DIVERSIDADE

Um motociclista em viagem radical pelo coração da floresta Amazônica

Advogado pernambucano que percorreu 4.200 quilômetros de moto pela Rodovia Transamazônica em 2011, apresenta em livro detalhes do roteiro e relatos inusitados sobre o que encontrou

reprodução

“Recomendo para aquele que deseja conhecer o Brasil real, que faça o trajeto de motocicleta, ou em veículo 4 x 4. E que não vá só!”

Brasília – Todo mundo sempre teve ou tem vontade de escrever um diário de viagens. Nem sempre consegue, por conta do ritmo intenso da própria viagem em si, da falta de disposição para reunir as fotos e informações e, até mesmo, por não encontrar tempo para, depois, transformar tudo o que foi encontrado e aproveitado num bom relato. No caso do advogado Sílvio Amorim, a iniciativa de colocar num caderno as experiências abstraídas durante uma ida à Amazônia não apenas lhe rendeu registro de memórias inusitadas – muitas que nem ele próprio esperava viver – como também revelou nuances de uma região que, até hoje, possui trechos desabitados e uma série de curiosidades de etnias indígenas pouco conhecidas.

Mais do que isso, as memórias do advogado revelam a própria ousadia que foi fazer o percurso, a partir de Recife, onde mora, até o município de Lábrea, no Amazonas. Amorim, conhecido pela família e amigos pelo temperamento dado a aventuras, programou tudo com antecedência e muito cuidado. Ele percorreu sozinho 4.332 quilômetros numa motocicleta – todo o percurso da Rodovia Transamazônica. No total, passou por 76 municípios. O resultado, que consta do livro Por Dentro da Transamazônica, uma Viagem ao Coração da Floresta, mostra detalhes observados ao longo do período.

Sílvio Amorim conheceu personagens peculiares da população destas cidades. Viu de perto suas carências, atividades econômicas, o artesanato feito por eles, as dificuldades que possuem e até conseguiu obter de algumas destas pessoas pequenas confissões.

Ao encontrar um fotógrafo simples que conheceu no meio da jornada, ele encontrou o companheiro de parte da viagem que lhe mostrou bons registros de estudantes e escolas públicas localizadas no interior brasileiro cortado pela floresta Amazônica. De um estudante do município de Manicoré (AM), ouviu o relato do sonho de ser um dia um arqueólogo, realidade bem diferente da que esse garoto vivencia.

O advogado ainda precisou passar por momentos de sufoco, ao ver-se obrigado a dormir uma noite na estrada, em meio a cuidados para evitar a presença de bichos e tendo que aguentar o frio intenso da floresta quando escurece. Como se não bastasse, percorreu o território indígena de Rorakana, distante 150 quilômetros de Marabá, no Pará, onde tomou conhecimento, in loco, por meio de narrações comoventes dos índios, da história de projetos que remontam à colonização da Amazônia.

O livro é repleto de fotos igualmente sugestivas e escrito de forma despretensiosa. Consiste numa leitura que chama a atenção pelo fato de o autor traçar a narrativa como se esta tivesse sido escrita por cada um de nós.

“O texto de Amorim envolve porque, primeiro, tudo o que acontece é atraente. Leva o leitor a paisagens mais diversificadas, apresenta tipos humanos e descreve situações pessoais e físicas espetaculares, mostrando contrastes e uma natureza que a gente sabe que é exuberante”, avaliou o escritor e publicitário José Nivaldo Júnior, ao comentar a publicação, da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe).

Quanto ao autor, não esconde que valeu a pena a ousadia. Mas aproveita o conhecimento de causa para, ao final da obra, dar um alerta aos que ficarem mais empolgados. “Recomendo para aquele que deseja conhecer o Brasil real, que faça o trajeto da Transamazônica de motocicleta, ou em veículo 4 x 4. E que não vá só! Além de perigoso, é cansativo. O sentimento de liberdade, no início, passa a ser de exaustão mais adiante. Faça-o ao lado de pessoas amigas, com todo o cuidado e sem pressa, para aproveitar ao máximo o que a Floresta Amazônica tem a lhe oferecer”, avisa.

 


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