Após primeiras ocupações, prefeitura de SP vai se reunir com movimentos sociais

Primeiro encontro está marcado para quarta-feira (9), segundo a Secretaria de Habitação. Porém, lideranças de moradores sem teto desconhecem a agenda e aguardam retomada de negociação para depois do dia 15

Famílias passaram a manhã limpando prédio ocupado na avenida Celso Garcia, na zona leste da cidade (Foto: Marcelo Camargo/ABr)

São Paulo – Após as duas primeiras ocupações do ano em São Paulo – realizadas na madrugada de hoje (7), em prédios municipais dos bairros de Santa Ifigênia, no centro, e Belenzinho, na zona leste – a prefeitura quer marcar reuniões com movimentos de moradia. A primeira, de acordo com a Secretaria de Habitação (Sehab), será na próxima quarta-feira (9). Apesar disso, os grupos desconhecem a agenda.

O chefe de gabinete da Sehab, Chede Antonio, afirmou que a reunião desta quarta contará com a participação de representantes de quatro movimentos de habitação, mas ele não quis especificar quais são. No entanto, lideranças do Movimento de Moradia da Região Central (MMRC), da Unificação das Lutas dos Cortiços (ULC) e do Movimento de Moradia da Cidade de São Paulo (MMC) – à frente das ocupações – desconhecem o agendamento do encontro. 

Os líderes da Central de Movimentos Populares (CMP), do Movimento de Moradia da Região Central (MMRC), da União dos Movimentos de Moradia (UMM) e da Frente de Luta por Moradia aguardam uma reunião com o prefeito Fernando Haddad (PT) e representantes da Secretaria de Habitação para depois do dia 15. O encontro, porém, não teria relação com as ocupações, e daria continuidade a uma primeira reunião, realizada em dezembro com a equipe de transição. 

“Queremos entender as necessidades desses movimentos e reforçar nossa postura de diálogo”, disse Chede Antonio. “Vamos cumprir a meta do prefeito, construir 55 mil moradias de interesse social e atender à população”. Segundo ele, um representante do órgão visitaria as ocupações ainda hoje para conversar com as famílias. Lideranças do movimento informaram que até o meio da tarde ninguém os havia procurado.

“Será um ano de muita luta. A ocupação não terá um período determinado e aconteceu em protesto contra o fato de a Secretaria de Habitação ter sido entregue para o PP (Partido Progressista), de Paulo Maluf”, afirmou Sidnei Euzébio, uma das lideranças da ocupação da Santa Ifigênia. No local estão 200 pessoas. “É um desrespeito com a história dos movimentos de moradia de São Paulo.” Outra reivindicação é o reajuste do auxílio-aluguel dos atuais R$ 300 para R$ 700.

Um dos participantes da ocupação é o costureiro José Severino Zanário, de 59 anos. “Tenho cinco filhos ainda pequenos para criar e muito do que ganho vai para pagar aluguel”, relatou à Agência Brasil. Severino, que participa das atividades do  movimento de moradia há dez anos, disse que não perde as esperanças de conquistar a casa própria. “Só com muita luta a gente vai conseguir. Meu sonho é deixar um lar para os meus filhos.”

Para o ativista Luiz Gonzaga da Silva, o Gegê, líder da ocupação no Belenzinho, o movimento se justifica pela política defasada de moradia dos últimos anos na cidade. “É um protesto contra o poder público municipal como um todo, não contra esta administração. Há oito anos não são construídas moradias sociais. Este prédio (edifício Santo André, localizado na avenida Celso Garcia) esta há mais de cinco anos sem cumprir a função social da propriedade.”

Os militantes passaram a manhã limpando os apartamentos. “Tinha muita poeira, mas debaixo dela está um prédio em ótimas condições. Aqui é muito melhor do que onde eu estou morando hoje. Só a sala daqui é do tamanho de onde eu moro”, relatou a auxiliar de limpeza Márcia Maria da Paixão, de 37 anos, à Agência Brasil. Ela vive em um quarto e sala com o marido e os dois filhos e paga R$ 350 por mês de aluguel. 

A trabalhadora doméstica Maria Aparecida de Oliveira, de 70 anos, tem esperança de morar definitivamente no prédio. “Por mim, não saio mais”, disse à Agência Brasil. Ela chegou ao local durante a madrugada com os dois filhos e em seguida começou a trabalhar na limpeza. “Com muita luta, esse esforço deve valer a pena.”

Gegê afirmou que os militantes não têm prazo para sair do prédio e que isso só ocorrerá quando a prefeitura se comprometer a fazer as reformas solicitadas pelas famílias. De acordo com ele, serão realizadas mais ocupações em março, junho e julho, em prédios da prefeitura, estado e do governo federal, além de propriedades privadas.

A Secretaria Municipal de Habitação informou a Agência Brasil, por nota, que não recebeu nenhum pedido de audiência por parte dos movimentos que fizeram as ocupações.

 

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