migrantes e refugiados

Duelo entre França e Bélgica mostra riqueza multicultural na Europa

Semifinal da Copa põe em campo os Diabos Vermelhos, que têm 11 filhos de imigrantes no elenco, e os franceses, em que 19 jogadores têm origem fora do país

Rodolfo Buhrer /Folhapress/Aurélien Durand/FFF

Artilheiro, Lukaku, é um dos cinco jogadores belgas com ascendência congolesa. Já o destaque promissor Mbappé possui mãe argelina e pai camaronês

São Paulo – França e Bélgica se enfrentam na semifinal da Copa do Mundo da Rússia, nesta terça-feira (10), em uma partida que reúne dois dos elencos mais multiculturais deste Mundial. Grande parte dos jogadores de ambas as equipes é de filhos de imigrantes, de famílias sem ascendência europeia e, alguns, até naturalizados. 

Nos Diabos Vermelhos, como são chamados os jogadores da seleção, todos são belgas, mas a mistura tem vários componentes: são oito flamengos e quatro francófonos, mais oito de ascendência africana, dois com origem de outros países da Europa e um caribenho.

Dos 14 gols belgas já marcados na competição, dez deles vieram de jogadores com origens estrangeiras, como Marrocos, Congo, Mali, e Martinica. O atacante Romelu Lukakuum dos cinco atletas da equipe com ascendência congolesa, anotou quatro tentos e é o artilheiro da seleção. “Quando as coisas vão bem, eles me chamam de ‘atacante belga’. Quando não correm bem, sou o ‘atacante belga descendente de congoleses'”, lamentou ele ao The Players Tribune.

O atacante Michy Batshuayi, reserva de Lukaku, também é filho de pais congoleses. O zagueiro Kompany, tem pai soldado do Congo e mãe,  uma médica belga. O zagueiro Dedryck Boyata e o volante Yuori Tielemans também têm suas origens ligadas à antiga possessão belga no continente africano.

Tivesse vigorado no país uma política rígida de migração no passado a equipe talvez não tivesse como mostrar o bom futebol jogado na Copa até aqui. Ainda na equipe belga, Maourane Fellaini, que marcou o segundo gol contra o Japão e Nacer Chadli, o terceiro, são filhos de marroquinos – o jogo foi 3 a 2 e garantiu a vaga nas quartas de final

Mais outros jogadores são exemplos do legado dos migrantes à Bélgica: Axel Witsel, meio-campista, possui origem caribenha por parte do pai, que nasceu em Martinica. Moussa Démbelé tem origem no Mali e Adnan Januzaj, que fez o gol da vitória contra a Inglaterra, é filho de refugiados da guerra civil no Kosovo, na década de 1990. Yannick Carrasco é filho de pai português e de mãe espanhola.

Já na França, a questão sobre a identidade não foi superada pela ultradireitista francesa Marine Le Pen, que disputou a última eleição presencial francesa. Ela já satirizou o fato de muitos jogadores da equipe terem ascendência africana e se disse não representada pelo elenco. “Parabéns à Costa do Marfim pela vitória”, chegou a dizer, ironizando uma vitória da França. 

Aurélien Durand/FFF
Raphael Varane e Presnel Kimpembe também têm família de imigrantes. O primeiro possui pais nascidos em Martinica, e o segundo, no Congo e Haiti

Entre os 23 convocados por Didier Deschamps para esse Mundial, diversos jogadores não são apenas filhos de imigrantes, mas também naturalizados franceses. O zagueiro Samuel Umtiti nasceu em Camarões. O meia-atacante Thomas Lemar é nascido em Guadalupe – pequena ilha na América do Norte. No banco, o goleiro reserva Steve Mandanda é nascido no antigo Zaire, agora, República Democrática do Congo. 

A diversidade étnica da seleção francesa passa pelo restante de praticamente todo o elenco. São 19 jogadores filhos de imigrantes da África e de outros países da Europa. Apenas o goleiro Lloris, o lateral Pavard, o atacante Giroud e o meia Thauvin não se encaixam nesse histórico.

Um dos destaques dos Les Blues, o volante N’Golo Kanté, nasceu em Paris, mas sua família tem origem em Mali. Seu parceiro no meio-campo, Paul Pogba, tem pais nascidos em Guiné. Já a mãe do jovem craque de 19 anos, Kylian Mbappé, é da Argélia, enquanto seu pai é camaronês. 

Metade da família de Blaise Matuidi é de Angola e a outra, do Congo. Steven N’Zonzi é filho de pais que também chegaram à França saídos do Congo. O pai do zagueiro Presnel Kimpembe também é congolês e sua mãe, haitiana. Já o volante Corentin Tolisso possui origens do Togo.

Outros jogadores franceses que possuem origem fora do país: Raphael Varane, da Martinica; Benjamin Mendy, Senegal; Lucas Hernández,  Espanha; Antoine Griezmann, Portugal e Alemanha; Nabil Fékir, na Argélia; Djibril Sidibé, em Mali; Adil Rami, em Marrocos; e Alphonse Aréola, na Filipinas. 

As muitas etnias do time frances em campo já era assunto em 1998, quando a seleção ficou conhecida como “arco-íris”. O elenco foi campeão, em cima do Brasil, com dois gols do craque Zinedine Zidane, filho de argelinos, e tinha nomes como o do zagueiro Liliam Thuram, nascido em Guadalupe, no Caribe.

“Mesmo quando vencemos, a mensagem foi equivocada. Esta deveria ter sido que a França integra todas as pessoas, não importando suas crenças, origem, pele. O que ficou foi que o esporte é capaz de fazer isso, como se os imigrantes não esportistas não tivessem chance”, afirma Thuram ao jornal Folha de S.Paulo.