Seminário consolida debates via internet sobre cultura digital

Evento programado para próxima semana, em São Paulo, mostra que debates na rede ainda exigem encontros presenciais

Memória, comunicação, arte, infraestrutura e economia em discussão no Seminário Internacional do Fórum da Cultura Digital (Foto: Sxc.hu/Rodolfo Clix)

Desde a criação do Fórum da Cultura Digital Brasileira (CulturaDigital.br), em julho, 2.300 pessoas se mobilizaram para participar do que promete ser uma experiência pioneira. A ideia de promover o debate por meio de blogues e fóruns de discussão online sobre políticas públicas para a cultura entra, agora, em nova fase com a realização do Seminário Internacional do Fórum da Cultura Digital.

Programado para a próxima semana, de 18 a 21 de novembro, em São Paulo (SP), o evento é voltado a consolidar o que foi produzido nos primeiros três meses e meio de funcionamento em cinco eixos principais: memória, comunicação, arte, infraestrutura e economia.

“O evento cumpre o papel de também projetar o futuro do processo, que pretende se estabelecer como fórum permanente de construção de consenso em torno de ações, programas e políticas públicas para o ambiente digital”, explica José Murilo Jr., gerente de Cultura Digital do Ministério da Cultura, à Rede Brasil Atual, por e-mail.

Para ele, o seminário deve trazer à tona os primeiros resultados do experimento que permitem avaliar melhor a qualidade do processo. “Com base nessa avaliação, poderemos então revisar conceitos e metodologias, e gerar o primeiro documento de referência para projetos de construção colaborativa de políticas públicas”, analisa.

Entrevista

José Murilo Jr.

gerente de Cultura Digital do Ministério da Cultura

Isso indica que os encontros presenciais continuam a ser necessários mesmo com o uso de novas tecnologias de comunicação. “O que de alguma forma se altera é o modelo dos eventos presenciais que acontecem no âmbito de um tal processo, que passam a contemplar também a necessidade de viabilizar a participação remota em tempo real, e exigem uma documentação diferenciada que permita a todos os interessados recapitular integralmente o que se passou”, analisa Murilo.

A ambição do CulturaDigital.br é tornar-se referência para a construção de políticas públicas. A Secretaria de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça já realiza, dentro do portal, uma consulta pública sobre o Marco Civil da Internet (http://culturadigital.br/marcocivil/), aberta à participação de membros do Fórum. O cadastro é gratuito.

Além de debates transmitidos pela internet, atividades culturaise artísticas também estão programadas. O evento ocorre na Cinemateca Brasileira (Largo Senador Raul Cardoso, 207 – Vila Clementino) e a programação está definida.

Confira a íntegra da entrevista:

RBA – O CulturaDigital.br faz uma opção de discutir o tema usando os próprios recursos da internet. Ainda é necessário fazer encontros presenciais para se consolidar o debate em fóruns de discussão na rede? Como os debates do seminário se relacionam com a discussão do CulturaDigital.br?

“O que de alguma forma se altera é o modelo dos eventos presenciais que acontecem no âmbito de um tal processo, que passam a contemplar também a necessidade de viabilizar a participação remota em tempo real, e exigem uma documentação diferenciada que permita a todos os interessados recapitular integralmente o que se passou” – José Murilo Jr.

Como você bem observou, o CulturaDigital.br inova ao prover ferramentas que podem organizar a participação e documentar os debates em um ambiente online integrado. Isto potencializa a interação remota entre os grupos e indivíduos interessados nos temas tratados, mas de forma alguma diminui a importância dos encontros presenciais para a efetivação do processo colaborativo.

O que de alguma forma se altera é o modelo dos eventos presenciais que acontecem no âmbito de um tal processo, que passam a contemplar também a necessidade de viabilizar a participação remota em tempo real, e exigem uma documentação diferenciada que permita a todos os interessados recapitular integralmente o que se passou.

No Fórum da Cultura Digital Brasileira temos experimentado diferentes modalidades de eventos presenciais, e o Seminário Internacional na próxima semana em São Paulo cumpre a função de consolidar os debates que aconteceram no âmbito dos cinco eixos principais: memória, economia, comunicação, infraestrutura e arte.

O evento cumpre o papel de também projetar o futuro do processo, que pretende se estabelecer como fórum permanente de construção de consenso em torno de ações, programas e políticas públicas para o ambiente digital.

RBA – É possível vislumbrar que tipo de mudanças na legislação de direito autoral deve ser propostas a partir do debate nos fóruns do CulturaDigital.br?

“De acordo com a nossa experiência a partir do lançamento do processo colaborativo de construção do “Marco Civil da Internet” no CulturaDigital.br, observamos que temos uma participação diferente por parte dos interessados. No momento em que há um processo oficial de consulta, essa participação é mais qualificada e presente” – José Murilo Jr.

Existem na rede do Fórum vários grupos criados por usuários para tratar do tema do direito autoral, e o debate está bem animado. Do ponto de vista institucional, estamos aguardando o momento em que a proposta elaborada pelo MinC entre em consulta pública, a qual deve ser lançada em breve, e acontecerá em um blog no CulturaDigital.br especialmente preparado para o processo colaborativo.

De acordo com a nossa experiência a partir do lançamento do processo colaborativo de construção do “Marco Civil da Internet” no CulturaDigital.br, observamos que temos uma participação diferente por parte dos interessados. No momento em que há um processo oficial de consulta, essa participação é mais qualificada e presente. O que posso dizer é que os usuários da rede, de uma forma geral, têm uma postura crítica ao marco regulatório atual, e apresentam propostas bastante arrojadas para a construção de uma nova lei de direito autoral mais sintonizada com o nosso tempo.

RBA – Os números do CulturaDigital.br (2.300 participantes, 143 grupos de debate, 233 blogs, 711 posts, 649 seguidores no twitter e mais de 45 mil visitantes) são suficientes para dar conta da proposta de construção de políticas públicas? Esses índices estão dentro do que era esperado?

Como se trata de uma experiência pioneira, não temos referenciais concretos para avaliar os números do CulturaDigital.br até o momento. Nossa perspectiva inicial é de que temos audiência e participação interessantes para um projeto que baseou sua divulgação na difusão em rede, e pouco uso fez dos meios tradicionais de visibilidade através dos canais clássicos da mídia.

Com a realização do Seminário Internacional, que consolida os debates de agosto até agora, teremos os primeiros resultados que permitirão uma avaliação geral. Com base nessa avaliação, poderemos então revisar conceitos e metodologias, e gerar o primeiro documento de referência para projetos de construção colaborativa de políticas públicas.

RBA – No caso da cultura digital, há uma relação direta com a internet. No caso de outras linhas de políticas públicas que não tenham esse elo, é possível pensar em um modelo de construção colaborativa como essa?

Quanto a cultura digital se consolidar como uma real ‘cultura de uso’ da rede e das possibilidades digitais pela maioria da população, sim, será possível pensar em modelos análogos para outros setores. Neste momento, uma experiência  como a do ‘Fórum da Cultura Digital Brasileira’ é viabilizada por tratar de assuntos cujo público alvo já se encontra na rede, plugado nos temas propostos.

Leia também

Últimas notícias