Para sindicato, demora em conter vazamento de gás aponta falha de manutenção e precarização
Segundo entidade, a Cosan – que controla a Comgás – tem precarizado os serviços para reduzir custos, aumentando a rotatividade entre os trabalhadores
Publicado 03/05/2019 - 14h44
São Paulo – Um vazamento de gás causado por uma perfuração de uma obra da Sabesp resultou num incêndio de um apartamento no centro de São Paulo na madrugada desta sexta-feira (3). O morador teve 90% do corpo queimado e foi levado em estado grave para o Hospital das Clinicas. Durante o início da manhã, ainda havia fogo saindo das bocas de lobo na região.
Para os trabalhadores do setor, a demora para conter o vazamento indica falha na manutenção da rede de gás, sob responsabilidade da Comgás. Segundo informações do Sindicato dos Trabalhadores da Produção, Transporte, Instalação e Distribuição de Gás Canalizado do Estado de São Paulo (Sinergia Gasista), 24 válvulas foram fechadas, na região, e ainda foi necessário fazer o esmagamento mecânico da tubulação para conter o vazamento.
De acordo com a presidenta do Sinergia Gasista, Deise Capelozza, a Cosan – controladora da Comgás desde 2012 – vem precarizando o trabalho e aumentando a rotatividade dos funcionários. “O que o sindicato vem observando é uma rotatividade muito grande, com a empresa demitindo trabalhadores mais experientes e outros entrando com menores salários, com treinamento menos efetivo do que tinham antes.” Ela acrescenta que o quadro de funcionários não vem acompanhando a expansão da rede nos últimos anos.
Ela descreve que, anteriormente, obras no subsolo – como a realizada pela Sabesp – eram acompanhadas por técnicos da Comgás. Essa prática tem sido abandonada nos últimos tempos. Em nota a Comgás se limitou a informar que a causa do vazamento havia sido uma perfuração causada pela Sabesp, e, tendo sido avisada às 3h03, sua equipe chegou ao local às 3h15.
Deise diz também que a empresa vem reduzindo a periodicidade da manutenção da rede de gás. A grande quantidade de válvulas fechadas e a não contenção do vazamento até que fosse realizada a intervenção mecânica “comprova que o cadastro da empresa não está atualizado em função dessa manutenção que não é mais feita com a mesma periodicidade”, diz a presidenta do Sinergia Gasista. Ela destaca ainda que os custos com a manutenção da rede estão previstos na tarifa definida pela Agência Reguladora de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo (Arsesp) e paga pelo cidadão.
Segundo o diretor do sindicato Djalma de Oliveira, que também é técnico gasista, para fazer o esmagamento do duto, o trabalhador tem que atuar próximo à fonte de vazamento, em um procedimento mais arriscado. Ele também cobra atuação mais incisiva da Arsesp. “A agência reguladora não pode permitir que a empresa defina sozinha o grau de risco imposto à sociedade em nome da redução de custo nas suas operações.”