Mulher perfeita vira pesadelo em ‘A Mulher Invisível’

Filme estreia nos cinemas de todo o país com Selton Mello e Luana Piovanni

Cena do filme dirigido por Claudio Torres (Fonte: Ralph Strelow/Divulgação)

SÃO PAULO (Reuters) – O gênero comédia costuma ser um terreno movediço. “A Mulher Invisível”, que estreia no país nessa sexta-feira, é uma prova disso.

O diretor e roteirista Claudio Torres (“Redentor”, “A Mulher do Meu Amigo”) deve achar seu filme engraçado, mas “A Mulher Invisível”, protagonizado por Selton Mello (“Meu Nome Não é Johnny”) e Maria Manoella (“Crime Delicado”), com Luana Piovanni (“O Casamento de Romeu e Julieta”) e Vladmir Brichta (“Fica Comigo Esta Noite”) nos papéis de coadjuvantes, mais parece um piloto para sitcom, como boa parte da produção cômica nacional que chega aos cinemas.

Torres estreou na direção de longas em 2004 com a comédia de humor negro “Redentor”. O filme, uma sátira ao Brasil do vale-tudo, tinha um humor ácido, um visual apurado e uma boa pegada crítica. No ano passado, ele lançou “A Mulher do Meu Amigo”, uma comédia de erros, cujo maior equívoco foi existir.

Partindo de um roteiro assinado por ele mesmo (contando com a colaboração da escritora Adriana Falcão, da atriz Maria Luiza Mendonça e do roteirista Claudio Paiva), Torres tenta fazer comédia a partir da fantasia. Pedro (Mello) leva um fora de sua mulher (Maria Luiza, numa pequena participação) e inventa uma “mulher ideal”, Amanda (Luana), que só existe em sua imaginação.

O primeiro ato do filme é o relacionamento de sonho entre Pedro e Amanda. Seu melhor amigo (Brichta) começa a desconfiar que ela não exista, o que, mais tarde, leva Pedro a também questionar a existência da moça. Mas, na verdade, o filme não é sobre ele, nem sobre ela. A verdadeira mulher invisível do título é Vitória (Maria Manoella).

Vizinha apaixonada por Pedro, Vitória, que ficou viúva recentemente, há tempos ouve as conversas dele através da parede. Mas Pedro nunca a notou, seja no elevador ou no corredor do prédio. É como se ela não existisse.

Se “A Mulher Invisível” se assumisse como um filme sobre Vitória, talvez tivesse mais a oferecer e explorar, até porque ela é a personagem mais interessante e Maria Manoella, a atriz mais talentosa em cena.

Numa das primeiras cenas, a música “A Woman Left Lonely”, na voz de Janis Joplin, ilustra bem o estado emocional de Vitória, mas sua exaustiva repetição é sinal de que as idéias já se esgotaram. Vitória é aquela mulher solitária e tímida que tenta conquistar o vizinho, mas, quando finalmente toma coragem, ele já enlouqueceu, tentando se livrar da figura de Amanda, mesmo que ela só exista em sua cabeça.

Selton Mello parece atuar no piloto automático, sem o carisma que mostrou em produções como “O Auto da Compadecida”, desempenhando um tipo que poderia ser engraçado, ou minimamente simpático, mas que acaba sendo irritante com tanta neurose.

Luana, que confunde comédia com histeria (a personagem fica berrando boa parte do filme), se acomoda na sua persona de mulher sensual e acredita que isso basta para compor um personagem. O filme ganha quando ela sai de cena e a personagem Vitória cresce.

Responsável por filmes tão diferentes quando “2 Filhos de Francisco” (2005), “Eu, Tu, Eles” (2000) e “Xuxa em Sonho de Menina” (2007), a produtora Conspiração imprime em “A Mulher Invisível” seu selo de qualidade técnica, o que acaba sendo pouco, diante do conteúdo irregular do longa.

Fonte: Reuters/Cineweb