Moradores protestam em SP contra falta de informações sobre remoção na zona sul

Casas que ficam próximas à represa Billings, no Grajaú, devem dar lugar a um parque linear

Desocupação deve atingir uma faixa de dois quilômetros de moradias, entre elas a de Sheila, moradora da região há 27 anos (Foto: Paulo Pepe/RBA)

São Paulo – Moradores do Parque Cocaia I, na região do Grajaú, zona sul de São Paulo, vão protestar na manhã desta quarta-feira (20) em frente à sede da Secretaria Municipal de Habitação, no centro de São Paulo, contra a falta de informações sobre a remoção de suas moradias à margem da represa Billings, ao longo da rua Doutor Nuno Guerner de Almeida. A remoção se daria no lado da via que margeia a represa, por cerca de dois quilômetros, atingindo cerca de mil casas. Os moradores afirmam ter sido procurados por funcionários da gestão municipal, comunicando que eles terão de deixar suas casas, recebendo auxílio-moradia no valor de R$ 400 por tempo indeterminado.

Segundo a moradora Sheila Aparecida Pedroso, de 34 anos, cada família visitada recebeu uma justificativa sobre o que vai ser feito no bairro. “Em algumas casas foi dito que será construído um parque linear. Para mim não foi dito nada sobre projeto, disseram que era por conta da proximidade com a represa. A única informação que parece confiável é a do auxílio-aluguel porque todo mundo está preocupado com o valor baixo. Com esse valor, para onde a gente vai?”, questiona. Sheila disse também que os funcionários fizeram fotos da casa e questionaram quanto ao número de cômodos e tempo de residência.

“Queremos respeito e informação sobre o que vai acontecer. Não chegamos aqui ontem e não podemos ser retirados sem sequer saber para onde vamos”, revolta-se Sheila.

Muitas casas já apresentam as marcações, feitas em spray, indicando que já foram visitadas pelos agentes da prefeitura (Foto: Paulo Pepe/RBA)

O temor do despejo não é novo no bairro. Há cerca de três anos, a comunidade Brejinho teve seus moradores removidos, e as casas foram demolidas. O local dá fundo para as casas que agora correm o risco de também ser demolidas. Boa parte das famílias ainda está recebendo auxílio-aluguel, sem perspectiva de ser realocada. Muitas casas na rua Nuno Guerner foram marcadas para remoção na época. Algumas fachadas ainda têm o colante indicativo com o logotipo da prefeitura, mas as informações se perderam com o tempo.

O estoquista Rafael dos Santos Ferreira, de 26 anos, nasceu no bairro e está construindo a quarta casa no terreno da família. “A gente sempre morou aqui. Tem a escola que eu estudei, tem os amigos, não quero sair daqui. Aqui em casa são sete pessoas, todas as moradias estão aqui e trabalhamos muito para construir. Não vamos conseguir fazer tudo isso de novo”, lamenta. As residências visitadas foram marcadas com letras e números feitos com tinta spray. Nenhuma outra informação ou documento foi repassado aos moradores.

Moradias ameaçadas de despejo ficam muito próximas à antiga comunidade Brejinho, desalojada há três anos (Foto: Paulo Pepe)

O problema é semelhante ao vivido por famílias das comunidades Buraco Quente e Comando, no Jardim Aeroporto, removidas em virtude da construção da linha 17 – Ouro do Metrô, tema de reportagem da RBA no fim do ano passado.

O militante da Rede Extremo Sul, Gustavo Moura, chama atenção para o fato de que muitas remoções se deram nos últimos anos, mas o poder público não vem investindo em moradias populares. “O procedimento não é novo, sempre com falta de informação, que prejudica a organização dos moradores. O preocupante é que isso vem sendo feito há algum tempo e nenhuma unidade habitacional foi entregue na região até agora. Vai-se acumulando beneficiários do auxílio-aluguel e para onde vão essas pessoas? Vão ficar para sempre sem casa, vivendo de bolsa?”, questiona.

A Secretaria Municipal de Habitação informou à RBA que no local será construído um parque linear, com canalização do córrego, área de lazer e área verde. “Ao todo serão removidos cerca de mil moradores. Todos os moradores terão unidade habitacional definitiva. Inicialmente, eles serão cadastrados nos programas habitacionais e receberão auxílio-moradia. As informações sobre as remoções podem ser solicitadas nos plantões sociais, no canteiro de obras, que está em fase de implantação.”