São Paulo

Secretário de Doria reafirma intenção de extinguir cobradores de ônibus

Sérgio Avelleda participou de debate sobre a nova licitação do transporte coletivo da capital, ainda sem data para ser lançada

Nelson Antoine/Agif/Folhapress

Gestão Doria avalia que função perdeu o sentido no transporte coletivo da capital paulista com uso do Bilhete Único

 São Paulo – O secretário de Transportes da capital paulista, Sérgio Avelleda, reafirmou na noite de ontem (22) que a gestão do prefeito João Doria (PSDB) considera certa a extinção da função de cobrador dos ônibus da cidade. Ele nega, porém, que vá haver demissão em massa. “Hoje já existe uma saída natural desses trabalhadores. Se não forem repostos, a função vai acabar com o tempo. Mas nós não vamos demitir 20 mil pessoas. Eles serão aproveitados, por exemplo, na própria rotatividade de motoristas, mecânicos, fiscais”, afirmou.

As declarações foram dadas em debate promovido por um grupo de organizações que estão discutindo a nova licitação do transporte coletivo da capital paulista, na sede do Sindicato dos Arquitetos de São Paulo, no centro da cidade. Dentre os principais questionamentos apresentados esteve a necessidade de dispor de um modelo de consulta pública baseado em imagens, dada a complexidade da minuta do edital.

Além disso, os participantes questionaram sobre o funcionamento do sistema de avaliação dos usuários para fins de remuneração, sobre a continuidade da rede noturna, a adoção de velocidade menor para proteção da vida de ciclistas e pedestres e sobre a adoção de um número maior de integrações gratuitas no Bilhete Único, visto que a nova rede prevê sistema de entroncamento, com mais baldeação.

“Essa questão das integrações nós podemos avaliar, mas é preciso ter em mente que isso aumenta o custo dos sistema. Nosso estudo indica um aumento de apenas 4% no total de integrações realizadas, o que não demandaria essa mudança”, alegou o secretário. Já quanto à rede noturna, Avelleda se disse surpreso com a eficiência e demanda no horário. “Quando assumi tinha dúvidas. Hoje vejo que funciona bem e está crescendo a procura”, afirmou.

Avelleda também disse que a prefeitura vai lançar, até o final de março, um sistema de denúncia de má prestação do serviço de ônibus da cidade utilizando o aplicativo Whatsapp. “As pessoas vão poder enviar vídeo, texto, foto ou áudio, relatar o problema, se um ônibus passou direto no ponto, se o motorista está dirigindo de forma perigosa. Isso vai agilizar muito a avaliação de qualidade”, afirmou.

O pedido de redução da velocidade partiu do coordenador do projeto de segurança viária da Associação de Ciclistas Urbanos – Ciclocidade, Flávio Soares, que apresentou dados indicando o risco de morte em acidentes com os veículos em velocidades de 50 ou 40 quilômetros por hora. O risco de uma pessoa morrer em um atropelamento a 50 quilômetros por hora é de 20%, mas quase zera a 40 quilômetros por hora.

“Estamos conduzindo uma pesquisa e um dos dados encontrados é que muitas pessoas deixam de pedalar em áreas com faixa exclusiva de ônibus por medo”, ressaltou Soares. “Reduzir a velocidade tem impacto significativo na redução de mortes. Aliado a um treinamento permanente para motoristas conviverem com as bicicletas teremos mudanças muito positivas no trânsito”, completou.

Avelleda garantiu que essa é uma das principais preocupações da secretaria. “Os motoristas só podem desenvolver 50 quilômetros por hora em locais em que essa velocidade seja permitida. Aumentamos muito a punição por desrespeito às leis de trânsito. Queremos que os motoristas de ônibus sejam um modelo de condução e respeito. E podemos estudar essa proposta de velocidade”, afirmou.

O edital

Entre as propostas do edital de licitação do sistema de transporte coletivo da capital paulista, a gestão Doria pretende extinguir mais 149 linhas e cortar outras 134, além das 80 que foram alteradas este ano. Além disso, o número total de coletivos será reduzido, com ampliação do processo de “troncalização” e mais integrações para realizar a viagem.

O edital indica uma possível redução no tempo de espera dos coletivos de 5% com a “troncalização”, o que deve resultar em poucos minutos de diferença na prática. Não há previsão de construção de novos corredores. Este ano, a ação foi totalmente paralisada – e o orçamento de 2018 não prevê investimento significativo.

A consulta pública ao edital foi aberta no dia 21, às vésperas das festas de fim de ano, o que também foi criticado pelas organizações. O processo vai durar 45 dias, mas as sugestões terão de ser encaminhadas apenas à Comissão Especial de Licitação, presencialmente ou por e-mail. Não estão previstas audiências públicas. A proposta é que a vigência dos contratos seja de 20 anos, com custo de R$ 7,8 bilhões por ano, redução de apenas 2,5% no custo do sistema frente aos atuais R$ 8 bilhões.

O edital prevê a inserção de veículos maiores no sistema, com aumento do número de lugares disponíveis. Assim, o total de coletivos deve cair de 13.603 para 12.667. Mas a oferta de assentos deverá subir em 100 mil, de 1 milhão para 1,1 milhão.

No caso da remuneração, a proposta prevê um modelo de pagamento composto de remuneração básica por custo do serviço realizado, mais uma avaliação de satisfação do usuário. Também serão contabilizados critérios de segurança operacional, antecipação de utilização de energia limpa, redução de acidentes, demanda transportada e um bônus por produtividade econômica.