Moradores de Paraisópolis, em São Paulo, desaprovam ocupação da comunidade pela PM

Poder público deveria investir em mais políticas sociais, em vez de aumentar efetivo policial, dizem

A Secretaria de Segurança afirma que a ocupação da favela não tem relação com os recentes homicídios na Grande SP(Marcelo Camargo/ABr)

São Paulo – Muitos dos moradores da favela do Paraisópolis, no bairro do Morumbi, na zona oeste paulistana, estão insatisfeitos com a Operação Saturação, deflagrada pelo governo do estado na madrugada da segunda-feira (29) e que levou à comunidade o contingente de 600 policiais militares.

Valdemir Marcondes, da Associação Filhos de Paraisópolis, avalia que a presença maciça de soldados na comunidade não aumenta a sensação de segurança aos moradores, pelo contrário. “A polícia chega sem mandato que permita a entrada nas casas, ela já chega invadindo. Para as mães que deixam as crianças em casa isso é bem complicado”, disse, em entrevista à Rádio Brasil Atual.

O ex-comandante da Guarda Civil Metropolitana de São Paulo e especialista em segurança pública, Maximino Fernandes Filho, afirma que ações como essa atrapalham a rotina dos moradores da favela. “Os trabalhadores são violentados de alguma maneira no seu dia a dia, porque a polícia praticamente toma conta da favela.”

Segundo ele, apesar dos balanços apresentados pelos órgãos de segurança após ações dessa natureza costumarem ter números expressivos de apreensões de drogas, armas e foragidos da justiça, o ônus da presença policial deixado aos moradores é muito alto. “Quando há uma denúncia que realmente merece ser apurada, têm de apurar, mas invadir a favela com tropas de choque e cavalaria me parece um pouco exagerado, porque a rotina dos moradores é totalmente alterada.”

O secretário Estadual  de Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto, esteve na comunidade, mas não falou com os moradores, que dizem não saber a razão da operação. De acordo com o Ferreira Pinto, a Operação Saturação tem como objetivo a prevenção e o combate ao crime e não tem relação com a escalada da violência na capital registrada no mês de outubro. “Não é efetivamente uma resposta, mas sim uma necessidade de um combate cada vez maior e enérgico ao tráfico de entorpecentes”.

Ele ainda afirmou que os crimes que vêm sendo cometidos na Grande São Paulo estão sendo investigados. “Estamos buscando a motivação desses crimes e não vamos descansar enquanto não encontrarmos todos os autores.”

Os moradores de Paraisópolis defendem que a comunidade deve receber mais atenção do poder público por meio de políticas sociais, e não policiais, como lembra Marcondes. “As ações pontuais não resolverão os problemas. Precisamos de mais ação social por parte do governo, com mais creches, áreas de lazer, e muitas outras coisas.”

Segundo dados da Secretaria de Segurança, as ocorrências de tráfico de entorpecentes na região do Morumbi, onde fica a favela do Paraisópolis, subiram de duas, em julho, para  quatro, em agosto, número que se repetiu em setembro. No ano passado foram 15 ocorrências no local. Nos primeiros nove meses deste ano, o número já chegou a 17.

A Operação saturação é feita por policiais do batalhão de choque da Polícia Militar paulista. São 100 carros, dois caminhões, 28 motocicletas da Rocam, oito cães e 60 cavalos, além de um helicóptero Águia. O secretário Ferreira Pinto afirmou que outras ações semelhantes estão programadas para outras partes da cidade.