Música caipira

Inezita Barroso completa 90 anos e se mantém na defesa das raízes

Referência no universo da cultura brasileira, artista foi eleita para a Academia Paulista de Letras e mantém, à frente do programa 'Viola Minha Viola', compromisso com as tradições do gênero

Marcos Santos/USP Imagens

Inezita: preferência pela música com instrumentos acústicos e pela linguagem tradicional da música caipira

São Paulo – Ignês Magdalena Aranha de Lima, mais conhecida como Inezita Barroso, completou 90 anos ontem (4). Poucos meses antes, havia chegado à “imortalidade”, ao ser eleita para a Academia Paulista de Letras. Moça de família tradicional, enfrentou resistências para se dedicar à sua paixão, a música caipira. Hoje, é referência desse universo, como pesquisadora, folclorista e artista.

Ela conhece a terra como poucos”, diz o jornalista e pesquisador Assis Ângelo. “Desde criança, ela passava férias escolares ora numa, ora noutra fazenda de familiares no interior de São Paulo. A menina Inezita, que a molecada do seu tempo chamava de Zita, teve uma infância pra lá de sadia: ela corria de bicicleta, de patins, jogava bola e no campinho da várzea do Pacaembu, ali nas proximidades do bairro onde nasceu (Barra Funda), além de jogar, pintava e bordava, pois era literalmente a dona da bola.”

Desde os anos 1980, Inezita apresenta o programa Viola Minha Viola,  na TV Cultura de São Paulo. Em depoimento para uma biografia lançada em 2014, ela conta que às vezes foi “intransigente” na direção do programa. “Ela passou por algumas fases do Viola, em que achavam que não era bom excluir (as novas duplas sertanejas). Ela quebrou o pau, ameaçou desistir do programa”, contou em depoimento ao site UOL o autor do livro, o jornalista Carlos Eduardo Oliveira, roqueiro, que atesta: “Mas ela não gosta mesmo de coisas eletrônicas, coisas que passam pelo plug.”

Algumas estrelas do universo sertanejo aparecem em seus programas, casos de Daniel e da dupla Chitãozinho&Xororó. Mas com ressalvas: sem guitarra e sem teclado. “Nós já sabíamos disso quando fomos convidados”, disse Chitãozinho também ao UOL. “Ela sempre foi muito dedicada ao gênero caipira, é uma defesa dessa raiz. Tem pessoas que acham que a modernização fere a origem.”

Assis Ângelo lembra: “Cornélio Pires, paulista de Tietê, foi o primeiro homem a gravar modas de viola. Inezita foi a primeira mulher”.

Com músicas eternizadas em sua voz, como Moda da Pinga e Lampião de Gás.