São Paulo usa verba pública para piorar condições de moradia, avalia vereador

Bolsa-aluguel para desabrigados, que deveria ser provisório, foi 'eternizado' pela atual gestão e provocou especulação em torno de imóveis de baixa qualidade

“A população precisa de serviços e equipamentos sociais próximos das moradias”, avalia o vereador eleito Nabil Bonduki (PT).

São Paulo – O poder público precisa ter um programa massivo de produção de unidades habitacionais de interesse social, de acordo com o arquiteto Nabil Bonduki (PT), vereador eleito no município de São Paulo. Nos últimos oito anos a administração municipal produziu cerca de 14 mil unidades de moradia popular, número muito baixo segundo o vereador. Ele explica que apesar do período de crescimento econômico e de expansão do crédito fácil para a habitação, através de programas federais que garantem subsídios, a falta de moradia em São Paulo pode ser considerada histórica.

“O Estatuto da Cidade e o Plano Diretor não são cumpridos no município. Eles estabelecem que quando uma família tem de ser removida de sua casa por algum motivo, ela deve ser atendida com uma nova moradia, e o que acontece é que muitas famílias removidas foram colocadas no chamado bolsa-aluguel, para que pagassem o aluguel de uma habitação provisória”, diz em entrevista à Rádio Brasil Atual. O problema, para Bonduki, é o caráter que o mecanismo adquire. “ Deveria ser algo temporário, e o que vemos é que esta situação é eternizada”.

O vereador lembra que além da especulação imobiliária, outro grande problema atual da cidade é a especulação da moradia popular. Ele explica que o excesso de demanda de moradia de aluguel na periferia, gerado muitas vezes pelo próprio poder público, forma péssimas condições de habitação. “Muitas vezes se observa no mesmo lote quatro, cinco, muitas unidades habitacionais que vão sendo construídas sem respeitar recuos, ventilação, iluminação, e que acabam sendo locadas inclusive com recursos públicos. Estamos usando recursos públicos para gerar precariedade habitacional”, diz.

Ele defende a criação de outro modelo de projeto habitacional. “Precisamos de um modelo que possa combinar comércio e equipamentos sociais para que possamos ter as moradias próximas dos serviços para a população”.

A questão da mobilidade também é apontada bastante problemática em São Paulo. “É fundamental que a cidade reduza as distâncias entre o trabalho, moradia, e os serviços públicos voltados à população”. Para isso, Bonduki acredita que é necessária a criação de empregos em regiões de São Paulo que funcionam como verdadeiras cidades-dormitórios.

A descentralização de equipamentos sociais no município é defendida pelo vereador. “Hoje são perdidas horas na mobilidade urbana, dependendo de onde a pessoa mora. É necessário garantir que em todas as regiões da cidade haja centros culturais, equipamentos de saúde, de educação, e todos os serviços que precisam estar próximos do morador”.  

Ouça aqui a reportagem de Marilu Cabanãs.