Ensaios de pesquisadores negros mostram barreira superada, diz historiador

Inspirado na sabedoria yorubá, livro divulga pesquisas de acadêmicos negros, mostrando que eles não são mais apenas objeto de estudos, mas também seus autores

“Ìmó” quer dizer sabedoria e conhecimento em yorubá, idioma do oeste africano (Foto: Divulgação)

São Paulo – O forró como contraponto ao trabalho estressante, a infância de adolescentes em conflito com a lei e a inserção do negro na televisão brasileira e norte-americana são parte do livro “Ímó – Panorama do Pensamento Negro Brasileiro”, lançado pela editora Nefertiti.

Na língua yorubá (ou iorubá), falada no oeste da África em países como Benim e em regiões da Nigéria, “Ímó” quer dizer sabedoria e conhecimento. O idioma também predomina em rituais afro-brasileiros e cubanos. Mostrar um panorama da produção de doze pesquisadores negros brasileiros dedicados a antropologia, história, linguística, pedagogia e serviço social é o objetivo da obra.

O fato de os autores serem todos acadêmicos afro-descendentes não significa que todos os ensaios discutam exclusivamente questões etnorraciais. A proposta é justamente divulgar sua produção. De acordo com Ramatis Jacino, organizador da obra, a publicação reflete a superação de uma condição histórica de homens e mulheres negros que passaram de objeto de estudos científicos para pesquisadores de diversas áreas.

“Negras e negros brasileiros resolveram romper a nova barreira desenvolvendo pesquisas a respeito de si mesmos, do povo brasileiro, de vários aspectos das ciências humanas, códigos e linguagens, e das ciências exatas, biomédicas e filosofia”, aponta. Em vez de deixar que a produção intelectual fique arquivada em instituições de pesquisa, como as universidades, a opção foi por devolver à sociedade um resultado das pesquisas desenvolvidas.

No prefácio da obra, a ex-ministra da Igualdade Racial Matilde Ribeiro chama atenção para a importância de “ousadias cotidianas”, como a organização do livro, para promoção de mudanças na sociedade. “Na prática, estamos muito longe da conquista efetiva de direitos, pois nossa identidade nacional multirracial, multicultural e pluriétnica, não é valorizada na mesma dimensão de sua importância”, escreve Matilde Ribeiro.

 

ÌMÓ – Panorama do Pensamento Negro Brasileiro

Ramatís Jacino (org.)
Nefertiti Editora – 340 páginas – Preço sugerido: R$ 40

Artigos que compõem a publicação

  • O “negro” na televisão brasileira
  • Trabalho e lazer: estudo sobre os frequentadores do forró
  • Organização dos negros e negras no PT e na sociedade brasileira
  • Exclusão do negro – 1850 – 1888: interpretação histórica das leis abolicionistas
  • Intelligentsia e ‘fin de siècle’ no Brasil: convite à reflexão negra
  • Do trabalho prescrito ao trabalho realizado: reflexão sobre as aulas de leitura
  • Yes, we can! O discurso fundador na candidatura de Brack Obama
  • Ensino fundamental: reflexão sobre a qualidade  e perspectivas
  • Avesso do direito: perfil das relações sociais do adolescente em conflito com a lei
  • O que é um território negro?
  • Imigração caribenha para o Brasil entre 1907 e 1912

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