Manifestantes ocupam secretaria em São Paulo e pedem fim da violência policial

Ato durou quatro horas. Novo secretário de Segurança Pública se comprometeu a participar de audiência pública com manifestantes

São Paulo – Membros do Comitê contra o Genocídio da Juventude Negra e Periférica de São Paulo ocuparam hoje (22) durante quatros horas a sede da Secretaria Estadual de Justiça de São Paulo. Os manifestantes queriam ser recebidos pela titular da pasta, Eloisa Arruda, e pelo secretário de Segurança Pública, Fernando Grella, que tomou posse esta manhã.

Eloisa estava em Brasilía, mas seu chefe de Gabinete, Roberto Freury, disse que Grella se comprometeu a participar de uma reunião com representantes do grupo. A SSP, no entanto, informou que o novo secretário estava em reunião fechada com a cúpula das policias e que não tinha qualquer informação sobre o ato.

Freury também garantiu que um representante da Secretaria de Justiça irá participar da audiência pública marcada para o dia 6 de dezembro na Assembleia Legislativa. Geraldo Alckmin foi convidado a participar do debate, promovido pela Comissão de Direitos Humanos da Casa. Mas, segundo os membros do comitê, apenas o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, confirmou presença na audiência. O objetivo é que as autoridades apresentem as ações que vêm sendo tomadas para impedir novas mortes e investigar as já registradas.

O comitê pede, entre outras coisas, a desmilitarização da polícia e a responsabilização do governador Geraldo Alckmin e do ex-secretário de segurança pública Antonio Ferreira Pinto por serem complacentes com a violência policial. 

Dois familiares de vítimas da escalada de violência que toma o estado desde junho estavam presentes. O eletricista Daniel Eustáquio de Oliveira, de 50 anos, perdeu o filho na madrugada entre os dias 30 de junho e 1º de julho. Diferentemente da maioria dos casos registrados, Oliveira conseguiu provar que foram policiais que mataram César Dias de Oliveira e seu amigo de infância Ricardo Tavares da Silva, ambos de 20 anos. “Quando soube que ele tinha morrido comecei a chorar e dizer que ‘bandidos safados’ tinham matado meu filho. Aí a atendente me disse que não, que haviam sido policiais porque ele tinha resistido à prisão. Na hora eu parei de chorar e disse que ia provar que meu filho era inocente”, lembra.

Oliveira colheu provas e conseguiu testemunhas que contaram que os dois rapazes foram baleados e que ficaram mais de 40 minutos implorando socorro aos homens que estavam em um carro vermelho. Essas testemunhas também viram a hora em que policiais fardados disseram aos demais que eles haviam “feito merda” e logo em seguida começaram a atirar para cima para simular troca de tiros. “Eu nunca tive medo porque na hora que disseram que os policiais tinham matado meu filho eu morri junto”, afirma.

Vinte e cinco dias depois da morte de César e Ricardo, cinco policiais foram presos. Oliveira descobriu que os policiais atiraram contra as dois jovens porque minutos antes tinham trocado tiros com traficantes que se recusaram a pagar propina. Em torno de 120 tiros foram disparados e era preciso simular uma ocorrência para justificá-los.

Oliveira atribuiu o sucesso de sua busca por justiça a seu “raciocínio lógico” e sua capacidade de ficar calmo nos “momentos extremos”. “A mãe dele ficou muito desesperada, até hoje não se recuperou. Mas imagina quantas esses policiais teriam matado se eu não tivesse feito nada?”

Maria José Cordeiro não teve a mesma sorte. O filho dela, Cássio Luan Cordeiro da Silva, foi morto em 30 de setembro e seu caso também foi registrado como resistência seguida de morte. Ele estava com outro rapaz que chegou a ser preso e hoje consta como testemunha de defesa dos policiais, que alegam que Cássio tentou fugir e por isso foi alvejado. “Mas ele tinha tiros no coração, se tivesse fugido os tiros seriam nas costas, né?”.

Atualmente as investigações estão paradas, mas Maria José, debilitada por um acidente cerebral vascular, diz que vai buscar a justiça. “Meu filho era honesto, trabalhador. Se eu fosse rica estava na Globo, mas como sou pobre estou aqui, na luta. E vou continuar até o fim”.