Daniel Filho mostra lado sério em ‘Tempos de Paz’

O principal cenário do filme é o porto do Rio de Janeiro

Filme é adaptação de peça premiada “Novas Diretrizes em Tempos de Paz” (Foto: Divulgação)

São Paulo- Diretor e produtor de sucessos na televisão e no cinema, responsável por filmes como “A Partilha”(2001), “Se Eu Fosse Você”(2006) e “Se Eu Fosse Você 2” (2008), Daniel Filho muda de estilo, pelo menos temporariamente, com o drama “Tempos de Paz”.

O filme, que entra em cartaz nesta sexta-feira (14) no país, adapta a premiada peça teatral “Novas Diretrizes em Tempos de Paz”, de Bosco Brasil, que assina o roteiro. Os dois atores principais, Tony Ramos e Dan Stulbach, interpretam no cinema os mesmos papeis que defenderam no teatro.

Ramos é Segismundo, um policial que se descobre sem função no dia em que o presidente Getúlio Vargas liberta todos os presos políticos, em 18 de abril de 1945. Stulbach interpreta Clausewitz, imigrante polonês que tenta entrar no Brasil e tornar-se agricultor – apesar de antes só ter trabalhado como ator.

A ação se passa quase o tempo todo no porto do Rio de Janeiro, onde funciona um centro de triagem dos imigrantes que vem fugindo das dificuldades geradas pela 2a Guerra Mundial.

Segismundo é o responsável por decidir quem fica no Brasil. Quem é barrado, é obrigado a seguir adiante, para tentar ser aceito em outros países, continuando uma sofrida peregrinação.

Os dois homens têm experiências opostas. Segismundo passou a vida como torturador e interrogador, fazendo o serviço sujo do Estado Novo. Clausewitz, em seu país, era um famoso ator. O que os dois compartilham é a decepção com suas profissões, entrando em crise com a própria história pessoal.

Segismundo se acha injustiçado porque, no novo contexto político, mais liberal, gente como ele deverá desaparecer nas sombras – e, antes, queimar os arquivos.

A decepção do ator polonês é de outra ordem: ele deixou de crer na arte e na palavra depois de assistir, impotente, ao massacre de tantas pessoas por causa do nazismo. Inclusive em sua família.

Quando Segismundo decide interrogar Clausewitz – que já havia estudado um pouco de português -, inicia-se um duelo em que, inegavelmente, o ator corre mais riscos e sabe disto.

Sua única vantagem é perceber mais facilmente, por experiência profissional, como mexer com as emoções de seu público. E Segismundo, neste momento, é um espectador que o desafia a levá-lo às lágrimas como condição para liberar seu visto de entrada.

O próprio Daniel Filho atua numa ponta, como um médico torturado por Segismundo que é solto e decide procurá-lo. No teatro, este personagem era apenas citado nas conversas entre os dois protagonistas.

O personagem de Stulbach é nitidamente calcado no ator e diretor polonês Zbginiew Ziembinski (1908-1978). Ator consagrado em seu país, ele desembarcou no Brasil em 1941, sem falar português. Poucos anos depois, tornou-se também aqui ator e diretor consagrado, responsável, por exemplo, pela histórica primeira encenação de “Vestido de Noiva”, de Nelson Rodrigues, em 1943.

Ao final do filme, aliás, homenageia-se não só Ziembinski como diversos outros estrangeiros de várias profissões que acharam refúgio no Brasil fugindo do nazismo. Caso do escritor Otto Maria Carpeaux, da atriz Nydia Lícia e do crítico e teórico teatral Anatol Rosenfeld, entre outros.

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

Fonte: Reuters

 

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