ELT é “apaixonante”, diz aprendiz

Escola Livre de Teatro de Santo André luta por retomada da autonomia e recebe apoio de artistas, escritores e coletivos teatrais de todo o país

Manifestação por autonomia de escola em Santo André (Foto: Lucas Duarte de Souza)

Caio Zanuto, 32, é aprendiz do núcleo de formação do ator da Escola Livre de Teatro (ELT) desde 2007. “A escola foi um achado, pelo clima, prazer e trocas democráticas”, revelou durante o protesto pacífico desta quinta-feira (17), no plenário João Raposo Rezende Filho, na câmara municipal de Santo André, que reuniu mais de 100 aprendizes da ELT, a maioria jovens e entusiastas do projeto nascido há 17 anos.

Os aprendizes pedem a volta do ambiente de autonomia “pautado pela amizade, experimentação e democracia” e que transformou-se há oito meses com a chegada da coordenadora administrativa Eliana Gonçalves – funcionária da Secretaria de Cultura e amiga de infância e indicação do prefeito da cidade, Aidan Ravin.“Não há conversa com ela, sempre ausente ou tomando atitudes por conta própria sem consultar aprendizes e mestres”, acusou Zanuto.

Ainda do lado de fora, pouco antes dos jovens artistas Lílian Cardoso e Mário Augusto Simões discursarem aos parlamentares sobre os dramas da ELT, foram distribuídos por outros aprendizes galhos de arruda aos que passavam. Faixas foram erguidas no plenário da câmara. “Viva a ELT”, expressava uma delas. 

Palmas efusivas e o hino da ELT após os discursos dos aprendizes que pediam apoio dos parlamentares marcaram o que vinha sendo, até então, um dia modorrento na casa legislativa de Santo André.

Vereadores sorriram quando a turma da ELT gritou três vezes em uníssono “Evoé”, expressão que traduz entusiasmo, exaltação e intensa alegria.

A aprendiz Carolina Splendore declara-se uma apaixonada pela ELT. “É um universo novo que me foi apresentado e é até difícil de explicar o tanto que essa pedagogia da autonomia é apaixonante”, diz, para, em seguida, afirmar que isso não pode acabar. “A legitimação de um cargo de coordenador administrativo ou prefeito não é autorização para medidas arbitrárias”, protesta.

A ELT possui uma média de 200 alunos, 19 professores, 11 núcleos de formação que vão da formação de ator e teatro laboratório ao circo, pedagogia, direção, teatro de rua, linguagem da máscara e outros.

Personalidades como Maria Alice Vergueiro (“Tapa na Pantera”), o jornalista e apresentador do CQC, Marcelo Tas, Antônio Feltrin (novela “Pantanal”), Leona Cavalli (filme “Amarelo Manga”) já demostraram apoio aos mestres e aprendizes da ELT que recebeu nos últimos dias manifestações positivas de todo o país.

Assembléias democráticas

A ELT tem por tradição histórica realizar assembleias mensais com toda a comunidade artística de mestres, aprendizes e funcionários para a exposição de ideias e encaminhamentos gerais. “A Professora Eliana sempre foi ausente deste espaço. Simplesmente ignorava, não havia nenhum tipo de interesse da parte dela de entender que projeto é esse, reconhecido para além das fronteiras de Santo André”, explica o ex-coordenador pedagógico Edgar Castro, demitido pelo diretor de cultura, Pedro Botaro, que segundo Castro, alegou “falta de afinação” com Eliana, coordenadora administrativa da Escola.

“A Escola Livre de Teatro é um espaço de dignidade. Um espaço onde as pessoas são ouvidas, onde o indivíduo é estimulado na sua formação a se colocar de forma dialógica em relação ao outro. A ELT, como disse o Marcelo Tas em seu blog, deveria ser tratada como uma jóia, porque é isso que ela é”, diz Castro, há 11 anos atuando como mestre da ELT.

Caio Zanuto dá exemplos de como são as assembleias mensais. “Temos lá a Dona Bete, responsável também pela limpeza, que reclamou em assembléia da falta de pano para a atividade. Na reunião seguinte a ‘entrada’ de cada aprendiz foi um pano de limpeza e agora temos material até o final desse ano”, brinca. “Papel higiênico foi a mesma coisa”, diz.

Em outro episódio, relembra. “Uma vez os ânimos estavam meio alterados e um dos aprendizes pediu a palavra e disse que queria ficar em silêncio um pouco. 100 pessoas em silêncio, respeitando o pedido do colega e a coisa acalmou, foi muito bonito”, finaliza o aprendiz de circo que também faz parte do Coletivo Ativismo ABC.

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