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Emicida lança minidocumentário sobre o clipe ‘Boa Esperança’

Filme dirigido por Kátia Lund e João Wainer é uma espécie de 'making of' que discute racismo, preconceito e falta de respeito com trabalhadores domésticos

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Clipe e documentário de Emicida questionam os efeitos que a escravidão ainda traz para a sociedade brasileira

Quase um mês depois de lançar na rede o clipe da música Boa Esperança, Emicida apresenta um minidocumentário que mostra os bastidores da filmagem e entrevistas com os atores e a equipe sobre racismo e segregação. A música é o primeiro single do álbum Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa, que deve ser lançado ainda em agosto. A letra trata sobre um grupo de empregados domésticos de uma mansão que, depois de sofrer todo tipo de humilhação, se rebela contra os patrões e incita uma revolução em todo o país.

“Acho que tem uma parada muito louca que a gente precisa discutir: uma é a escravidão e outra é o modus operandis da escravidão, que está presente até o dia de hoje na realidade brasileira. Uma pessoa te remunerar por um serviço não significa que aquela pessoa, em instância alguma, é dona de você, que ela tem poder para fazer qualquer exigência que não seja aquele serviço que ela está te pagando. E isso ainda deve ser feito de maneira respeitosa porque é uma relação entre dois seres humanos. Dentro desse caldo, a gente coloca o tempero racial porque a gente está num país que é racialmente dividido, tem uma segregação gritante e a maioria dos afrodescendentes está nesse tipo de condição. Esse é o questionamento mais urgente e mais foda que a gente propõe para o Brasil com esse clipe”, afirma Emicida na abertura do filme, que está disponível on line no canal do rapper, no YouTube.

O curta-metragem dirigido por Kátia Lund e João Wainer traz declarações das atrizes do clipe, que já sofreram muitas humilhações enquanto trabalhavam como empregadas domésticas na vida real. É o caso de Divina Cunha: “Muitos lugares onde eu trabalhei, não podia comer. Na Pacaembu mesmo tinha lugar da casa onde a gente não podia andar, eram só eles. Eu não estou mentindo, estou falando sério! E isso é normal na vida do povo muito rico”, relata.

A mãe de Emicida, dona Jacira Oliveira, que também participa do clipe, relembra do tempo em que trabalhou como doméstica: “Eu precisava de dinheiro. Não foi por muito tempo que eu trabalhei como empregada doméstica, não. Eu sou louca! Eu já larguei muita mulher com as cadeiras com as pernas para cima: ‘Dane-se! Você vai arrumar, você não é boa?’ E vou embora!”.

Além de mostrar os bastidores das filmagens do clipe, o que o minidocumentário faz, na verdade, é aprofundar a discussão sobre o racismo numa sociedade que ainda se diz cordial e não preconceituosa. “No momento que o Brasil vive hoje, discutir sobre a posição do empregado doméstico, sobre os direitos das empregadas domésticas – que é um trabalho feito majoritariamente pelas mulheres e homens pretos até hoje no nosso país – faz com que a gente olhe para o nosso tempo e questione o nosso tempo, do quanto a gente ainda traz da escravidão para os nossos dias”, critica Emicida ao final do vídeo.