Sem categoria
Alimentação na quarentena

O sol da vida: a força da vitamina que vem da luz dos dias e germina os alimentos

A pandemia vai passar, mas as lições aprendidas com ela ficarão. Aproveite para compreender os ensinamentos que chegam até você à luz do sol

Divulgação | Arte/RBA
Divulgação | Arte/RBA

Meu pai foi diagnosticado com sintomas similares ao da covid-19, em Belém, onde nasci e mora a minha família. Como milhares de brasileiros, não sabemos se é ou não é, porque não há teste disponível. Uma amiga pulou esta fogueira no começo do mês. Perguntei qual a orientação de tratamento que recebeu no Rio de Janeiro. A médica dela enfatizou valorizar a vitamina D na dieta. Fui estudar um pouquinho virtualmente e ao que tudo indica ainda não há evidências científicas suficientes para garantir ou afastar totalmente o papel da vitamina D na imunidade e no combate ao coronavírus. Muitos estudos estão em curso desde o início da pandemia buscando esta resposta. 

De qualquer forma, queria saber mais sobre a vitamina D. Já sabia que é obtida pela exposição solar, mas queria saber se a posição do sol influenciava, tempo mínimo de exposição e se era possível obtê-la através da alimentação. Bom, é possível, mas é estritamente advinda de proteína animal. O que não consumimos por aqui há 11 anos. 

Vamos de sol como alimento!

De acordo com o site Nutriveg, que é assinado pelo nutricionista George Guimarães, especializado em alimentação vegetariana, para pessoas de pele clara, a exposição diária necessária é de 20 minutos, de mãos e rosto – o suficiente para realizar a síntese da vitamina D em quantidade adequada. Para peles mais escuras, que segundo ele são mais resistentes à radiação solar, recomenda-se até uma hora de exposição diária para que se produza o estímulo desejado.

O horário de exposição deve ser observado independentemente do tom de pele. Para o especialista, quanto mais distante do meio-dia, melhor, para evitar queimaduras e/ou o desenvolvimento de um câncer de pele, por exemplo.

“Apesar de ser muito recomendável que se evite a exposição ao sol quando ele está mais alto no céu, deve-se considerar que para produzir um estímulo eficiente, o sol não pode estar abaixo dos 40 graus da linha do horizonte, altura na qual seus raios são bloqueados pela atmosfera de maneira significativa”, explica, em artigo publicado em seu site.

Uma dica do nutricionista para saber se o sol está alto o suficiente para proporcionar a síntese da vitamina D é observar o tamanho da sua sombra: a sombra do seu corpo estará mais curta do que a sua própria altura.

Luz, quero luz!

Na alimentação biogênica, que prioriza a ingestão de alimentos germinados como fonte de vitalidade para todos os nossos corpos, o sol energiza e desidrata sementes e preparos, como o pão. 

Em uma passagem do livro O Evangelho Essênio da Paz – do linguista húngaro Edmond Bordeaux Szekely –, Jesus aparece ensinando a fazer um pão cru e vivo. Olha que modo mais poético de passar uma receita:

“Deixai que os anjos de Deus vos preparem o pão. Umedecei o vosso trigo, para que o anjo da água penetre nele. Ponde-o então no ar, para que o anjo do ar o abrace. E deixai-o da manhã à noite debaixo do sol, para que o anjo da luz solar desça sobre ele. E a benção dos três não tardará a fazer o germe da vida brotar no vosso trigo.

Em seguida, moei o vosso grão e fazei obréias finas, como faziam os vossos antepassados quando partiram do Egito, a casa da servidão. Tornai a pô-las debaixo do sol quando ele aparece e, quando ele tiver subido ao ponto mais alto dos céus, virai-as do outro lado, para que elas sejam abraçadas ali também pelo banho da luz solar, e deixai-as onde estão até que o sol se ponha.

Pois os anjos do ar, da água e da luz solar alimentaram e amadureceram o trigo do campo e, da mesma forma, precisam preparar também o vosso pão. E o mesmo sol que fez o trigo crescer e maturar com o fogo da vida, precisa cozer o pão com o mesmo fogo. Pois o fogo do sol dá vida ao trigo, ao pão e ao corpo.” 

Receitinha

Fiz essa receitinha este mês como uma meditação: em silêncio, pensamentos quietos e pensando na sabedoria tão antiga de misturar os alimentos para nutrir o corpo com o máximo respeito. Que força foi misturar o trigo germinado, água e sal! Simples assim como há mais de 2 mil anos. Se quiser experimentar em casa:

  • Compre trigo em grãos (orgânicos, de preferência) e coloque 1 ou 2 punhados dentro de um recipiente;
  • Cubra os grãos com água e, com um pano de algodão, tampe a boca do recipiente;
  • Aguarde 8 horas a 12 horas, então escorra a água e coloque-o em uma peneira de forma que fique meio suspensa (apoiada em um escorredor de macarrão, por exemplo, para que o ar circule); 
  • Aguarde cerca de um dia: vão começar a sair uns narizinhos das sementes. Elas estão supervivas e deliciosas! Prove algumas, mas deixe outras para passa mais 24 horas secando;
  • Moa as sementes em um moedor de café ou no processador;
  • com as mãos, misture água e sal (a gosto, mas não exagere) aos poucos e mexa bem. Aperte. Sove de leve para que o glúten seja ativado; 
  • Quando estiver moldável, achate-a como a uma massa de pizza; 
  • Coloque ao sol de 8 horas a 12 horas. Verifica uma ou duas vezes. A alimentação viva nos ensina a fazer o que nos propomos com presença;
  • Vire o outro lado e deixe secar também.

Tempo das coisas

Lendo assim parece que vai demorar uma eternidade. Essa é outra lição de quem germina seus alimentos: aprendemos a respeitar o tempo das coisas, o tempo dos ciclos. Aprendemos que as fases passam, que a hora certa chega.

Como essa pandemia. Ela também vai passar. Mas as lições aprendidas com ela ficarão. Aproveite para compreender os ensinamentos que estão chegando até você à luz do sol. 

Nesta quarta-feira (29), às 16h, estarei ao vivo no Instagram da Clínica Nakanuy compartilhando o humilde conhecimento que tenho sobre germinação. Vamos focar na receita desse pão e de uma pastinha para comer com ele. Aguardo vocês!


alimentação viva

Úrsula Ferro é jornalista de formação e cozinheira de coração. Em 2018, decidiu deixar o jornalismo um pouquinho de lado para passar um mês entre aldeias acreanas, fazendo dietas espirituais e aprendendo sobre a culinária nativa. Quando voltou dessa jornada, começou a se dedicar exclusivamente à Ayá Comidas Veganas.