineSesc, em São Paulo. O primeiro longa-metragem dos diretores Claire Burger, Marie Amachoukeli e Samuel Theis é uma ficção livremente inspirada na história da mãe de Theis, Angélique Litzenburger, uma hostess de 60 anos que gosta de festa, de homens e de álcool.

Sua função no cabaré onde trabalha é fazer com que os homens que vão ver os shows das dançarinas sintam-se acolhidos e, acima de tudo, incentivá-los a comprar garrafas de champagne. Seu passado de dançarina sensual (“com elegância”, faz questão de salientar) está sempre presente em seus dias que já não trazem o glamour de antigamente. Seu corpo e sua aparência não são mais joviais, mas a maneira com que vive ainda pretende ser.

De natureza irredutível e forte, Angélique parece conviver bem com as escolhas que fez em sua trajetória: apesar da vida noturna, ela teve quatros filhos, entre os quais uma que teve de ser criada por uma família adotiva. O drama começa quando Michel (Joseph Bour), um cliente apaixonado e gentil, decide pedir sua mão em casamento.

Com uma clientela cada vez mais rara e a certeza de que sua festa está no fim, a hostess aceita o pedido e trata de organizar os preparativos para a cerimônia. Assim começam as reuniões e os conflitos de família (todos interpretados pelos filhos reais de Angélique). Antigas feridas começam vir à tona, especialmente no que diz respeito à sua relação com Cynthia, a filha com quem nunca conviveu.

Apesar dos conflitos, os filhos parecem aliviados porque, enfim, Angélique terá uma vida mais “regrada” ao lado de alguém que se importa de verdade com ela. A única coisa que o noivo, um mineiro aposentado, claramente deseja é que sua futura esposa assuma o papel de dona do seu coração.

O filme, que ganhou o prêmio Caméra D’Or no Festival de Cannes, é uma espécie de retrato amoroso de uma mulher “sexygenária” forte, independente, bonita, divertida e com uma vida fora de padrões sociais impostos. Sem julgar, o longa-metragem vai apresentando aos poucos ao espectador as camadas que compõem um personagem complexo – na vida e nas telas: o cabaré, a solidão, as incertezas sobre o futuro, as (sempre complexas) relações familiares, a tentativa de se adequar e as lutas internas.

O filme empresta o nome de sua música-tema, título do álbum homônimo lançado em 2007 por Chinawoman, um som melancólico e sedutor, assim como Angélique. Party Girl, garota festeira, do inglês, mergulha delicadamente nos medos e inseguranças que a idade traz. E questiona: envelhecer deve ser sinônimo de fim de festa e da diversão?

Party Girl
Direção e
roteiro: Marie Amachoukeli, Claire Burger e Samuel Theis
Elenco: Angélique Litzenburger, Joseph Bour, Mario Theis, Samuel Theis, Séverine Litzenburger e Cynthia Litzenburger
Produtor: Marie Masmonteil e Denis Carot
Direção de fotografia: Julien Poupard
Direção de arte: Nicolas Migot
Montagem: Frédéric Baillehaiche
Diretor de produção: Claire Trinquet
Produção: Elzévir Films
Distribuição: Supo Mungam Films
País: França
Ano: 2014
Duração: 95 minutos
Classificação indicativa: 14 anos

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