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Gestão Doria sucateia Pacaembu para viabilizar concessão

Durante jogo entre Santos e Corinthians, estádio teve quinto apagão no ano. Para urbanista, prefeito prefere descuidar do local em vez de criar políticas públicas de promoção de atividades esportivas

Dário Oliveira/Folhapress

Prefeitura opta por privatizar estádio e parque esportivo, em vez de pensar políticas públicas de utilização do espaço, que é dos mais simbólicos da cidade de São Paulo

São Paulo – Desde o apagão nos holofotes do estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, no último domingo (4), durante a partida entre Santos e Corinthians pelo Campeonato Paulista de futebol, a concessão do local à iniciativa privada voltou à pauta da gestão Doria e da mídia que o apoia. Entretanto, especialistas ouvidos pela RBA afirmam que os problemas são sinais do progressivo sucateamento do parque esportivo, provocado pela decisão da prefeitura de reduzir parcialmente os trabalhos de manutenção.

“O apagão foi uma cena patética. Os holofotes ficaram sem luz, mas as placas de publicidade ficaram funcionando. ‘Com todo respeito ao Doria’, mas o prefeito é o único responsável pelo sucateamento do estádio”, criticou o especialista em gestão esportiva Amir Somoggi, autor do blog Marketing & Economia da Bola.

No Projeto de Intervenção Urbana (PIU) apresentado pela prefeitura, a gestão Doria argumenta que um dos principais motivos para a privatização do Pacaembu é o custo para o município, de R$ 9 milhões ao ano. “Para quem tem um orçamento de R$ 40 bilhões, R$ 9 milhões é absorvível. Mas também esses gastos poderiam ser vistos como um investimento de política pública, assim como acontece em outros equipamentos culturais“, acrescenta o arquiteto e urbanista e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP) Nabil Bonduki, que foi secretário de Cultura da gestão de Fernando Haddad.

Com a construção da arena do Corinthians, em 2010, o estádio do Pacaembu teve redução de jogos em sua agenda. Na avaliação de Nabil, Doria demonstra falta de interesse em explorar o potencial do local, o que evitaria a concessão. “A gestão não estimulou uma política de esportes que poderia render mais uso ao estádio. Ele poderia ser mais aberto a todos, o centro poliesportivo poderia ser mais explorado. A ideia atual da prefeitura é se desfazer de equipamentos municipais. Em vez de encontrar soluções criativas, tem buscado a concessão, o que pode até tirar o caráter público do espaço”, lamenta.

O urbanista lembra que o setor privado buscará apenas obter lucro com a posse do estádio, mas o tombamento de sua estrutura e a proibição de grandes shows são restrições que limitam a rentabilidade.

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Atualmente, o time do Santos é o único que se mostra disposto a utilizar o Pacaembu para bancar alguns jogos na capital paulista durante a temporada, o que dá ao time do litoral um papel importante no futuro do espaço. Somoggi, que apesar de responsabilizar o prefeito pelo atual sucateamento, faz coro com a tese da “incapacidade da gestão pública” e defende a privatização, afirma que a solução poderia ser uma parceria com a administração da cidade.

O único clube que pode se interessar pelo estádio é o Santos, os outros clubes não querem. A prefeitura poderia ter uma equipe de marketing para trazer eventos, mas não parece que esse seja o caminho. Se o Santos não entrar no projeto, seja de reforma ou concessão, não vai adiantar de nada”, conclui 

Em nota, a Secretaria Municipal de Esportes e Lazer de São Paulo repete argumentos para justificar a privatização de patrimônio público e afirma que o estádio não recebeu os investimentos necessários nos últimos anos, o que torna uma reforma necessária. “O foco principal da concessão é justamente modernizar o estádio sem onerar a prefeitura, para que ela possa destinar os recursos públicos para as áreas essenciais como saúde, educação, habitação, assistência social e mobilidade”, diz o texto.

A prefeitura também afirma que o custo de manutenção do Pacaembu no primeiro semestre de 2017 foi de R$ 4.051.371,29, incluindo recursos humanos. Em todo o ano de 2016, somou cerca de R$ 8 milhões. E acrescenta que sua arrecadação foi em média de R$ 2 milhões. “Diante desse cenário, será lançado ainda no mês de março o edital de concessão para consulta pública e, em abril, o edital final de licitação. O objetivo da gestão é que o concessionário mantenha a vocação esportiva do equipamento que é um patrimônio da Cidade de São Paulo, mas necessita de investimentos que o equiparem a outras grandes arenas. Enquanto isso, a administração tem feito a manutenção do estádio. As obras de hidráulica do gramado foram feitas, bem como reformas preventivas em todo o complexo”, conclui.

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