Lançamento

A Paraisópolis que a mídia não vê; realidade além dos estereótipos

Livro reportagem descreve a vida cotidiana dentro da maior favela de São Paulo

Barulho indescritível
Muito lixo entre barracos
Gente andando em vielas

E ratos por buraco (…).
Paraisópolis não é só isso

Esse é o lado que a sociedade vê
Aqui também tem gente culta 

Poetas do bem, pode crer (…).
Por isso não me envergonho 

Quando confesso que moro aqui
Se foi para lutar pelos meus sonhos 

Que deixei em Jacaraci

O poema da Escritora de Paraisópolis, codinome de Jussara Carvalho, abre o livro Cidade do Paraíso – Há Vida na Maior Favela de São Paulo e resume bem o que vem nas páginas seguintes. Escrito pelos jornalistas Vagner de Alencar e Bruna Belazi, a obra que será lançada nesta quinta-feira (24) no Espaço Revista Cult mostra uma realidade que não sai nos jornais. Em vez de tráfico e violência, os protagonistas são moradores anônimos que tecem suas histórias entre os becos e vielas da comunidade.

Um dos autores, Vagner de Alencar, viveu em Paraisópolis por mais uma década e conhece muito bem os labirintos e a vida que pulsa nas artérias irregulares daquela favela. “Chegamos a Paraisópolis de táxi. A conta registrada no velocímetro fora salgada: R$ 70. Retiramos nossas poucas malas do veículo e partimos em meio àqueles pequenos labirintos nos arredores da casa do meu tio, onde nos hospedamos até meu pai comprar o barraco de madeira, de um cômodo, para onde nos mudamos um mês mais tarde. Paraisópolis era nossa mais nova casa. Os becos e as vielas, nosso endereço. O esgoto a céu aberto, o Antonico, nosso mal-amado vizinho. O emaranhado de casas construídas de madeirite, assim como a nossa, mostrava uma realidade comum a todas aquelas pessoas que viviam ali”, diz o prefácio.

A vontade de contar o “outro lado da história de Paraisópolis” nasceu depois que a Tropa de Choque invadiu a comunidade em busca de traficantes, em 2009. “A mídia cobriu aquilo como se fosse um espetáculo. Eu e minha família moramos aqui e este estereótipo que a grande mídia faz com que as periferias tenham não pode acontecer. Então, o livro surge para tentar quebrar este clichê e mostrar o lado humanizado da favela”, afirma Vagner.

Em 1995, quando chegou da Bahia para morar em Paraisópolis, o autor lembra que o lugar era um emaranhado de casas de madeira. “Era muito intrigante para mim aquele monte de casas de madeira, esgoto à céu aberto… Ao longo dessas quase duas décadas, Paraisópolis vem se transformando. Claro que ainda tem questões de falta de estrutura, mas houve uma mudança bem grande”, analisa. Para ele, o projeto de urbanização e o aumento do poder aquisitivo dos moradores são, em boa parte, os responsáveis pelas melhorias.

Segundo a União de Moradores de Paraisópolis, a comunidade tem mais de 100 mil habitantes. A Secretaria Municipal de Habitação confirma 80 mil. Em Cidade do Paraíso essa diferença não é tão importante. Vagner e Bruna querem, em vez de números, exaltar o que há de humano na comunidade: os lugares onde se desenrolam milhares de histórias excepcionais.

Viela do Campo, da Alegria, da Mina… Descritos com detalhes e com o apoio de boas fotografias, as ruas e vielas são o cenário onde vivem Antenor, um “arquiteto” de garrafa PET, a escritora Jussara, a artista Roseane, o cabeleireiro Rai, a locutora Lindalva e Manoel raizeiro, o médico popular. Esses personagens reais têm ricas histórias que não vendem jornal. “Acima do tráfico de drogas e da violência, Paraisópolis tem vida. Se alguns becos e vielas são esconderijos, a maioria deles une as pessoas que usam essas ruelas e esquinas para costurar o dia a dia na imensa favela localizada no coração do bairro chique.

Cidade do Paraíso – Há Vida na Maior Favela de São Paulo
De Vagner de Alencar e Bruna Belazi
Gênero: Reportagem
Ano: 2013
Páginas: 176
Preço sugerido: R$ 54

Lançamento
Quando: 24 de outubro, 19h30
Onde: Espaço Revista Cult, Rua Inácio Pereira da Rocha, 400, Pinheiros (SP)