Para cineasta, desafio é tornar diversidade uma ‘exigência social’

Novos recursos tecnológicos permitem mais autonomia a meios de produção de bens culturais, mas faltam indicadores para medir o volume de produção cultural fora da indústria do entretenimento, diz o cineasta gaúcho Geraldo Moraes

O diretor, roteirista e produtor gaúcho Geraldo Moraes acredita que o monopólio das empresas de entretenimento foi abalado. O motivo é a ampliação do acesso a recursos tecnológicos antes restritos que dão mais autonomia às pessoas para produzir bens culturais. Mas o desafio colocado para os produtores no país, na visão de Moraes, é fazer com que os filmes e outras manifestações culturais brasileiros tenham público, que sejam “uma exigência social”, como é o forró no Nordeste.

A avaliação foi apresentada no Seminário Diversidade Cultural – Entendendo a Convenção sobre a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais, realizada pelo Ministério da Cultura.

“Nos últimos quinze anos houve grandes mudanças no setor cultural com o avanço da tecnologia”, lembra o cineasta. “Se antes precisávamos de um grande estúdio para finalizar um filme; hoje o laptop de um garoto o faz muito bem”, compara.

No entanto, de acordo com Moraes, 85% do mercado “oficial” de audiovisual do mundo são produção estadunidense. “Por isso é necessária uma revolução mundial para mudar esse panorama”, defende. Do mercado cultural brasileiro, as empresas audiovisuais dos Estados Unidos detêm 92%, e que não há “produto nacional” nas emissoras de TV nacionais, “apenas produtos da ‘casa’ ou importados”. Apenas 8% do mercado no país é produção de cinema brasileiro.

Por outro lado, Moraes constata a falta de indicadores para mostrar a multiplicação da produção cultural. “Cada vez mais as pessoas fazem filmes, documentários e outros produtos do gênero. Só que isso ainda não é medido, já que não faz parte deste ‘mercado oficial’”, sustenta.

Ao produzir autonomamente, acredita o cineasta, a sociedade mostra que a cultura é artigo muito importante para o desenvolvimento. “Essa é uma rebelião que tem ligação direta com a própria cultura local, que acontece do lado de fora do shopping”, ironiza.

Mas a disseminação dos bens culturais cada vez mais facilitada pela internet, começa a mexer nas estruturas da indústria cultural. Cinco milhões de brasileiros se tornaram habituais consumidores de produtos piratas, segundo Moraes. Para ele, o dado mostra que a tendência é irreversível, pelo que esse fluxo representa economicamente. “Com toda essa produção ‘alternativa’, quem está perdendo é a grande indústria, que não tem condições de atender a essas mudanças no mercado” aponta.