Morte de Wando leva ícone romântico da MPB

(Divulgação) São Paulo – Anunciada nesta quarta-feira (8), a morte do cantor e compositor Wando significa a perda de um dos personagens mais emblemáticos da música popular brasileira. Nascido em […]

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São Paulo – Anunciada nesta quarta-feira (8), a morte do cantor e compositor Wando significa a perda de um dos personagens mais emblemáticos da música popular brasileira. Nascido em Cajuri, no interior de Minas Gerais, em 2 de outubro de 1945, ele emplacou sucessos românticos que temperaram muitos namoros pelo país e provavelmente serão cantadas eternamente, como “Moça”, “Chora Coração” e, o maior de todos, “Fogo e Paixão”.

O que sempre chamou atenção em Wando – em sua carreira de 26 álbuns iniciada com “Glória a Deus e Samba na Terra”, de 1973 – foi o fato de acreditar irrestritamente em seu trabalho, que tocava diretamente o imaginário de mulheres de todas as classes sociais. Definitivamente, ele não tinha o estereótipo do galã, mas, graças aos seus versos, às melodias de suas canções e à maneira como as cantava, acabou tornando-se um tipo “conquistador”. Claro que muito folclore girou em torno dele e foi alimentado pelo próprio artista, caso da coleção de calcinhas, que passaram a ser arremessadas às centenas pelas fãs enlouquecidas nos palcos em que se apresentava.

Numa época em que estar presente nas trilhas sonoras de telenovelas era fundamental, Wando soube se valer como poucos desse espaço nobre. Essa história começou com “Moça”, incluída em 1975, na trilha musical da primeira versão da telenovela “Pecado Capital”: Moça, dobre as mangas do tempo, jogue o teu sentimento todo em minhas mãos / Eu quero me enrolar nos teus cabelos / Abraçar teu corpo inteiro, morrer de amor, de amor me perder. Desde então, suas canções estiveram em “Roque Santeiro”, “Roda de Fogo”, “Mandala”, “Meu Bem Meu Mal” e o remake de “Irmãos Coragem”, entre tantas outras.

Sem receio de soar brega ou cafona, Wando estabelecia uma ligação direta com os mais humildes, ao adotar uma linguagem extremamente popular, valendo-se de palavras que outros teriam vergonha de utilizar numa canção. Esse é o caso da emblemática “Chora Coração”, que tocou muito nas rádios AM e FM em pleno período da luta pela volta das eleições diretas ao Brasil: “Chora, coração, passarinho na gaiola, feito gente na prisão”.

Mas o maior sucesso foi mesmo “Fogo e Paixão”, regravada recentemente por Nando Reis e que é praticamente indispensável em qualquer rodinha onde há um violão. Talvez não haja um brasileiro que não saiba cantá-la de cor: Você é luz / É raio estrela e luar / Manhã de sol / Meu iaiá, meu ioiô / Você é “sim” / E nunca meu “não” / Quando tão louca / Me beija na boca / Me ama no chão.

Tive o prazer e a honra de entrevistá-lo uma única vez e posso garantir, como a maioria dos meus colegas, que poucos artistas se mostraram tão sinceros e verdadeiros ao comentar as próprias canções. Ele sabia exatamente por que as realizava e qual era a função que exercia na música popular brasileira. Sem falsos moralismos, muito pelo contrário, ele queria apenas cantar o que se passava com os casais entre quatro paredes, o que incomodava e envergonhava tanto a censura militar, quanto as classes dominantes desse país. É uma pena saber, por exemplo, que os grandes jornais pouco deram destaque à obra desse artista em seus suplementos culturais. Afinal, consideravam exagero para um artista que tocava em emissoras AM, nos radinhos das empregadas domésticas, e animavam as tardes de sábado ao se apresentar no “Cassino do Chacrinha”.

Com 66 anos, Wando sofreu uma parada cardíaca na manhã desta quarta-feira, 8 de fevereiro. Estava internado desde 27 de janeiro, com graves problemas cardíacos. Ele chegou a ser submetido a uma angioplastia coronariana em caráter de urgência para desobstrução das artérias.

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