Melhor relação Cuba-EUA pode ajudar a manter legado de Hemingway

Após 2004, museu tem sido exemplo de intercâmbio profissional entre especialistas norte-americanos e especialistas cubanos em relação ao legado do escritor

Foto de arquivo de 1916 de Ernest Hemingway posando com peixes que ele pescou em Michigan (Foto: Fundação da Família de Ernest Hemingway Family de Oak Park)

San Francisco de Paula, Cuba (Reuters) – Uma melhor relação entre Cuba e EUA ajudaria a conservar o patrimônio do escritor Ernest Hemingway em Cuba, um exemplo de cooperação entre os dois países muitas vezes preso no fogo cruzado da política, informou uma especialista da ilha na terça-feira (26).

Universidades e instituições dos Estados Unidos têm ajudado com dinheiro e equipes para restaurar a “Finca Vigía”, uma mansão de estilo espanhol em cima de uma colina com uma impressionante vista de Havana, onde o escritor norte-americano viveu 21 anos até deixar Cuba em 1960.

Os esforços encontraram obstáculos durante o governo do presidente norte-americano George W. Bush, cuja postura dura em relação a Cuba limitou a ajuda material para uma propriedade que o National Trust for Historic Preservation, uma das principais organizações de conservação dos Estados Unidos, considerou um de seus locais mais ameaçados.

O presidente Barack Obama ofereceu “retomar” as relações com Cuba, eliminou as restrições às viagens e ao envio de remessas de dinheiro dos cubanoamericanos à ilha e propôs recuperar as conversas sobre imigração que foram interrompidas por Bush.

“Se realmente Obama cumprir sua plataforma de governo… bem, pois evidentemente vai ser diferente”, disse à Reuters a diretora do Museu Ernest Hemingway, Ada Rosa Alfonso.

“Mas devemos esperar para ver o que acontece com a prática, porque não é somente a boa vontade do presidente, mas os seus resultados”, acrescentou no terraço da Finca Vigía, cuja casa está decorada com trofeus de caça, livros e discos pertencentes ao autor.

Verbas provenientes dos EUA permitiram recentemente restaurar o “Pilar”, o barco de madeira registrado em Cayo Largo, hoje exposto junto a uma piscina vazia no jardim da casa. Também ajudaram a digitalizar cerca de 2 mil documentos, fotografia e livros que Hemingway deixou em Cuba.

Alfonso disse que estes resultados mostram o que os dois países podem alcançar juntos.

“O Museu depois de 2004 tem sido um exemplo de intercâmbio profissional entre especialistas norte-americanos e especialistas cubanos em favor da conservação e preservação do legado de Hemingway”, acrescentou.

O Museu Ernest Hemingway está organizando uma conferência bianual sobre o escritor. Especialistas dos EUA tem sido convidados ao evento programado entre os dias 18 e 21 de junho.

A conferência ocorrerá no Hotel Ambos Mundos, em Havana Vieja, em cujo quarto 511 o escritor vencedor do Prêmio Nobel viveu e trabalhou após chegar a Havana, na década de 1930.

O evento incluirá uma peregrinação por alguns dos bares favoritos de Hemingway, como La Bodeguita del Medio e El Floridita.

Haverá mojitos e daiquiris, suas bebidas preferidas, disseram os organizadores. Hemingway se mudou de Cuba em 1960, um ano depois da revolução. O autor de “Por Quem os Sinos Dobram” e “Adeus às Armas” se suicidou um ano depois nos Estados Unidos.