Outros Mundiais

A maior defesa da história das Copas e a cerveja que arruinou a Inglaterra

Gordon Banks e sua má sorte privaram a seleção inglesa de buscar o bi em 1970, iniciando uma jornada de insucessos para o time desde então

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Momento da defesa de Gordon Banks em cabeçada de Pelé, na Copa de 70, considerada a maior dos Mundiais

Tradução livre a partir do El Diario – O verão de 2018 está devolvendo a esperança aos torcedores ingleses, em especial após conseguirem uma vitória por pênaltis em uma partida de Copa do Mundo. Pela primeira vez em muito tempo começam a desgrudar a etiqueta da decepção, um estigma que os acompanha desde 1970, quando chegaram como favoritos após o título de 1966 e caíram em uma partida na qual venciam por 2 a 0. E tudo por culpa de uma cerveja.

O herói da Inglaterra que saiu da escola para recolher escombros

Quando em 1966 a Inglaterra conseguiu se impor diante da Alemanha Ocidental, a figura de Gordon Banks ficou gravada na história do futebol. O arqueiro conseguiu se recuperar de um erro no primeiro tento alemão com uma prorrogação sensacional. Banks defendeu tudo na última meia hora e Hurst completou o feito.

O goleiro alcançava por fim o status de estrela mundial (eleito segundo melhor arqueiro do século 20 segundo a Federação de Estatística e História do Futebol) após ter percorrido um longo caminho quando jovem para chegar a viver do futebol. Com 14 anos seu pai lhe disse um dia “sinto muito, filho, chega de ir ao colégio, precisamos de dinheiro”, obrigando-o a aceitar um trabalho de recolher escombros em uma mina de Sheffield. Apesar disso, Banks continuou dedicando suas poucas horas livres ao futebol e agarrou sua chance rumo à glória. Esta era apenas uma das muitas razões que faziam da Inglaterra uma das grandes favoritas ao torneio de 1970 no México.

Da glória contra Pelé até sucumbir diante da vingança de Montezuma

“O tempo estava horrível. Era um sol incrível e a grama era dura como uma rocha, então eu treinei muito finalizações que rebatiam no chão”, lembra Banks. Na fase de grupos, o Brasil de Pelé enfrentou o campeão mundial. Um cruzamento vindo da lateral encontrou a estrela brasileira que finalizou de cabeça e quando todo o estádio de Guadalajara estava gritando o gol, apareceu Banks. O goleiro foi capaz de antecipar o lance após a bola tocar o gramado e, com esforço, salvou um gol que está na memória de Pelé. “Já marquei mais de mil gols, mas sempre lembro do que eu não fiz em 1970”. Pelo palco, pelo momento e pelo rival; a defesa permaneceu como a melhor da história.

Mas o efeito épico da defesa de Banks duraria pouco. Depois de superarem a fase de grupos, os ingleses tiveram um dia de descanso. Naquela jornada, a delegação contava com um carregamento de água e comida vindo de Londres para evitar intoxicações, habituais à época em turistas no México, o que era conhecido como a vingança de Montezuma. Ainda assim, havia um produto local que se consumia: cerveja. Naquele dia de folga todos os jogadores foram beber, mas a má sorte cruzou o caminho inglês: “Não sei se a garrafa foi aberta na minha presença ou não, só sei que meia hora depois comecei a passar muito mal. (…) O problema era que eu tinha que ir ao banheiro tantas vezes que não conseguia descansar de jeito nenhum “.

Sem Banks, a oportunidade chegou para Peter Bonetti, goleiro reserva. Parecia uma tarde tranquila quando Peters colocou um 2 a 0 no placar a favor da Inglaterra, mas a Alemanha aproveitou a ausência de Banks para se vingar da final de 1966. Um tiro despretensioso de Beckenbauer que Bonetti não salvou deu início à reação. O empate a dez minutos do final deixou ainda mais abalado o segundo goleiro inglês, que na prorrogação facilitou bastante para o ‘Torpedo’ Müller ao não sair em um cruzamento que o alemão arrematou dentro da pequena área. A Inglaterra foi para casa pensando que, com Banks, a história teria sido diferente. A decepção de 1970 foi a última edição em que os ingleses chegaram como verdadeiros candidatos ao título, uma longa agonia de decepções e lágrimas que tiveram uma trégua em 2018. E tudo começou com uma cerveja.