Psicologia solidária: o que não podemos mudar, não deve nos atormentar
Cuide do presente, do que acontece agora, dentro de você e do seu lar
Publicado 04/04/2020 - 13h45
O ser humano, em geral, não lida bem com limites e falta de controle. A frustração, a privação dos prazeres imediatos e a desgarantia geram ansiedade, angústia, desconforto. Começamos a agir de forma impensada ou tentando achar garantias, numa busca ilusória de controle do futuro. Diante do desconhecido – como esse período de pandemia, quarentena e isolamentos – o medo se instala.
E, como resposta biológica, provoca reações bioquímicas que suprimem nossa capacidade de pensar de forma lógica. Mas além das questões biológicas, outra circunstância imperiosa se manifesta: nosso psiquismo.
Diante do medo e da sensação de ser castrados, impedidos de atuar de acordo com o próprio desejo, somos tomados por sentimentos e emoções que não são dos mais agradáveis. Diante do NÃO, vindo de fora, entende-se esse “não” como limite pessoal ou social. Explodimos ou implodimos da raiva indignados com a injustiça e absurdo de ter nosso desejo freado.
Esperneamos, achamos culpados, xingamos e tentamos burlar regras e leis com os mais ardilosos argumentos. Deixamos de pensar e fazer escolhas pautadas na proteção porque sentimos os limites como punição.
Fuga ou ataque
O medo, por sua vez, surge diante da sensação de ameaça de algo. E quando nos sentimos ameaçados, com medo, duas grandes possibilidades se apresentam: fuga ou ataque. Alguns irão paralisar, não vão conseguir pensar para criar soluções e outros irão atuar de forma agressiva, brigar.
A frustração diante do limite e o medo diante da ameaça nos deixam estagnados em um lugar perigoso onde, se permanecemos por muito tempo, adoecemos, pois o cenário dentro de nós vai ficando cada vez mais terrífico.
No momento em que estamos tomados por essa situação, nada mais tem espaço dentro de nós, a não ser a ideia persecutória e trágica. E nessa falta de espaço, o importante se perde: o tempo!
Não conseguimos dar conta de esperar, de aceitar e passar pelo processo que as coisas têm. Não nos achamos mais no presente e esquecemos dos recursos passados que já criamos ou ainda daqueles potenciais recursos que podemos desenvolver.
Foco no agora
Estamos em tempos incertos, de muita vulnerabilidade e os medos, ansiedades e angústias estão a todo vapor. Mas, aquilo que não podemos mudar não pode nos atormentar, porque senão deixamos de fazer e mudar aquilo que podemos.
Não é fácil, mas é o melhor caminho para acalmar seu coração nesse período. Foque naquilo que você pode fazer e cuidar! Tente não se atormentar com aquilo que não depende de você ou que está fora de suas possibilidades. Cuide do presente, do que está acontecendo agora, dentro de você e do seu lar. Essa é a melhor forma de termos melhores resultados para o futuro.
Se seu pensamento ficar muito longe, atormentado com aquilo que não pode mudar e com futuro incerto, o seu presente ficará desprotegido e descuidado. Sendo assim: foco! Cuide do que você pode mudar. E aquilo que não pode mudar, aprenda a entregar e confiar.
Até breve, como novas reflexões sobre como lidar com a ansiedade e outras sensações trazidas por esse tempo de isolamento e quarentena.
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Lívia Rocha (CRP:06/83293) é psicóloga clínica e faz parte do projeto Psicologia Solidária que atende de forma voluntária profissionais de saúde que enfrentam a pandemia do coronavírus em todo o Brasil