Campo sem lei

CPT aponta escalada da violência contra sem terra e indígenas em 2021

Dados preliminares da Comissão Pastoral da Terra mostram que, entre outros tipos de violência, de janeiro a novembro de 2021, foram registrados 26 assassinatos, número 30% maior em relação a todo o ano anterior, com 20 registros

Arquivo/EBC
Arquivo/EBC
Neste sábado (11), dois integrantes do MST foram executados na Paraíba. Já no domingo anterior (5), outro líder sem-terra foi assassinado em Pernambuco

São Paulo – Relatório parcial divulgado nesta sexta-feira (10) pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) aponta escalada da violência no campo contra trabalhadores sem-terra e povos indígenas. A cada ano, o discurso e as políticas do governo Bolsonaro favoráveis ao garimpo ilegal e ao agronegócio têm encorajado mais e mais ações violentas.

Segundo os dados da CPT, do início de 2021 até o final de agosto, foram registrados 26 assassinatos relacionados a conflitos no campo. O número é 30% maior do que o todo o ano de 2020. Das 26 vítimas de assassinatos, foram oito indígenas, seis sem-terra, três posseiros, três quilombolas, dois assentados, dois pequenos proprietários e duas quebradeiras de coco babaçu.

Enquanto se manteve o número de indígenas e quilombolas assassinados, o de sem-terras triplicou, passou de dois em 2020 para seis em 2021, até o período monitorado. Todos os três quilombolas assassinados em 2021 eram do Maranhão, o estado com o maior número de assassinatos no ano (nove), cerca de um terço do total registrado até o momento.

Violência na Amazônia

Já os sem-terra foram mortos na Amazônia: cinco em Rondônia, todos integrantes da Liga dos Camponeses Pobres, sendo três deles assassinados em um massacre em 13 de agosto, por agentes do Batalhão de Operações Especiais da PM de Rondônia e pela Força de Segurança Nacional, no Acampamento Ademar Ferreira, em Nova Mutum, Porto Velho. Trata-se do único massacre registrado pela CPT até o momento em 2021.

O número de posseiros assassinados passou de um em 2020, para três em 2021, e de assentados, de um para dois no mesmo período. Além disso, houve um aumento de 50% nas agressões, 200% nas ameaças de prisão, 1.100% nas humilhações, 14% na intimidação e 1.044% nas mortes em consequência.

Disputas violentas

Segundo a CPT, o número de famílias envolvidas em disputas pela terra com violência aumentou em 3,55%. As ações de resistência dos povos, comunidades tradicionais e movimentos sociais voltaram a subir, após o descenso do primeiro ano de pandemia. Passou de 519 para 3.418 (aumento de 558,57%) no número de famílias em ocupações e retomadas registrado em 2021, o que já corresponde a mais que o dobro do número total de famílias registrado em todo o ano de 2020 (1.391). Ou seja, o receio de contaminação pela covid-19 não intimidou essas famílias. A ofensiva com violência contra os povos do campo, das águas e das florestas não entrou em quarentena.

Nesta ano, 418 territórios sofreram “Violência Contra Ocupação e a Posse”, dos quais 28% são indígenas, 23% quilombolas, 14% são territórios de posseiros; 13% de sem-terras, entre outros. A “destruição de casas” aumentou 94%, “destruição de pertences” 104%, “expulsão” 153%, “grilagem” 113%, “pistolagem” 118% e “impedimento de acesso às áreas de uso coletivo” aumentou 1.057%. Todos esses dados, de janeiro e agosto, já ultrapassam os dados de todo o ano passado.


A aliança entre Jair Bolsonaro e o agro se confirma. Tanto que fazendeiros, empresários, governo federal e grileiros são as categorias que mais causaram violência no campo, contra a ocupação e a posse de terras por trabalhadores rurais e indígenas. Chama atenção a ação de garimpeiros, que dobrou, passando de 3% em 2020 para 6% em 2021. O salto desta categoria também foi registrado em conflitos pela água, tendo passado de menos de 1%, em 2020, para 5%.

O relatório da CPT aponta ainda que o aumento das manifestações de apoio às lutas, passando de 768 em 2020, com a presença de 365.526 pessoas. Em 2021 foram 1278 desses atos, com 360.781 participantes. Um aumento de 66,40%, muito provavelmente pela participação dos povos do campo,
das florestas e das águas nos atos pró vacinação e contra o governo Bolsonaro. E também pelas ações de solidariedade realizadas pelas famílias assentadas e acampadas, que doaram alimentos à população urbana.