Passado o segundo turno, Paraisópolis vai de bairro-modelo de Serra a favela-pesadelo de Alckmin

Poucas horas haviam se passado desde a derrota do tucano quando o governo estadual anunciou que da comunidade da zona sul paulistana haviam partido as ordens para os ataques contra policiais

Os moradores cobram políticas sociais para que a favela deixe de ser um cenário para o crime (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

São Paulo – “Conjuntos habitacionais caprichados, com toda a infraestrutura, lazer. Trabalho do Serra, que deu um duro danado para botar ordem na bagunça deixada na habitação pelo PT.” Esta era a favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, até a meia-noite de segunda-feira (29), quando a cidade debatia propostas para o futuro e a comunidade era um modelo que o candidato do PSDB à prefeitura, José Serra, prometia estender para todas as áreas do município.

Serra amargurava as primeiras horas da derrota para Fernando Haddad (PT) quando a Secretaria de Segurança Pública do governador Geraldo Alckmin (PSDB), também tucano, determinou que a Polícia Militar promovesse um cerco à favela – “um bairro, não uma favela”, nas palavras do ex-candidato. “Moradia não é apenas casa construída. Moradia é asfaltamento, água, luz, energia elétrica, escola, saúde. É só olhar o que foi feito em Paraisópolis, o que foi feito em Heliópolis”, vangloriava-se Serra durante o debate eleitoral no SBT, menos de uma semana antes da ocupação policial. 

O retrato pintado por Valdemir Marcondes, da Associação Filhos de Paraisópolis, em entrevista à Rádio Brasil Atual, é um pouco diferente. “A polícia chega sem mandato que permita a entrada nas casas, ela já chega invadindo. Para as mães que deixam as crianças em casa isso é bem complicado”, diz.

Também para o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Antonio Ferreira Pinto, Paraisópolis é diferente do mar de tranquilidade mostrado na propaganda eleitoral. Foi de lá, disse o secretário, que partiram as ordens para os primeiro ataques contra policiais – 88 haviam sido mortos este ano até ontem. Aquela é a área de atuação do traficante Antonio Cesário da Silva, o Piauí, que recentemente deixou a cadeia. Seria ele, segundo o governo estadual, o responsável por ordenar os crimes. De acordo com dados da Secretaria de Segurança, as ocorrências de tráfico de entorpecentes na região do Morumbi, onde fica a favela do Paraisópolis, subiram de duas, em julho, para  quatro, em agosto, número que se repetiu em setembro. No ano passado foram 15 ocorrências no local. Nos primeiros nove meses deste ano, o número já chegou a 17.

“É um momento de dificuldades pelo número de mortes, que impressiona, mas não é crise”, disse Ferreira. “Estamos buscando a motivação desses crimes e não vamos descansar enquanto não encontrarmos todos os autores”, acrescentou. O governo federal diz que ofereceu ajuda antes de a situação se complicar, mas a gestão estadual nega esta versão.

Enquanto isso, os moradores de Paraisópolis deixam claro que preferem ser algo mais que o cenário da propaganda eleitoral. Eles entendem que a comunidade deve receber mais atenção do poder público por meio de políticas sociais, e não policiais, como lembra Marcondes. “As ações pontuais não resolverão os problemas. Precisamos de mais ação social por parte do governo, com mais creches, áreas de lazer, e muitas outras coisas.”