Periferia

Março será ‘Mês do Hip Hop: De las Calles para as Ruas’, em São Paulo

Evento realizado em várias regiões da capital paulista tem objetivo de efetivar a Semana do Hip Hop. Oficinas, debates e apresentações discutem juventude, racismo institucional e garantia de direitos

Divulgação

Atividades discutem racismo institucional, garantia de direitos e combate ao genocídio de negros e pobres

A cidade de São Paulo recebe de hoje (2) até o dia 28 o Mês do Hip Hop: De las Calles para as Ruas, com atividades em vários bairros da capital. O evento deve reunir artistas de diferentes países com o objetivo de efetivar a Lei municipal 14.485/2007, que instituiu a Semana do Hip Hop, além de proporcionar a troca de experiências e valorizar esse gênero musical.

Promovido a partir de uma parceria entre as secretarias municipais de Cultura, de Educação, de Promoção da Igualdade Racial e o Movimento Hip Hop, o festival deve contar com apresentações de artistas, com freestyle, rimas, danças e sessões de bate-papo. Oficinas sobre os quatro elementos que compõem o gênero (DJ, Mc, grafite e break) serão promovidas em 40 Centros Educacionais Unificados (CEUs).

Às sextas-feiras, nos espaços chamados Polos, serão realizadas mesas redondas com o tema “Genocídio Contra a Juventude Preta, Pobre e Periférica”. Aos finais de semana, artistas locais se apresentam em shows espalhados pelas zonas leste, norte, oeste e sul.

Segundo um dos idealizadores do evento, o jornalista André Luiz, a realização do Mês do Hip Hop tem o intuito de fortalecer o pertencimento cultural periférico pela cidade. “A Semana do Hip Hop já uma lei na cidade de São Paulo. O Fórum Hip Hop MSP dialoga com o poder público para sua efetivação. Trata-se de um patrimônio cultural da cidade e é preciso investir nesse bem imaterial cultural e político que é o movimento hip hop”, afirma André, mais conhecido como Rapper Pirata.

A temática de todas as atividades passa por questões ligadas à juventude, como por exemplo o racismo institucional, a garantia de direitos e de cultura e o combate ao genocídio às pessoas negras, pobres, latinas e da periferia. “Temos números assustadores de quase cinco mil mortes por ano somente no Estado de São Paulo. Uma violência propagada por políticas públicas de segurança, com seus carros pretos e motoqueiros que são verdadeiros esquadrões da morte. Ela estereotipa o jovem preto pobre e periférico como perigo para a sociedade. Com isso, a sociedade normaliza essa violência contra os moradores da periferia. O hip hop torna-se a mídia para alertar a população de como se dá o racismo institucional do estado”, opina Rapper Pirata.

Os Pólos fazem homenagens a personagens dos países que participam do evento: Malcon X e Black Panther, dos Estados Unidos; Emiliano Zapata e Frida Khalo, do México; Simón Bolívar, na Venezuela; Dina Di, Milton Santos, Paulo Freire, Sabotagem, Zumbi dos Palmares, do Brasil; entre outras figuras presentes na essência do movimento hip hop.

Os principais homenageados desta edição são o político e ativista Abdias do Nascimento e a princesa Aqualtune, do Congo. “Abdias foi uma liderança do movimento negro que sempre lutou contra o racismo no país. Ele traz à tona a análise do tema genocídio por perceber que o estado brasileiro utiliza sua força para manter os pretos pobres. Já a Rainha Aqualtune foi uma mulher guerreira no continente africano. Quando veio ao Brasil, na situação de escrava, se libertou e foi para Palmares. Lá, ela lutou pela vidas dos humanos que estavam sendo escravizados, resistindo contra esse mesmo estado racista que mantêm no país. Os dois, assim como os outros homenageados, são base da construção da identidade da periferia, dos pretos e do movimento hip hop por serem lideranças que não aparecem nos livros brancos da escola”, afirma o rapper.

No dia 21 de março, Dia Internacional Contra o Racismo, o Vale do Anhangabaú recebe o Festival Hip Hop no Centro, com apresentação de mais de 300 artistas. A programação, inteiramente gratuita, pode ser conferida no blog do festival.

Mês do Hip Hop: De las Calles para as Ruas
Quando:
de 2 a 28 de março
Onde: em diversos locais na cidade de São Paulo
Programação completa aqui

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